• Edição 138
  • 7 de agosto de 2008

Por uma boa causa

Dor de cabeça para toda a família

Heryka Cilaberry

Pique-pega, alerta-cor, pique-esconde. São brincadeiras de criança e para desespero das zelosas mamães não há como evitar a correria. O maior problema das aventuras dos pequeninos, entretanto são os acidentes que podem advir do gasto de toda a energia extra que possuem. Mas esses, a gente pode e deve saber como evitar e remediar. Assim, “Medicina Infantil: quando levar ao pronto-socorro?” é o tema da série de reportagens que começa essa semana no Por uma boa causa.

E para abrir essa edição, nada melhor que esclarecer um acidente típico nos lares e escolas: as batidas na cabeça. Normalmente, desesperados pela possibilidade da pancada ter causado algum trauma neurológico em seus filhos, os pais correm ao hospital mais próximo. Mas nem sempre todo esse cuidado é necessário, como esclarece Laís de Carvalho Pires, neuropediatra do Instituto de Puericultura e Pediatria Margatão Gesteira (IPPMG/UFRJ):

- Se a criança caiu, chorou, mas está orientada, apresentando apenas um galo na cabeça, não há necessidade de levá-la ao pronto-socorro. Aconselho procurar um médico, somente se ela ficar desacordada após o tombo e ao recobrar a consciência apresentar sonolência, vômitos, desorientação (não conseguindo responder a perguntas simples), sinais de estrabismo (vesga) ou mesmo, algum déficit na movimentação. Deve-se atentar sempre para a posição em que a criança caiu, mobilizando-a o mínimo possível, pois se ela bateu com a região da coluna, pode deslocar uma vértebra na mobilização. Feito isso, deve-se manté-la em observação.

A idade perigosa

Quedas podem acontecer a pessoas de todas as idades, mas para as crianças os tombos são muito mais perigosos e freqüentes. “Quanto mais jovem a criança, mais perigosas são as conseqüências de uma pancada na cabeça, pois quando são pequenas, as estruturas dos ossos do crânio ainda não estão completamente formadas e a possibilidade de haver um sangramento intracraniano é maior. Até um ano de idade, provavelmente é o período mais perigoso” alerta a neuropediatra.

Os acidentes mais usuais acontecem no trocador ou na cama. Muitas vezes em decorrência da desatenção dos pais, que por não perceberem que a criança já está rolando (o que costuma acontecer por volta dos quatro meses), não tomam os devidos cuidados, permitindo que ela acabe caindo e, consequentemente, batendo a cabeça no chão.

Como identificar

Ainda que grande parte dos acidentes ocorra em casa, a maior preocupação da família é quando a queda acontece longe dos olhos atenciosos dos parentes, muitas vezes na escola ou na rua, e a criança ainda é pequena demais para relatar o acontecido ou se queixar de dor. Doutora Laís dá algumas dicas para que os familiares possam perceber quando a criança foi vítima de uma pancada na cabeça:

- Pode haver sintomas externos: uma vermelhidão ou um edema, o que popularmente chamamos de galo. Normalmente há um hematoma, já que houve a ruptura de um vasinho debaixo da pele. Ele costuma assustar os pais, mas não é problemático. A gente recomenda passar gelo, para não ficar com aparência feia. Há outros sintomas, como a sonolência, que acontece quando a criança desejar dormir em um horário fora do habitual, às vezes até acorda, mas abre pouco os olhos. Também pode haver a ocorrência de vômitos em forma de jatos e, algumas vezes, alteração da mobilidade dos olhos, parecendo estrábica, esses sim, são preocupante.

O que fazer?

Acontecido o acidente, a correria também começa. Sem saber o que fazer e como agir, recorre-se a todo tipo de medidas, inclusive a algumas famosas orientações passadas de geração para geração, como a de não deixar a criança dormir após a bater a cabeça. “Existe um pouco de mito nessa história, pois digamos que a criança tenha caído à noite, na hora em que ela está habituada a se deitar. Se ela já está bem, não se deve atrapalhar o sono dela. A orientação é deixa-la descansar, mas de meia em meia hora tentar acordá-la, para ver se ela se mexe, se abre o olho, se tem reflexos, ou seja, tem uma reação normal. Agora, se ela caiu em um horário fora do sono, e está sonolenta, talvez seja mais seguro para esses pais observarem a criança acordada”, desmistifica a neuropediatra.

Um conselho importante aos pais é manter sempre a calma. “É uma urgência relativa, pois mesmo que a criança sangre, o sangramento vai aumentando aos poucos, então ela pode ser levada tranquilamente em uma ou até duas horas ao hospital (também o período que ela deve ser observada). A não ser que a criança faça uma crise convulsiva depois da batida, nesse caso, ela deve ser levada imediatamente”, tranqüiliza Laís de Carvalho.