• Edição 137
  • 31 de julho de 2008

Por uma boa causa

Como transformar lixo em energia elétrica

Cília Monteiro

Para finalizar a série deste mês sobre meio ambiente, o Por uma boa causa desta semana traz como tema o Centro Tecnológico Usinaverde, que desenvolveu um projeto para a geração de energia elétrica através da incineração de lixo. A Usinaverde foi criada há cinco anos dentro da Fundação BioRio, como pólo de desenvolvimento do Meio Ambiente da UFRJ.

Jorge Nascimento, gerente de operações da Usinaverde, falou sobre o projeto: “Começamos com a idéia de desenvolver uma tecnologia para a geração de energia que fosse tão eficaz quanto as que já existiam no exterior, porém a um custo bem menor”, relatou Jorge.

De acordo com o gerente, os dois primeiros anos foram para o aprendizado da queima do lixo e da purificação dos gases. Depois de vários testes, a Feema liberou a licença de operação. “Com isso, entramos numa segunda fase, que foi a implantação do sistema de aproveitamento da energia gerada pela incineração do lixo. Já estamos há dois anos e meio produzindo energia”, constata Nascimento.

– Como aqui é um centro tecnológico, precisávamos ficar muito tempo parados para a manutenção das máquinas, para que pudéssemos desenvolver os mecanismos. No início, não havia uma constância na energia que era gerada. Então, optamos por não fornecer a nenhum lugar além de nosso estabelecimento. Por isso, compramos uma turbina bem mais barata, que tornou o projeto mais econômico – explica Jorge.

Vantagens do projeto

O metano é um gás nocivo ao meio ambiente e a matéria orgânica em decomposição gera este gás. “Ao queimarmos o lixo, não deixamos que isso ocorra. O metano é cerca de 21 a 23 vezes mais prejudicial do que o gás carbônico em relação ao efeito estufa, então precisamos evitar essa poluição ao meio ambiente. Com a queima, apesar de se gerar gás carbônico, não há geração de metano”, esclarece Nascimento.

A queima do lixo, além de beneficiar o meio ambiente, elimina as bactérias que estavam no material. “O lixo que coletamos da Comlurb, caso não coletássemos, iria para um aterro e contaminaria o solo. Em vez de ir para lá, ele é incinerado. Isto evita a poluição dos solos e lençóis freáticos, a poluição do meio ambiente pelo metano e, também, evita a proliferação de animais transmissores de doenças, como ratos e baratas” afirma Jorge.

Cinzas para a fabricação de tijolos

No sistema da Usinaverde, o resíduo restante, as cinzas, corresponde a cerca de cinco a dez por cento no máximo do lixo inicial, no quesito peso. De acordo com Jorge Nascimento, é um material totalmente inerte. “Recebemos atualmente aqui cerca de seis caminhões de lixo por dia, que se transformam em meia caçamba de cinzas. A pior situação é aterrar estas cinzas. Um aterro que teria duração útil de dez anos vai passar a durar 100, sem que haja contaminação dos solos. Além disso, também é possível fabricar tijolos utilizando as cinzas, que podem ser aplicadas na construção de casas populares”, explica o gerente.

– Já acabamos de desenvolver a tecnologia da produção de energia e estamos vendendo para o Brasil e o exterior – afirma Jorge. As unidades possuem o padrão estabelecido de 150 toneladas de lixo por dia, das quais 30 são aproveitadas para a reciclagem. Dentre esse material, o alumínio, metais em geral, papel e plástico. As 120 toneladas restantes são incineradas para gerar em torno de 3,6 megawatts.

O lixo gerado por uma cidade é capaz de produzir energia elétrica para atender um terço de sua população. “Infelizmente, hoje estão enterrando e aterrando esse lixo, gerando problemas ao meio ambiente e à população”, conclui Jorge Nascimento.

A usina e a universidade

A usina se encontra dentro do campus da UFRJ, e, inicialmente, possuía um acordo com o Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (COPPE), que ajudou no cálculo e no desenvolvimento de alguns modelos. Um exemplo é o modelo matemático que foi utilizado no sistema de purificação de gases. “Além disso, também utilizamos mão-de-obra da universidade quando queremos fazer algum teste, alguma pesquisa ou utilizar laboratórios”, afirma Jorge.

A Usinaverde freqüentemente recebe visitas de alunos e professores da UFRJ. Segundo Jorge Nascimento, é uma troca de conhecimentos bastante vantajosa tanto para a usina quanto para a universidade.