• Edição 133
  • 03 de julho de 2008

Argumento

UFRJ aprova curso de Terapia Ocupacional

Marcello Henrique Corrêa

Os vestibulandos de 2009 contam com mais uma opção de carreira na UFRJ. Trata-se do curso de Terapia Ocupacional aprovado pelo Conselho Universitário (Consuni) do último dia 26 de junho, que oferece inicialmente 30 vagas para o primeiro semestre. Para a realização do projeto, uma equipe multidisciplinar se mobilizou durante a criação da ementa e elaboração dos detalhes das aulas. Especialistas das áreas de Fisioterapia, Fonoaudiologia e Educação Física foram convidados a participar da preparação do primeiro curso de Terapia Ocupacional (TO) público do Rio de Janeiro.

A Faculdade de Medicina vai precisar se adaptar às novas demandas, como a necessidade de professores especializados em TO. Como a UFRJ não tinha esse curso, não existem docentes dessa área na Casa, exceto os funcionários das unidades de saúde, lotados principalmente no Instituto de Psiquiatria (IPUB), conforme explica Marcus Vinícius Machado, professor da Escola de Educação Física e Desportos, provável coordenador do novo curso. Segundo ele, que é graduado em terapia ocupacional, estão previstos concursos públicos para suprir essa demanda específica. Entretanto, as disciplinas de base poderão ser ministradas pelos professores das áreas de saúde.

As aulas devem ter uma carga significativa de experiências práticas, o que Marcus considera fundamental. “O curso deve cumprir 1.005 horas, para se adequar às normas da Federação Mundial. O estágio começa a partir do sexto período e no sétimo e oitavo, o estudante só terá aulas práticas”, detalha o professor. “O aluno precisa estagiar em três grandes áreas: reabilitação física, saúde mental e na área social. Nessa última, o estagiário deverá trabalhar com população de rua, comunidades carentes ou presidiários”, completa.

O que faz o terapeuta ocupacional

Apesar de se aproximarem em muitos aspectos, Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional são especialidades distintas e complementares. “Estudam o movimento humano. Contudo, enquanto a Educação Física, por exemplo, se volta para a parte de esporte e lazer, a Terapia Ocupacional trabalha no contexto cotidiano, com atividades simples, como escovar os dentes, se alimentar ou tomar banho”, explica o professor. De acordo com ele, a função desse profissional é ajudar o indivíduo com funções limitadas a retomar suas atividades de maneira independente.

Para o professor, a nova especialidade vai ajudar a inserir a UFRJ no contexto da medicina contemporânea, de acordo com o conceito atualizado de saúde. “Cada vez mais se percebe que a simples relação entre saúde e doença já não dá conta do conceito de saúde, que envolve vários elementos: condições de moradia, lazer e atividades gratificantes”, comenta Marcus Machado. “O terapeuta ocupacional não trabalha com os elementos tradicionais da medicina e sim da cultura humana. Assim como a Fonoaudiologia trabalha com a fala e a Musicoterapia com o som, a Terapia Ocupacional lida com as atividades cotidianas. Quando elementos da cultura são deslocados para a Medicina, é muito provável que ocorra uma modificação nesse conceito do que é Medicina”, complementa o terapeuta.

Além disso, o caráter transdisciplinar é um fato marcante desde a origem da profissão (que envolve elementos da psiquiatria e da arte, por exemplo) e vai estar presente no novo curso da UFRJ. “A grande dificuldade de elaborar um curso de TO é que a profissão está relacionada intimamente tanto com as Ciências Humanas, quanto às áreas de Artes e Medicina”, afirma o professor. “Por isso, é obrigatório que o terapeuta ocupacional tenha uma carga horária grande em Ciências Humanas. Esse profissional precisa compreender diversos aspectos da cultura e da sociedade de modo geral”, completa Machado.

Mercado de trabalho

Segundo Marcus Machado, há uma forte demanda por terapeutas ocupacionais. No último concurso para esse cargo no Rio de Janeiro, foram abertas cerca de 340 vagas e menos da metade está preenchida. De acordo com o professor, além dos postos de trabalho do Sistema Único de Saúde (SUS), há a previsão para a criação de um Centro de Medicina Funcional, projeto maior da UFRJ que envolve a criação do novo curso.

Esse setor da Medicina está relacionado a três grandes áreas: Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional. “Com a criação desse novo curso, uma unidade de saúde funcional seria mais viável e muito importante para consolidação do conceito de reabilitação transdisciplinar, além de fomentar pesquisas, constituindo um pólo de referência na área”, idealiza o professor, lembrando que o projeto está em andamento.

Entre a comissão que elaborou o curso, o clima não poderia ser mais otimista. Para Marcus Machado, trata-se de um passo histórico. “É uma profissão que existe há mais de 30 anos e estava na hora de uma instituição pública como a UFRJ oferecer esse tipo de curso. Isso vem trazer uma mudança para a profissão e para o Brasil, em termos de saúde. A expectativa é a melhor possível”, finaliza.