• Edição 136
  • 24 de julho de 2008

Por uma boa causa

Pesticidas e herbicidas requerem cuidados especiais

Priscila Biancovilli

O uso de herbicidas e pesticidas no controle de pragas em lavouras rende discussões polêmicas em diversas instâncias. Dentro dos sistemas agrícolas, os pesticidas são os principais responsáveis pela contaminação do solo e da água. Em fevereiro de 2008, a Organização Mundial de Saúde reclassificou o herbicida patenteado pela transnacional Monsanto de “produto que não oferece perigo” para “altamente tóxico”, pelos potenciais efeitos cancerígenos e de contaminação em solo e em cultivos.

O crescimento econômico de nações como Índia, China e Brasil demandam um constante aumento na eficiência da produção agrícola, de alimentos e biocombustíveis. Daí a importância crucial dos herbicidas e pesticidas, como forma de controle de pragas e ervas daninhas. Porém, quando o uso destas substâncias foge do adequado, tem-se um problema grave. “São vários os possíveis impactos do uso de pesticidas e herbicidas na lavoura, muitos deles positivos, aliás. Apenas alguns deles se acumulam na terra e podem chegar à água, mas obviamente existem aqueles que oferecem este risco. Neste caso, os impactos negativos desta poluição, especialmente no ser humano, são percebidos apenas no longo prazo. Este material pode afetar as ligações entre os neurônios, comprometendo a saúde cerebral, além de causar diversos tipos de câncer, anormalidades sexuais, obesidade e distúrbios metabólicos”, alerta Andrew Macrae, professor do Laboratório de Biotecnologia Sustentável e Bioinformática Microbiana, do Instituto de Microbiologia Professor Paulo de Góes (IMPPG) da UFRJ.

As legislações relacionadas a agrotóxicos e agroquímicos prevêem várias medidas para evitar impactos negativos no ambiente. Existem dosagens e formas de manipulação estabelecidas em lei, de forma a evitar conseqüências negativas. “Muitas vezes, acidentes surgem por despreparo de quem está manipulando ou mesmo por interesses comerciais, já que existe um fator econômico muito forte vinculado a esta questão”, comenta Ida Carolina Neves Direito, aluna de doutorado do laboratório.

Alternativas

O herbicida 2,4-Diclorofenol, estudado no laboratório, é seletivo para dicotiledôneas. Esta substância é bastante comum, por exemplo, em canaviais, pois impede o crescimento de plantas daninhas que prejudicam a produção. Os vegetais sempre competem por nutrientes, luz e água. “Por isso, tenta-se eliminar ao máximo outras plantas que não são de seu interesse naquele momento, para conseguir produtividade. Sob o aspecto da produção, os herbicidas são de grande importância”, explica a estudante.

Uma das formas de minimizar este impacto negativo é eliminar completamente a utilização dos herbicidas, como já acontece na agricultura orgânica. Porém, a monocultura em grandes espaços (como um enorme canavial, por exemplo), ainda não se tornou viável dentro deste tipo de produção. “A plantação orgânica atualmente só é possível em pequenos espaços, e com produções diversificadas (laranja, café, algodão, entre outros). Desta forma consegue-se alcançar um equilíbrio hipotético no cultivo. O que é praga pra um pode não ser para o outro, e assim ocorre um ‘equilíbrio entre as culturas’”, continua.

Microrganismos

– Um dos trabalhos que nosso laboratório desenvolve é o de buscar microrganismos que naturalmente degradem os pesticidas no solo, tornando-os menos tóxicos. A idéia principal é impedir que este material atinja a água. Na verdade, a água que passa pelas estações de tratamento não deveria conter nenhum tipo de substância tóxica, mas caso alguém beba água de uma cachoeira ou riacho, corre o risco de ingerir pequenas concentrações de venenos que se acumulam no organismo –, explica Macrae.

Caso se aplique um pesticida em grande quantidade em um ambiente, haverá uma seleção dos microrganismos mais resistentes a ele, que sobreviverão às primeiras doses, se multiplicarão e não mais serão afetados pelo veneno. De tempos em tempos, sempre será necessário alterar a composição dos pesticidas ou herbicidas.

– Na minha opinião, este debate é muito mais econômico que científico. Hoje em dia, é muito mais eficiente e lucrativo utilizar herbicidas e pesticidas nas lavouras, e não há grandes interesses políticos para mudar esta situação –, conclui o professor.