• Edição 122
  • 17 de abril de 2008

Notícias da Semana

Futuros enfermeiros no combate à dengue

Marcello Henrique Corrêa

Abril é o mês de comemorações do Dia Mundial da Saúde. Dentro do tema sugerido pela Organização Mundial da Saúde (OMS), a Escola de Enfermagem Anna Nery realizou hoje, 17 de abril, o evento “Protegendo a saúde frente às alterações climáticas”. O evento ocorreu no auditório Rodolpho Paulo Rocco, o Quinhentão, nessa manhã.

No Rio de Janeiro, seria quase impossível falar de saúde sem falar de dengue. Portanto, foi exatamente esse o tema da conferência. A epidemia da doença foi abordada por Maulori Cabral, professor do Instituto de Microbiologia Professor Paulo de Góes (IMPPG).  Cabral falou direto aos estudantes de enfermagem presentes, esclarecendo o que chamou de “mitos e verdades sobre a dengue”.

Para a abertura, estava presentes Maria Antonieta Tyrrell, diretora da EEAN, além de Lúcia Andrade, da Coordenação de Extensão da Escola, Márcia de Assunção Ferreira, coordenadora dos cursos de pós-graduação, Lílian Felippe, coordenadora de graduação e Ivis Emília de Oliveira Souza, professora titular do Departamento de Enfermagem Materno Infantil, representando o corpo docente da EEAN.

A diretora lembrou, na ocasião, a importância da integração da Escola de Enfermagem Anna Nery e da Universidade como um todo no combate à dengue no Rio de Janeiro. Ela lembrou que a EEAN já fechou um convênio com as secretarias Municipal e Estadual do Rio de Janeiro, incluindo capacitação de alunos e docentes, além da atuação direta em uma das tendas de atendimento. (Veja matéria no portal da UFRJ.)

— O problema deve ser resolvido por todos os profissionais de saúde e não apenas por médicos. A situação exige toda uma gama de profissionais que, invisivelmente, se dedicam diariamente à saúde — afirmou Tyrrell, ressaltando a importância do papel do enfermeiro, assim como do psicólogo, do assistente social e de outros profissionais muitas vezes esquecidos.

Falando diretamente aos alunos, Maria Antonieta destacou o grau de responsabilidade dos alunos de uma Universidade pública. “A nossa Escola é da UFRJ, portanto é uma universidade pública. Temos, assim, um compromisso com a população, porque eles pagam a nossa razão de existir aqui”, alertou.

Dengue: uma doença educacional

Convidado pela Escola, Maulori Cabral afirmou categoricamente: dengue é uma doença educacional. Segundo ele, é preciso um amplo trabalho de conscientização no campo da prevenção da doença e da proliferação do Aedes aegypti, principal vetor do vírus. “Cada um de nós depende do vizinho, das pessoas com quem convivemos. Como a dengue é uma doença puramente educacional, deve-se ter um sentimento de amor ao próximo, em que cada um faz de tudo para que o próximo não pegue dengue. Nessa cadeia de atitudes, todos saem beneficiados”, declarou o professor.

De acordo com Cabral, para que cada um saiba lidar com a dengue da melhor forma possível, é preciso que quebrar alguns mitos sobre a doença. Segundo ele, o mais fácil de ser quebrado é o da água limpa. Maulori Cabral garante haver uma diferença fundamental entre água limpa para humanos (potável) e água limpa para mosquito. “Água limpa para mosquito é água que não tem detergente nem óleo”, assegurou o professor, lembrando também a necessidade da presença de microrganismos para que o mosquito fêmea escolha o lugar como ideal para sua prole.

Nesse contexto, a mosquitoeira, armadilha para mosquito patenteada pela UFRJ, consiste nesse lugar ideal, atraindo o mosquito e eliminando-o. Maulori vê o dispositivo, que pode ser confeccionado em casa, com um material bem simples, como uma potente arma no combate ao vetor. “A mosquitoeira vai ser um amuleto da sorte, para que o país fique livre da dengue e de todas os incômodos provocados por insetos, principalmente mosquitos”, apostou Maulori, citando a experiência feita na ilha de Paquetá, onde todos os residentes fizeram o dispositivo. O grupo de pesquisadores agora aguarda os resultados.

