• Edição 136
  • 24 de julho de 2008

Teses

Mecanismos moleculares contribuem para virulência do Trypanosoma Cruzi


Priscila Biancovilli

No dia 25 de julho, sexta-feira, às 13 horas, o aluno de doutorado Leonardo Freire de Lima, do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho (IBCCF), da UFRJ defende a tese de doutorado “Mecanismos moleculares que contribuem para que a trans-sialidase do Trypanosoma cruzi atue como um fator de virulência durante a infecção chagásica experimental”. As orientadoras são as professoras Lúcia Mendonça Previato e Adriane Regina Todeschini, do IBCCF. A defesa acontece na sala G1-022, bloco G do prédio do Centro de Ciências da Saúde, na Ilha da Cidade Universitária, Fundão.

O Trypanosoma cruzi possui em sua superfície proteínas pertencentes à família das trans-sialidases (TS). Alguns membros dessa família são enzimaticamente ativos (TSa), são capazes de hidrolisar ou preferencialmente transferir unidades de α2-3- ácido siálico de glicoconjugados do hospedeiro para moléculas do tipo mucina, presentes na superfície do parasita, enquanto membros enzimaticamente inativos (TSi) apresentam apenas propriedades lectínicas. TSa tem sido implicada na patogênese da doença de Chagas, uma vez que sua administração para camundongos não infectados é capaz de induzir eventos característicos da fase aguda da doença de Chagas, como  apoptose de células T maturas e imaturas, trombocitopenia, ativação de células T e B e marcante atrofia tímica, além de aumentar a parasitemia e proporções de mortalidade em camundongos infectados. Entretanto, possíveis mecanismos moleculares responsáveis por estes fenômenos ainda são objetos de estudo. Neste trabalho, estudou-se os efeitos da TSi e TSa sobre células T durante a infecção pelo T. cruzi. Em concordância, com o aumento da parasitemia observou-se um aumento do número de ninhos de amastigota e DNA parasitário no tecido cardíaco de camundongos infectados e tratados com TSa, quando comparado aos outros grupos experimentais.

Todavia, quando TSi foi co-injetada com TSa, os efeitos biológicos desencadeados pela atividade enzimática foram abolidos, confirmando que a atividade enzimática desempenhada por proteínas pertencentes a família TS atuam como um fator de virulência durante a infecção pelo T. cruzi. Análises por cirometria de fluxo e imunohistoquímica mostraram redução no número de ambas as populações de células T no tecido cardíaco de camundongos infectados e tratados com TSi. Em concordância, houve uma redução significativa da atividade creatina cinase no soro de camundongos tratados com TSi. Nenhuma diferença foi observada nesse quesito entre camundongos infectados e tratados com PBS e camundongos infectados e tratados com TSa.

Esses resultados indicam que, embora TSi e TSa apresentem sítios conservados de ligação para açúcares, esses moléculas podem desempenhar distintas funções durante a patogênese da doença de Chagas experimental. Durante a ativação das células T, os clones sofrem uma remodelagem de superfície celular e suas glicoproteínas passam a apresentar-se livres de ácido siálico, tornando-se PNAhigh. Entretanto, durante os experimentos, observou-se que células T CD8+ ativadas de camundongos infectados com T. cruzi e tratados com TSa  tornam-se PNAlow, glicofenótipo encontrado em células T não ativadas. Aqui, é demonstrado pela primeira vez, que esse evento de re-sialilação bloqueia interações intermoleculares entre células alvo e células T efetoras in vitro e in vivo, comprometendo respostas imunes desempenhadas por células T CD8+ antígeno específicas durante a infecção pelo Tripanossoma cruzi.  Interessantemente, células T CD8+ de camundongos infectados e tratados com TSi apresentaram alta positividade para PNA, indicando que a TSi poderia competir in vivo com a TSa nativa do parasita. Em conjunto, especulou-se que esse evento natural de re-sialilação que ocorre durante a fase aguda da doença de Chagas possa ser um importante mecanismo de evasão desenvolvido pelo T. cruzi para mascarar respostas imunes específicas do hospedeiro e assegurar a sobrevivência do parasita no indivíduo infectado.