• Edição 128
  • 29 de maio de 2008

Por uma boa causa

Equilíbrio: relação entre doença periodontal e diabetes


Jefferson Carrasco

Para finalizar o Por uma boa causa deste mês, que destacou alguns aspectos a respeito da saúde odontológica, a editoria discute a influência da diabete no meio bucal. Caracterizada pela deficiência de produção e/ou de ação de insulina, esta doença, que acomete 8% da população adulta, faz com que seu portador apresente um risco 2,5 maior do que o paciente não-diabético de se tornar um doente periodontal.

O quadro periodontal é a sexta causa de doença em diabéticos. “Devido ao problema da hiperglicemia (excesso de açúcar no sangue) há o espessamento dos vasos, o que gera não só a difícil circulação das células de defesa, como também um comprometimento das fibras que são responsáveis pela regeneração tecidual”, explica Anna Thereza Tomé Leão, professora da faculdade de Odontologia.

Assim, o meio bucal torna-se mais susceptível à placa bacteriana, causadora da gengivite e periodontite, que acomete todo o sistema de sustentação dos dentes: gengiva, osso e ligamento periodontal. O diabético não-controlado, no entanto, ao se encontrar nesse quadro clínico, pode gerar complicações, como a perda de dentes e xerostomia, que pode causar dificuldade em falar e comer.

Segundo Anna Thereza, o paciente, por possuir maior facilidade de evoluir a doença periodontal e por ser diabético, tem uma resposta insuficiente a ela, se encontra em maiores chances de perder os dentes, porque todo o sistema de suporte vai estar envolvido e prejudicado pela placa bacteriana. Já a xerostomia - diminuição do fluxo salivar – é altamente prejudicial, uma vez que ela protege os dentes e a gengiva. A saliva funciona como uma solução tampão e bloqueia muitos desenvolvimentos dos processos microbiológicos, o que ajuda o organismo a combater essas bactérias. “Se a pessoa tem menos quantidade de saliva, as bactérias se aproveitam dessa situação e se desenvolvem com mais rapidez”, aponta.

Logo, o tratamento odontológico em indivíduos diabéticos só pode ocorrer se a doença sistêmica estiver controlada. A doença periodontal – ocasionada por infecção – não tratada regularmente, pode afetar a diabetes do paciente, de maneira negativa. Já, ao contrário, o diabético não-compensado agrava sua periodontia.

– Chama-se “medicina periodontal”; é como se nós pensássemos em uma via de mão dupla: caso uma delas seja comprometida, a outra, no fim das contas, também será. Os dois lados da corda têm que estar em equilíbrio -, enfatiza Hana Fried, professora associada da faculdade de Odontologia.

Antes de iniciar o tratamento, na anamnese, quando o diabetes é identificado, o que pode ser feito através de um hemograma, o dentista entra em contato com o médico do paciente para conhecer todo o histórico clínico do indivíduo. “Existe toda essa preocupação porque a diabetes não-compensada, durante a atuação do profissional torna a pessoa mais propensa a hemorragias e abscessos. Só há uma resposta satisfatória no tratamento com a diabetes controlada”, indica Hana Fried.

Para um bom resultado, é necessária ainda a conscientização do paciente – o que, de acordo com as professoras, é a maior dificuldade no processo. Elas sublinham que a disciplina é ponto fundamental. “Assim como o diabético precisa fazer uma dieta balanceada, o doente periodontal necessita de uma higienização bucal adequada, com escovação específica e utilização de fio dental”, lembra Anna Thereza.

Segundo a Associação Americana, o doente periodontal, em média, precisa ser visto a cada quatro meses – o que pode variar para mais ou para menos, dependendo da necessidade e resistência que o paciente apresenta ao tratamento. “Desse modo”, diz Hanna Fried, “O tratamento do paciente diabético que apresenta gengivite e/ou periodontite tem de estar sempre em manutenção, visto que essas doenças, com exceção da gengivite, não têm cura e uma pode agravar a outra.”

Por fim, a professora associada destaca que a odontologia não é mais uma área isolada. “Nós procuramos sempre nos conectar com os médicos de pacientes cardíacos, reumatológicos e imuno-deprimidos, além dos endocrinologistas – no caso da diabetes. Porque se as funções estiverem equilibradas, as respostas ao tratamento odontológico não diferem de um indivíduo normal para as dos que nos chegam com tais doenças”, afirma.