• Edição 135
  • 17 de julho de 2008

Ciência e Vida

Luz: o ingrediente que faltava na luta contra a acne

Terapia fotodinâmica pode ser opção para tratar a dermatose


Marcello Henrique Corrêa

Desde que foi aprovada na Europa, em 2001, e no Brasil, em 2006, uma nova técnica vem mudando a história do tratamento de doenças de pele. A chamada terapia fotodinâmica – criada na década de 70 nos Estados Unidos, unindo produtos químicos e luz – cresce cada vez mais como uma opção segura e eficaz no arsenal dos dermatologistas. Quando foi criado o método se voltava principalmente para o tratamento do câncer de pele; hoje a terapia já constitui uma opção menos nociva para combater a doença.

Durante o desenvolvimento de pesquisas no Brasil e no mundo, novas aplicações foram identificadas. Entre elas, destacam-se o efeito rejuvenescedor e a atuação sobre a acne – dermatose que afeta cerca de 90% dos jovens. Combatê-la é a mais nova proposta de um grupo de pesquisadores dos departamentos de Dermatologia da UFRJ e da Universidade Federal Fluminense (UFF). Maria Cláudia Issa, integrante do grupo, que conclui esse ano seu doutorado pelo Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF/UFRJ), explica como essa nova possibilidade foi identificada.

— Começou a ser observado que a pele ao redor da lesão do câncer apresentava características diferentes: ficava mais clara, tinha melhoria nos casos de rugas, se recuperava mais bonita do que era antes. A partir disso, começamos a experimentar a técnica na ausência de câncer, em casos de fotoenvelhecimento, em que a pele é danificada pelo sol —, conta a médica. O estudo em casos desse tipo foi o primeiro trabalho do grupo, que hoje estuda os casos de acne.

Como funciona

A terapia fotodinâmica se dá por meio da associação entre um produto químico de uso tópico (sobre a pele) e a aplicação de uma luz específica, que reage com a substância, destruindo células malignas, no caso do câncer. A viabilidade de se aplicar a técnica na acne surgiu quando o grupo percebeu que a substância utilizada no creme aplicado era semelhante a uma produzida pela bactéria responsável pelas lesões. “A bactéria presente em um dos mecanismos de ação da acne, a Propionibacterium acnes, produz uma substância que se assemelha ao metil aminolevulinato, presente no creme utilizado. Em contato com a luz certa (próxima da cor vermelha), essa substância provoca a destruição da bactéria”, detalha Maria Cláudia. Apesar da presença de uma substância semelhante a do medicamento no organismo da bactéria, a dermatologista explica que a aplicação do creme potencializa os resultados.

Primeiros testes

Aliás, encontrar os resultados ideais tem sido a tarefa do grupo ultimamente. Para isso, é necessário, além de associar a substância com a luz certa, encontrar o tempo de exposição perfeito. “Para acne, a literatura especializada aponta valores, que variam de meia hora até três horas, dependendo do autor. Não se sabe exatamente o melhor”, comenta a médica. Para isso, algumas experiências já foram realizadas no Hospital Universitário Antônio Pedro (HUAP), da UFF.

O grupo avaliou alguns pacientes do Hospital e testou três tempos: uma, duas e três horas de exposição à luz. “Todos melhoraram e as lesões inflamatórias secaram. Contudo, notamos que três horas foi um tempo excessivo. Nesses casos, os pacientes relataram mais ardência e dor”, conta a especialista. “A princípio, vamos tentar um tempo menor. Provavelmente, entre uma e duas horas seria ideal, apesar de exigir mais sessões”, pondera. Segundo ela, para esse tempo, o tratamento deve exigir sessões quinzenais ou mensais.

Para Maria Cláudia, o método, apesar de ainda ser muito caro, oferece vantagens em relação aos meios convencionais de acabar com a acne, como a comodidade de não precisar aplicar um creme todos os dias. Além disso, é uma alternativa para os pacientes que apresentam problemas sistêmicos e não podem fazer uso de substâncias por via oral, como a isotretinoína – atualmente a única solução que propõe uma cura definitiva para acne.

Agora, com os primeiros caminhos sendo apontados, o grupo começa uma nova fase de testes, a ser realizada no Hospital Universitário da UFRJ. A equipe deve recrutar 30 voluntários. Para participar, é preciso ser homem, ter entre 18 e 24 anos e ter a pele branca. A dermatologista esclarece que isso não significa a inviabilidade do tratamento para a pele negra; a opção foi feita para facilitar a observação de possíveis manchas ou outros efeitos colaterais.