• Edição 133
  • 03 de julho de 2008

Teses

Consumo de Baleia Piloto expõe mercúrio e selênio à população das ilhas Faroe


Geralda Alves

Mariana Badini da Costa defende sua dissertação de mestrado amanhã, (4/7)  às 15h na sala G1-009 do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho (ICCBF/UFRJ), na ilha da Cidade Universitária, no campus do Fundão. A tese, intitulada “Mercúrio e selênio em fígado e rim de Globicephala melas (Lesson, 1828) oriundas das Ilhas Faroe, Atlântico Norte” teve a orientação do professor Olaf Malm (IBCCF/UFRJ) e o objetivo de analisar mercúrio total (HgT), mercúrio orgânico (HgOrg) e  selênio total (SeT), no fígado (35) e nos rins(31),  de Baleia Piloto, um mamífero marinho capturado nas ilhas Faroe (Atlântico Norte).

O mercúrio, após uma digestão ácida a quente em sistema aberto, foi determinado por Espectrometria de Absorção Atômica (vapor frio), com borohidreto de sódio como agente redutor. Para selênio foi realizada uma digestão ácida em sistema fechado e as concentrações foram determinadas por Espectrometria de Absorção Atômica, com forno grafite com plataforma PIN, utilizando Pd como modificador de matriz. As concentrações de mercúrio total (em peso úmido) no fígado variaram de 1,13 a 152,42 μg/g e nos rins variou de 0,04 a 13,40 μg/g. O mercúrio orgânico variou de 0,13 a 3,77 μg/g no fígado e de 0,04 a 1,23 μg/g nos rins, respectivamente. As concentrações de selênio total variaram de 0,78 a 176,83 μg/g no fígado e de 0,26 para 19,40 μg/g nos rins.

Para todas as espécies químicas analisadas, o fígado parece ser o órgão preferencial para a acumulação. Houve uma correlação significativa e positiva entre a concentração molar do SeT e HgT no fígado (p = 0,001) e rim (p = 0,008). Este padrão entre HgT e SeT sugere um mecanismo de destoxificação através da formação de um complexo Hg-Se, onde indivíduos adultos apresentam uma melhor correlação quando comparados com os indivíduos imaturos, sugerindo um mecanismo mais ativo em indivíduos com idade mais avançada e, portanto, com as maiores concentrações de Hg.


Cultura de tecidos e metabólitos especiais em “colônia” e estudos preliminares de atividade biológica


Priscila Biancovilli

Na próxima quarta-feira, 9 de julho, às 14h, a aluna Cristina Pimentel Victorio, do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho (IBCCF), defende sua tese de doutorado no bloco G, 1º andar, sala 22, do prédio do Centro de Ciências da Saúde, na Ilha da Cidade Universitária. A tese, intitulada “Cultura de Tecidos e Metabólitos Especiais em ‘Colônia’ (Alpinia zerumbet ´Pers.` Burtt e Smith) e A. purpurata (Vieill) K. Schum e Estudos Preliminares de Atividade Biológica”, tem orientação do professor Celso Luiz Salgueiro Lage, do IBCCF, e co-orientação de Ricardo Machado Kuster, do Núcleo de Pesquisas de Produtos Naturais (NPPN).

O uso de plantas medicinais é freqüente no dia-a-dia do brasileiro. Estudos integrados das técnicas biotecnológicas, fitoquímica e da atividade biológica constitui uma abordagem multidisciplinar que contribui para o conhecimento científico e uso seguro das plantas. A espécie Alpinia zerumbet (colônia) é bastante utilizada nos tratamentos relacionados a cardiopatias. Já a espécie Alpinia purpurata é comumente empregada com fins ornamentais.

Uma das propostas deste trabalho foi o estudo fitoquímico e biológico desta espécie. Diversas técnicas envolvendo cultura de tecidos vegetais são utilizadas como ferramenta, no intuito de obter material vegetal homogêneo e de qualidade, e produzir metabólitos secundários dentro de condições ambientais padronizadas e reprodutíveis. Os flavonóides e terpenos estão entre os principais metabólitos relacionados ao uso terapêutico das plantas medicinais. O potencial de produção destes metabólitos secundários foi avaliado em plantas de campo, e plantas in vitro sob ação de diferentes reguladores de crescimento vegetal. A rutina e kaempferol-3-O-glicuronídeo foram pela primeira vez identificados para Alpinia purpurata; a rutina foi isolada a partir da fração butanólica e identificada por ressonância magnética nuclear. Os resultados para a organogênese direta in vitro, em meio MS líquido, mostraram adequação quanto à produção monoclonal de plantas livres de patógenos e com 100% de enraizamento.