A febre que vem de longe

Depois das epidemias dos sorotipos 1, 2 e 3 da dengue, o temor de um tipo 4 se manifestar no próximo ano vem tomando forma a cada dia. Para Maulori Cabral, a hipótese não pode ser descartada. “Nós corremos risco de, se a população do mosquito for mantida em ambiente urbano, sermos afetados por dengue 4”, avaliou.

De modo semelhante, outros mosquitos podem causar problemas ao Brasil no próximo ano. Os muriçocas, aqueles normalmente observados à noite, podem transmitir uma forma de virose do mesmo grupo dos vírus da dengue chamado febre do oeste do Nilo. “Essa flavivirose é normalmente trazida de um país para outro por meio das aves migratórias. No Brasil, sempre no mês de setembro, chegam aves oriundas do norte da América e, em 2008, o alvo pode ser o Brasil”, alertou o professor.

Seja para a dengue ou para esta outra possível doença, que pode causar encefalite nos casos mais graves, é fundamental eliminar os vetores. “Para eliminar o risco de dengue 4 e o perigo da febre do oeste do Nilo, a melhor maneira é se livrar dos mosquitos e, para se livrar dos mosquitos, a melhor maneira é fazer seu papel social e construir sua ‘mosquitérica’ (mosquitoeira genérica), para fazer um controle da qualidade da vizinhança”, orienta Maulori Cabral. Ao final da conferência, o professor ensinou aos alunos como fazer a armadilha. O passo a passo pode ser encontrado na WebTV UFRJ.


Nova direção do IESC toma posse

Tatiane Leal

A nova diretora do Instituto de Estudos em Saúde Coletiva (IESC-UFRJ), Heloísa Pacheco-Ferreira, tomou posse do cargo em cerimônia realizada nessa quarta-feira, dia 16 de abril, no salão nobre do Instituto. A vice-diretora Maria Cláudia Vater, primeira professora concursada para o IESC, também assumiu o novo posto, juntamente com outros integrantes da nova gestão.

A mesa foi composta pelas novas diretora e vice-diretora, pela vice-reitora Sylvia Vargas, pela ex-diretora do IESC Letícia Legay, pelo prefeito da UFRJ Hélio de Mattos, pela vice-decana do Centro de Ciências da Saúde (CCS) Maria Fernanda Quintella e pela coordenadora de extensão do CCS Diana Maul.

A ex-diretora Letícia Legay afirmou que a data é um dia de festa para o IESC, que nomeia suas primeiras diretora e vice-diretora desde que o Núcleo de Estudos em Saúde Coletiva (NESC) foi transformado em Instituto em 2006, ou seja, uma unidade acadêmica “com uma responsabilidade proporcional à autonomia que conquistou”, salientou a ex-diretora.

- O fato da vice-reitora Sylvia Vargas estar aqui nomeando nossas diretora e vice-diretora eleitas para a gestão do IESC representa o reconhecimento da própria Universidade da importância do campo da saúde coletiva para a geração de conhecimentos em saúde, o que também é motivo de orgulho e comemoração para as equipes envolvidas em anos de trabalho para a concretização desse Instituto”, acrescentou Letícia Legay.

A médica e ambientalista Heloísa Pacheco-Ferreira apresentou suas propostas para a gestão. Entre elas, a diretora citou a pretensão de consolidar o IESC como um protagonista da saúde coletiva não só dentro da própria UFRJ, mas em todo o país, além de intensificar o relacionamento com unidades internas, nacionais e internacionais e criar uma estrutura que atenda a Ensino, Pesquisa e Extensão, com ampliação dos recursos financeiros.

