• Edição 136
  • 24 de julho de 2008

Notícias da Semana

A biodiversidade brasileira em produtos naturais

Priscilla Prestes- AgN/CT

O Instituto de Química (IQ) da UFRJ realizou no auditório do Centro de Ciências Matemáticas e da Natureza (CCMN) sua 1ª Primeira Escola Temática Química dos Produtos Naturais, entre os dias 21 e 23 de julho. O evento foi organizado pelos professores Ângelo da Cunha Pinto e Cláudia Resende juntamente com alunos de mestrado, doutorado e de iniciação científica do IQ.

A Escola abordou a aliança entre os conhecimentos de Química e Farmácia, além de chamar atenção para a biodiversidade do território brasileiro e sua potencial utilidade na produção de fitofármacos e fitoterápicos.

Segundo o professor Ângelo da Cunha, os fitofármacos podem ser compreendidos como substâncias retiradas da planta capazes de desempenhar atividade medicinal. Já os fitoterápicos seriam a planta em si, por exemplo, a raiz ou o caule moído, capaz desempenhar essa função medicinal, terapêutica ou curativa.

A fitoterapia constitui uma forma de terapia medicinal que vem crescendo notadamente nestes últimos anos, ao ponto de, atualmente, o mercado mundial de fitoterápicos girar em torno de U$ 28 bilhões. No Brasil esse número aproxima-se dos U$ 500 milhões.

– O Brasil detém, aproximadamente, um terço da flora mundial, incluída a maior floresta tropical e úmida do planeta, a Amazônica. Além de sua biodiversidade terrestre, há de se dar importância à amplitude de seus ecossistemas aquáticos, devido a grande extensão de seu litoral. Neste contexto de ampla escala de produtos naturais, era de se esperar o desenvolvimento de importantes pesquisas em farmacologia. No entanto, o país não exerce significativo destaque no mercado mundial, ficando, inclusive, atrás de países menos desenvolvidos tecnologicamente – declara Ângelo.

Segundo ele, o Brasil ocupa um por cento em termos de fitoterápicos do mundo. “O que se comercializa aqui são plantas, principalmente vindas da China e Índia. Nós comercializamos somente três plantas brasileiras como fitoterápicos, uma é o guaraná, utilizado como estimulante, a espinheira santa, no combate à úlcera, e a outra é o guaco, indicado no tratamento da tosse”, exemplificou.

Se uma planta medicinal é utilizada por determinada etnia há dezenas de gerações significa ou que sua toxidade é baixa ou é nula, caso contrário as pessoas não a usariam. Segundo o professor, essa é a vantagem de estudar produtos naturais, torna-se muito mais fácil chegar a determinado fármaco através do histórico de uso das plantas, do que, por exemplo, através da síntese química.

Para um fitoterápico ser comercializado, o mesmo deve ter um histórico de pelo menos 30 anos de uso. A retirada das substâncias da estrutura ao isolamento de uma planta ou de um organismo marinho, até chegar ao medicamento leva na faixa de 12 anos. O custo é acima de 500 milhões de dólares, alguns pesquisadores cogitam até 1 bilhão de dólares. Estima-se que somente uma a cada dez mil substâncias que já apresentaram atividade medicinal, chegue às prateleiras.

A 1ª Escola Temática em Química também veio desmistificar a imagem dos fitoterápicos veiculadas na grande mídia. Segundo Ângelo da Cunha Pinto, nem todos os medicamentos à base de produtos naturais no mercado fazem bem à saúde. “Há plantas altamente tóxicas e letais. Por isso deve-se atrelar importância à aliança entre o químico e o farmacólogo, que ao trabalharem juntos, avaliam a capacidade do extrato de determinada planta de desempenhar a atividade pela qual é reconhecida popularmente”, afirmou.

Produtos naturais

Debater sobre o tema dos produtos naturais foi a forma encontrada pelos professores de resgatar a importância que o Rio de Janeiro exerceu nessa área. Os primeiros estudos químicos brasileiros sobre plantas foram realizados na cidade do Rio por um farmacêutico alemão chamado Theodoro Peckolt. Neste tempo, o Rio já correspondeu ao pólo nacional farmacológico. No início do século XX, era abrigo do Instituto de Química Agrícola, onde foram desenvolvidos estudos para produtos naturais, atividade que seria interrompida, em 1962, no governo de João Goulart, por não viabilizar essas pesquisas como prioritárias.  “Com o fechamento do Instituto, houve uma diáspora dos profissionais pelo Brasil, principalmente para São Paulo. Hoje, diria que SP tem 50% da comunidade científica em estudos de produtos naturais. Essa escola resgata a tradição do Rio nessa área”, afirmou Ângelo.