• Edição 125
  • 08 de maio de 2008

Notícias da Semana

Diversidade sexual na escola e identidade de gênero


Geralda Alves

A Universidade Federal do Rio de Janeiro está com inscrições abertas para o curso “Diversidade sexual na escola e identidade de gênero”. Realizado pelo projeto Diversidade Sexual na Escola, integradopelo Papo Cabeça, o curso busca capacitar educadores no assunto.

Serão discutidos, entre outros temas: Como a escola pode lidar com situações ligadas à orientação sexual dos alunos? A sexualidade dos alunos e alunas é um problema da escola? E a discriminação e a violência que sofrem os jovens homossexuais dentro da escola? O que uma professora pode fazer diante de um ato de discriminação?

Os participantes também terão oficinas de sensibilização com todos os profissionais de escolas públicas no Estado do Rio de Janeiro. Segundo Alexandre Bortolini, coordenador do projeto, o objetivo principal do curso não é trazer respostas prontas, mas “sensibilizar os professores, diretores e funcionários para a questão da diversidade sexual dos seus alunos, as violências, as discriminações e as possibilidades de mudança”. Para Alexandre, um dos intuitos do trabalho “é ajudar a desmascarar um suposto ambiente de tolerância, trazendo à tona a realidade de discriminação e violência presente no cotidiano da escola”.

As aulas acontecem no Fundão e no Centro do Rio, no período de junho a setembro. Nesse período, o projeto oferece um curso de capacitação em Diversidade Sexual e Identidades de Gênero, gratuito, de 60 h presenciais. O objetivo é dar poder a profissionais de educação, em especial gestores, coordenadores pedagógicos e professores da educação básica, no que diz respeito ao tema, tornando-os sujeitos capazes de incidir politicamente nos seus contextos, tendo em vista o reconhecimento da diversidade sexual e o combate ao sexismo e à homofobia.

Escola e diversidade

Um estudo da UNESCO aponta para um alto índice de imagens homofóbicas e de intolerância quanto à homossexualidade entre estudantes e professores. Nesse estudo, um quarto dos alunos entrevistados afirmou que não gostariam de ter colegas homossexuais. O percentual fica maior ainda quando se trata apenas dos meninos. No Rio de Janeiro, entre os responsáveis, 40% não gostariam que seu filho estudasse junto com um colega homossexual. Esse percentual cai muito entre professores, mas há ainda um grande número de educadores que rejeitam a idéia de ter um aluno gay ou uma aluna lésbica. No Rio de Janeiro, 15% dos estudantes acham que a homossexualidade é uma doença, chegando a 23% entre os homens. O percentual é de 16% entre os educadores.

Numa pesquisa recente realizada durante a Parada do Orgulho GLBT no Rio de Janeiro, 40% dos adolescentes homossexuais entrevistados contaram que já sofreram casos de discriminação acontecidos dentro da escola. Entre jovens de 19 a 21 anos, 31% se referiram a discriminações na escola ou na faculdade. Na mesma pesquisa, 65% dos homossexuais já foram vítimas de algum tipo de preconceito e 60% já sofreram alguma forma de violência. A Escola aparece em terceiro lugar como local ou contexto da discriminação (27% dos casos), atrás apenas do ambiente familiar e dos amigos e vizinhos. Mantém a mesma posição como espaço onde acontecem as agressões e outras violências (10%).

- A própria escola como instituição e através de normas, regras e ações discrimina o jeito de ser, de andar, de falar, de vestir e de se comportar de quem não segue o padrão estabelecido -, afirma Alexandre Bortolini.

Segundo ele, durante as oficinas já realizadas foram muitos os relatos de ações discriminatórias promovidas por professores, funcionários e até pela direção de algumas escolas. “Numa oficina uma professora contou o caso de um aluno que foi se travestindo ao longo do tempo. Deixou o cabelo crescer, apareceu com as unhas pintadas, até que chegou um dia na escola vestindo o uniforme feminino. O porteiro barrou o aluno. A diretora não só chamou a família como encaminhou o garoto ao Conselho Tutelar. O aluno, claro, não estuda mais nessa escola”, relata.

“Em outro caso”, continua Alexandre, “uma estagiária de pedagogia que trabalhava em uma escola de Educação Infantil recebeu um aluno que se vestia completamente de Branca de Neve para brincar com os amigos de turma. A direção da escola chamou os pais, a família, encaminhou a criança para uma assistência psicológica. Será que isso era mesmo necessário? Ou não seria um reflexo da incapacidade da escola e dos educadores em lidar com a situação?”

A partir desse quadro de violência e discriminação a homossexuais dentro da Escola, identificado por diversas fontes e pesquisas, e baseado na própria motivação dos profissionais da Educação e do Governo Federal – demonstrada através de ações como o Programa Brasil Sem Homofobia – para superar preconceitos, é que a UFRJ vem desenvolvendo o projeto Diversidade Sexual na Escola.

Os interessados em participar podem se inscrever através do site www.papocabeca.me.ufrj.br/diversidade, as vagas são limitadas. Mais informações pelo site, pelo telefone (21) 2598-1892 ou pelo e-mail diversidadeppc@me.ufrj.br.