• Edição 132
  • 26 de junho de 2008

Microscópio

A Ciência do Impossível no Possível Artístico

Priscila Biancovilli

No próximo dia 2 de julho, arte e ciência se encontrarão na UFRJ. Geralmente vistas como fontes incongruentes de produção de saber, estas manifestações convergiram em algo único na produção do artista plástico Walmor Corrêa. “Meu primeiro contato real com arte aconteceu durante as aulas de ciências e biologia na escola. No colégio os meus cadernos de biologia e ciências eram todos muito ilustrados com desenhos feitos por mim a partir dos conteúdos que eu via em sala de aula. Foi então que o professor de ciências percebeu o meu interesse e me convidou para ajudá-lo nas aulas de laboratório, onde eu acompanhava o processo de dissecação de animais e depois desenhava a anatomia interna dos bichos. Foi esse professor que me apresentou o trabalho de Leonardo da Vinci e me fez entender pela primeira vez o desenho como manifestação artística”, explica o artista, em texto de seu website.

A conferência é organizada pelo Programa Avançado de Neurociências do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) e pelo Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho (IBCCF). A professora Maira Fróes, do Laboratório de Neuroanatomia Celular do ICB, trabalha dentro do contexto de projetos de arte e ciência, e explica a motivação para este evento: “Trata-se de trazer à comunidade científica a visão de um artista por sobre a ciência. Este encontro implica, entre muitos outros desdobramentos, em criar e consolidar um espaço comum que possibilite utilizar a arte no contexto da educação e da divulgação científica, em fazer da arte um instrumento de aprendizado eficaz de conceitos científicos”, afirma a professora.

Imaginação e ciência

Maira conheceu o trabalho de Walmor em uma exposição na Galeria Laura Marsiaj de Arte Contemporânea. “Identifiquei-me com o argumento implícito em sua obra, tal seja o de dar consistência científica às criações do nosso imaginário. Na minha perspectiva como cientista, vi prazerosamente nossas ‘verdades’ transportadas à lógica estético-artística, quebrando a aridez daquelas e pesando paradoxalmente ao chão a inefabilidade da arte. Não se trata de aplicação da tecnologia à arte, vulgarmente interpretada com o enlace entre arte e ciência, mas a representação concreta de um complexo nó conceitual envolvendo os três grandes eixos de expressão da intelectualidade humana, o imaginário, a arte e a ciência”, esclarece Maira.

A proposta do evento possui uma abrangência inter-institucional. Além do ICB e IBCCF, participam como colaboradores a Escola de Belas Artes, artistas plásticos, tecno-artistas e tecnólogos extra-muros.

Expectativas

O auditório do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho comporta pouco menos de cem pessoas, algo que limita o acesso do público. Este evento, no entanto, antecipa o simpósio de maior abrangência que acontecerá na UFRJ em novembro deste ano, também organizado pelo grupo da professora Maira Fróes, intitulado Anatomia das Paixões: 200 Anos da Cátedra Anátomo-Cirúrgica no Brasil. “O simpósio tratará da costura Ciências e Artes Plásticas, reportando aos 200 Anos de Criação da Cátedra Anátomo-Cirúrgica e a figuras de ilustres fundadores, como José Maurício Nunes Garcia Júnior (nosso homenageado especial), que honraram a herança renascentista das escolas anatômicas da época, nas quais seus catedráticos eram quase sempre homens de arte. Nesta oportunidade, esperamos poder abrigar um público bem maior, que será direcionado à visitação da mostra que organizamos, intitulada ‘Anatomia das Paixões: A Criação do Som’”, antecipa.

Informações

O evento acontece dia 2 de julho, às 12 horas, no auditório do IBCCF – bloco G do Centro de Ciências da Saúde, na ilha da Cidade Universitária, no campus do Fundão. A entrada é franca.