• Edição 139
  • 14 de agosto de 2008

Saúde e Prevenção

Cuidado na hora do beijo

Luana Freitas

Beijoqueiros de plantão devem ficar atentos: um simples beijo é capaz de trazer complicações mais sérias do que se imagina. Além de doenças mais conhecidas, como o herpes labial, a saliva pode ser responsável pela transmissão do citomegalovírus, agente infeccioso que, embora seja muito comum entre os jovens, geralmente não revela sintomas em pessoas saudáveis.

O citomegalovírus pertence à família Herpesviridae e, assim como os demais organismos virais que fazem parte desse grupo, mesmo após o tratamento, permanece latente no organismo humano, sendo reativado caso o sistema imunológico seja comprometido. Dessa forma, pode causar febre, mal-estar, dores de garganta, cansaço e erupções cutâneas.

Conforme esclarece a professora Maria Isabel Liberto, do departamento de Virologia, do Instituto de Microbiologia Paulo Góes, da UFRJ, mais da metade da população de adultos jovens nos Estados Unidos está contaminada por esse tipo de vírus. "Em indivíduos com idade compreendida entre os 15 e os 44 anos, a contaminação varia entre 71% e 84%", indica a professora.

Maria Isabel alerta ainda que, além do beijo, existem outras formas de contaminação: "Partículas de citomegalovírus são encontradas na saliva, urina e outros fluidos corpóreos como o leite materno, o sêmen e as secreções vaginais, podendo, portanto, ser transmitido nas relações sexuais. A infecção pode, ainda, ser transmitida via transfusão sangüínea ou por transplante de órgãos e tecidos", enfatiza a professora.

Riscos para gestantes e portadores de HIV

Além do contágio pela saliva, por transfusão sanguínea e contato sexual, mulheres grávidas contaminadas também podem passar o vírus para o feto, principalmente durante os três primeiros meses da gestação. Nestes casos, Alberto Chebabo, infectologista do Serviço de Doenças Infecciosas e Parasitárias, do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, explica que existe a possibilidade de a criança nascer com retardo mental, cegueira ou surdez.

“É recomendado que mulheres grávidas que não tenham anticorpos contra o citomegalovírus evitem contato com pessoas que apresentem estado febril. Exames para detecção dos anticorpos contra o citomegalovírus devem ser realizados no pré-concepcional ou no pré-natal, junto com o da Rubéola, Toxoplasmose e HIV”, adverte o médico.

Já para os portadores de HIV, segundo dados do Centers for Disease Control, do serviço de saúde pública dos Estados Unidos, o citomegalovírus é responsável por cerca de 10% das doenças infecciosas oportunistas que afetam os pacientes soropositivos. Estes podem desenvolver problemas graves de acometimento ocular, comprometimento do trato gastrointestinal, com presença de úlceras no esôfago e intestino, dentre outras enfermidades.

Tratamento e prevenção

O tratamento da infecção é feito a partir do uso de analgésicos e antitérmicos para controle da febre. Pacientes imunodeprimidos, isto é, com sistema imunológico deficitário, utilizam uma medicação antiviral específica contra o citomegalovírus, o Ganciclovir, que, apesar de eficaz, apresenta alta toxicidade.

Alberto Chebabo chama atenção para o fato de não existir vacina contra esse tipo de vírus. Dessa forma, é recomendável utilizar sempre preservativos nas relações sexuais, mesmo as mulheres grávidas, e manter distância de indivíduos que manifestem sinais de citomegalovirose.

Pessoas de todas as idades podem contrair a doença, sobretudo crianças em idade escolar, uma vez que a incidência do vírus é grande em creches e escolas. Por apresentar  sintomas pouco específicos, a infecção pode não ser diagnosticada corretamente, sendo confundida com uma virose comum. O ideal é ficar atento, já que o citomegalovírus permanece no organismo.