Poucas variações foram observadas entre os tratamentos com citocininas e auxinas. As culturas in vitro após 3-4 meses foram avaliadas quanto à produção de flavonóides. Em amostras de folhas in vitro de Alpinia zerumbet foram encontrados os flavonóides rutina, kaempferol-3-O-glicuronídeo e kaempferol-3-Orutinosídeo, com maiores concentrações de rutina sob o efeito de AIA + TDZ. Para a espécie Alpinia purpurata, o teor de kaempferol-3-O-glicuronídeo foi maior nos tratamentos com BAP e AIA + TDZ. Os principais componentes do óleo de folhas de Aalpinia zerumbet foram os monoterpenos terpinen-4-ol (29,4%), 1,8 cineol (23,1%) e ?–terpineno (16,1%).

Enquanto para a espécie A. purpurata, o ß–pineno (34,7%) e a-pineno (11,8%) foram predominantes. A caracterização da fração volátil de plantas de A. zerumbet foi avaliada pela técnica de extração por “headspace” seguida pela análise por cromatografia a gás. Como principais componentes, o aroma apresentou terpineno, sabineno e terpinoleno.

Em todos os tratamentos in vitro, as plantas produziram sabineno, 1,8 cineol e cariofileno como principais constituintes. A ação vasodilatadora mostrou igual potência em relação a espécie A. zerumbet , na dose de 60 µg, mas a eficiência foi menor. As plantas in vitro de A.zerumbet mostraram efeito vasodilatador reduzido, comparado às plantas de campo. As estratégias biotecnológicas permitiram manipular e avaliar as respostas das espécies quanto à produção de metabólitos secundários. Adicionalmente, os resultados forneceram indicações para o efeito de reguladores de crescimento vegetal em rotas biossintéticas de flavonóides e terpenos. Os estudos fitoquímicos da espécie A. purpurata são pioneiros e fornecem indicações sobre moléculas bioativas que podem estar envolvidas no uso medicinal da espécie. Os dados preliminares sobre atividade biológica de A. purpurata sugerem efeito vasodilatador.


Interação entre angiotensina II, losartana e doxorrubicina: possível uso na quimioterapia do câncer


Priscila Biancovilli

No dia 14 de julho, às 9 h, o estudante do curso de Ciências Biológicas João Marcos de Azevedo Delou defende sua dissertação de mestrado no prédio do Centro de Ciências da Saúde, bloco G, 1º andar, sala 22, na Ilha da Cidade Universitária. Intitulada “Interação entre angiotensina II, Iosartana e doxorrubicina: um possível uso na quimioterapia do câncer”, o trabalho teve orientação da professora Márcia Alves Marques Capella, do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho (IBCCF).

Câncer e hipertensão são duas doenças de alta prevalência, mortalidade e custo do tratamento. Estudos anteriores sugerem que a angiotensina II (ANG), o principal hormônio associado à hipertensão seja um importante agente mitótico e que a LOS (LOS), um antagonista do receptor de ANG (AT1), reverte esse efeito. O objetivo do estudo foi investigar possíveis relações entre a quimioterapia do câncer de mama concomitante ao uso de anti-hipertensivos em um modelo de células de câncer de mama humano, MCF-7.

Tanto a contagem em câmara de Neubauer quanto ensaio de MTT mostraram efeito proliferativo de ANG, revertido por LOS, confirmando dados da literatura. Além disso, observamos que LOS potencializou o efeito citotóxico da doxorrubicina (DOX), somente em presença de ANG. A microscopia óptica mostrou marcado efeito sobre a morfologia e número de células, confirmando esses resultados. Experimentos de acúmulo de DOX por citometria de fluxo mostraram aumento do percentual de células com alto acúmulo de DOX na presença de ANG+LOS.

Ensaios de expressão dos transportadores de efluxo da doxorrubicina não apresentaram alterações na expressão destes transportadores. Nossos resultados revelaram uma importante interação entre a medicação antitumoral e anti-hipertensiva, que ocorreu somente na presença de ANG. Os efeitos de LOS combinados a DOX sugerem um possível uso adjuvante de medicamentos anti-hipertensivos na quimioterapia do câncer. Entretanto, ainda não se sabe se essa interação ocorre em células não tumorais e, portanto, não se conhece o possível impacto indesejado da associação desses medicamentos. Assim, o uso de LOS para o tratamento da hipertensão em pacientes de câncer de mama deve ser avaliado com cautela, devido a um possível aumento de toxicidade. Os estudos pretendem continuar investigando os mecanismos moleculares desta interação medicamentosa, assim como avaliar os efeitos do uso concomitante de anti-hipertensivos durante o tratamento quimioterápico do câncer de mama em seres humanos.