• Edição 128
  • 29 de maio de 2008

Argumento

O polêmico Plano Diretor da UFRJ

Priscila Biancovilli

A invasão de aproximadamente 300 estudantes na sessão do Consuni (Conselho Universitário) do último dia 10 de abril marcou uma polêmica já iniciada há muito tempo. Lá, os alunos protestaram contra o que seria a aprovação do Plano Diretor da UFRJ, algo que traria mudanças estruturais profundas para a universidade, afetando diretamente a vida de todo o corpo social. Aquela sessão do Consuni foi cancelada, mas a polêmica não cessou. Pelo contrário: no Centro de Ciências da Saúde (CCS), os professores Roberto Medronho e Roberto Lent participaram de um debate com alunos da área da saúde, objetivando esclarecer o Plano Diretor e defender sua implementação.

- O Centro Acadêmico da Faculdade de Medicina nos convidou para discutir as propostas do Plano Diretor. É bom que se diga que esse plano não foi e nem será aprovado por ora no Consuni. Há um grande desentendimento em relação a isso. Naquela sessão, aprovaríamos apenas um anteprojeto de diretrizes gerais para a elaboração de um plano”, esclarece Roberto Medronho, professor da Faculdade de Medicina e representante dos adjuntos-doutores no Consuni.

O anteprojeto de Plano Diretor da UFRJ foi elaborado por uma comissão composta pelos professores Roberto Lent, Ivana Bentes, João Ferreira, Luiz Pinguelli Rosa, Carlos Bernardo Vainer e Pablo Benetti. “A partir da aprovação destas idéias iniciais, as propostas seriam levadas para todo o corpo social da UFRJ, com o objetivo de gerar um grande debate. Após o recolhimento das sugestões, críticas e adições ao plano, aprovaríamos em um segundo momento, no Consuni, o Plano Diretor 2020”, explica o professor. “Porém, os estudantes invadiram a reitoria e bloquearam esta votação. Trata-se de uma atitude de constrangimento e autoritarismo inaceitável dentro do ambiente universitário”, continua.

O último Plano Diretor da UFRJ foi elaborado em 1972, época da ditadura militar. De lá para cá, a sociedade brasileira passou por mudanças políticas e sociais profundas, que afetaram também o ambiente universitário. “Precisamos urgentemente de uma renovação, que seja executada de forma ampla e democrática. Não aceitaremos a falta do debate”, afirma Medronho.

Plano Diretor no CCS

Dentro do CCS, o Plano Diretor propõe a construção de salas multiuso, que sejam aproveitadas por diversas unidades, além de apontar para uma maior mobilidade estudantil, propiciando aos estudantes contato com diversas áreas do conhecimento. “A transdisciplinaridade é fundamental para o mundo moderno. Um aluno de medicina deve entender de física, química, engenharia, entre outros”, enfatiza o professor.

O debate organizado pelo Centro Acadêmico da Medicina no dia 20 de maio, teve participação muito pequena dos estudantes. Cerca de quinze alunos compareceram, boa parte deles representando o DCE (Diretório Central dos Estudantes).

- Nesta questão, não se deve haver vencidos e vencedores. Não se trata de uma batalha do bem contra o mal. Isso é rotular de forma indevida, tornando o debate pequeno. Estamos discutindo algo muito maior, o futuro da nossa universidade. Chegou o momento de todos participarmos para melhorar a UFRJ. Não estamos impondo nenhuma opinião. Queremos que as melhores propostas vençam, através do convencimento -, finaliza Medronho.

Movimento estudantil

Contrastando com as opiniões do professor, a estudante da Faculdade de Medicina e membro do DCE (Diretório Central dos Estudantes), Letícia Hastenreiter, afirma que a aprovação do Plano Diretor colabora para o sucateamento da UFRJ. “Votar o Plano Diretor ou apenas suas diretrizes não faz muita diferença. Para o movimento estudantil, isso significa a mesma coisa: uma implementação autoritária e sem debates”, afirma. “Ao mesmo em que a Reitoria afirma dizer que cada unidade terá liberdade para escolher se vai ou não para a ilha da Cidade Universitária, por exemplo, o plano não prevê nenhum tipo de investimento nos outros campi, claramente forçando a mudança”, continua a estudante.

Dentro do Centro de Ciências da Saúde, está prevista a criação de seis novos cursos, como Nanotecnologia, Ciências Forenses, Terapia Ocupacional, Saúde Coletiva, entre outros. “Isso a princípio seria muito bom, mas não existe a previsão do aumento de investimentos no CCS nem contratação de novos professores. Se hoje os estudantes de Medicina, Enfermagem e Fonoaudiologia, por exemplo, não podem exercer seus trabalhos de forma adequada, pela falta de verbas do Hospital Universitário, como aumentar ainda mais o número de alunos e cursos? Isso é um passo a mais em direção ao sucateamento da nossa universidade”, argumenta Letícia.

Participação

Qualquer pessoa pode consultar as diretrizes do Plano Diretor, disponíveis na internet. Em junho, o Consuni retoma as discussões sobre o plano. A próxima sessão está prevista para quinta-feira, dia 5, às 9h30, na sala do 2º andar do prédio da Reitoria, na ilha da Cidade Universitária.

- A comunidade universitária precisa se mobilizar. Os debates estão apáticos, há pouco envolvimento do corpo social. Devemos discutir isso com urgência em todas as congregações, conselhos universitários, órgãos suplementares, conselhos de centro e categorias docentes, de funcionários e estudantes. As propostas vindas destes grupos certamente serão ouvidas, e acatadas, caso se provem importantes para melhorar as funções da universidade -, afirma Medronho.

As diretrizes gerais do Plano Diretor podem ser lidas no endereço http://pessoais.ov.ufrj.br/dopcke/files/pd2020.pdf.