• Edição 132
  • 26 de junho de 2008

Saúde e Prevenção

Quando os olhos insistem em se fechar

Marcello Henrique Corrêa

Começa com uma piscadela, mas pode causar um incômodo por muito tempo e até estar relacionado a outras doenças. Blefaroespasmo essencial benigno é o nome do tema de Saúde e Prevenção desta edição. O termo científico se refere a uma distonia facial, caracterizada por espasmos involuntários do músculo da pálpebra. O movimento repetitivo pode transformar ações que seriam simples e corriqueiras em cansativas e penosas, como ler ou assistir a TV, por exemplo. Aliás, a própria TV pode ser um dos vilões dessa história.

Segundo Ana Luiza Biancardi, médica do serviço de Oftalmologia do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, ainda não se sabe as causas propriamente ditas da doença. Ela lembra que existe uma diferença entre causa e agente desencadeante. Logo, apesar de ninguém saber ao certo o que causa o blefaroespasmo, alguns fatores entram na lista de agentes desencadeantes. “Por exemplo, a fotofobia, que é o incômodo com a luz, é um deles. Além disso, cansaço e estresse também podem iniciar o quadro de blefaroespasmo, mesmo não sendo causas do problema”, afirma a doutora. Entretanto, ela ressalta que o blefaroespasmo não é conseqüência direta da fotofobia, podendo um paciente apresentar fotofobia e não necessariamente estar fadado ao blefaroespasmo.

Essas características se referem mais diretamente ao blefaroespasmo essencial benigno. Contudo, existem várias formas de espasmos que envolvem a musculatura facial. Nesse contexto, a cafeína, que é citada como fator desencadeador, está mais relacionada a outros tipos de espasmos. “O blefaroespasmo essencial benigno, que é o mais comum, está mais ligado aos fatores de fotofobia”, completa Biancardi.

É comum que a doença acometa mais mulheres do que homens. Além disso, os indivíduos com mais de 50 anos são mais suscetíveis. Segundo Ana Luiza, não há estudos que expliquem com precisão as razões para essa estatística.

Quadros mais graves

A médica lembra que a possibilidade do quadro piorar é bastante significativa. “O espasmo tende a ser progressivo. A princípio, o piscar começa a ocorrer em uma freqüência maior. Depois, a contração passa a ficar mais intensa e mais freqüente ainda”, explica a oftalmologista. Segundo ela, o quadro pode progredir, chegando até à cegueira funcional. “Esse quadro, que é muito raro, ocorre quando a contração é tão intensa e forte que atrapalha a visão do paciente. Atingindo aí a cegueira funcional. Nesse caso, o olho, em si, está funcionando, mas a contratura prejudica”, complementa Biancardi.

Tratamento e prevenção

Segundo a médica, a tendência é de que o blefaroespasmo seja crônico. Por isso, o acompanhamento médico é importante, entretanto, há tratamento para casos mais graves. “Geralmente, o tratamento envolve uma injeção de toxina botolínica tipo A, para paralisar a musculatura responsável pelo espasmo”, explica a especialista. De acordo com ela, esse tipo de tratamento já é mais consagrado, mas algumas alternativas estão sendo pensadas. “Já há alguns artigos cogitando o uso de lentes que protejam da luminosidade, por exemplo. Os resultados dessas pesquisas são favoráveis, mas isso é uma coisa que ainda exige mais avaliações”, pondera Ana Luiza. Há ainda os casos em que nenhuma dessas terapêuticas funciona e a única opção é uma intervenção cirúrgica. “Mas, como cirurgia é uma medida mais invasiva, o ideal é evitar que o quadro chegue a esse ponto”, avalia a oftalmologista.

Como a doença pode estar relacionada a estresse e fadiga, além de proteger os olhos da luz, a manutenção de níveis baixos de fadiga e cansaço emocional pode influenciar na prevenção do quadro. Caso a doença se torne um incômodo, a orientação é de que se procure um médico. “Quando a situação se torna socialmente inadequada, atrapalhando o cotidiano da pessoa, é ideal procurar um oftalmologista. Toda e qualquer situação crônica tende a alterar a qualidade de vida da pessoa, portanto um acompanhamento psicológico, inclusive, é indicado”, recomenda Ana Luiza.