Além disso, será implementado o curso de graduação em Saúde Coletiva, em 2009. Heloísa Pacheco-Ferreira intenta expandir as disciplinas de graduação ligadas à saúde coletiva oferecidas a outros cursos, o que já ocorre com a medicina, a fisioterapia, a fonoaudiologia e a engenharia ambiental. Letícia Legay falou sobre esse caráter interdisciplinar da saúde coletiva. “O campo da saúde coletiva reúne ciência e arte e, desse modo, trabalha com conhecimentos vindos dos mais diferentes campos de saber.”

O NESC foi criado em 1989, devido à necessidade reconhecida pelo Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF) da criação de uma unidade com um perfil diversificado, complexo e interdisciplinar em saúde coletiva. Em 2006, o núcleo tornou-se instituto, o IESC, devido à expansão de sua produção de conhecimento e a todo o seu crescimento, conquistando, assim, a autonomia de unidade acadêmica.

Maria Fernanda Quintella, vice-decana do CCS, afirmou que “o centro se orgulha muito dessa nova unidade acadêmica e reconhece a importância que ela tem para a área de saúde, em especial para a saúde pública”. A vice-reitora Sylvia Vargas ressaltou que o IESC é uma unidade expressiva na universidade. À nova gestão, Sylvia Vargas desejou boa sorte, coragem e paciência para enfrentar os desafios que virão.


Vacinação no Centro de Tecnologia

Sofia Moutinho de Oliveira – AgN/CT

A Divisão de Saúde do Trabalhador (DVST) da Pró-reitoria de Pessoal da UFRJ (PR-4), faz campanha de vacinação hoje, dia 17 de abril, até as 14h, nos fundos do Bloco D do prédio do Centro de tecnologia (CT), Cidade Universitária, Fundão. O objetivo é imunizar funcionários e estudantes da universidade contra tétano, rubéola, caxumba, sarampo e hepatite B.

Ano passado, durante o surto de rubéola no estado do Rio de Janeiro, a doença teve o maior registro de casos confirmados desde 1996, quando a vacina tríplice viral (contra rubéola, caxumba e sarampo) começou a ser aplicada em larga escala. Hoje, 70% dos casos são de homens doentes. A coordenadora do centro de vacinação, Maira Fontanelli, explica que, agora, os homens estão mais expostos à rubéola, pois nas últimas grandes campanhas a mulher foi o alvo principal. Por isso é muito importante que os homens em idade fértil tomem a tríplice viral, a não ser que já tenham contraído as doenças que a vacina combate. O maior risco que a doença oferece é às grávidas, que podem ter aborto espontâneo se infectadas durante os primeiros três meses de gestação e má formação do feto. Porém homens infectados podem transmitir a doença para uma gestante.

A vacina contra hepatite B é feita normalmente em recém-nascidos, mas é recomendada para adultos que não tiveram a doença, especialmente para profissionais da saúde, portadores do vírus C e pessoas com outras doenças hepáticas. A principal via de transmissão desta doença é o sangue, por isso a importância da vacina para os profissionais da saúde, além disto, mulheres grávidas também podem transmiti-la ao bebê. A vacina deve ser tomada de dez em dez anos.

— A vacina não é uma ação exclusiva da pediatria, o adolescente, o adulto e o idoso precisam receber vacinas. Muitas pessoas têm a visão de que ela é só para crianças. A população adulta não tem consciência da importância da vacina, principalmente destas, como a de tétano, que parecem bobas — disse Maira. O tétano é uma doença pouco incidente, mas é uma enfermidade grave que oferece risco de vida para o paciente. A contaminação se dá pela entrada das bactérias por qualquer tipo de ferimento na pele e por isso profissionais que correm o risco de se cortar devem se prevenir com a vacina que é aplicada em três doses. A primeira dose pode ser tomada hoje na Brigada de Incêndio no CT e as outras estão disponíveis de segunda à sexta-feira, das 8h às 14h, na DVST, localizada atrás do prédio da Reitoria, próximo à garagem, na ilha da Cidade Universitária, Fundão. Quem já tomou as três doses da antitetânica pode tomar um reforço que deve ser repetido a cada dez anos.

— Não adianta iniciar um esquema e não terminar. A parte importante desta intensificação da rotina é exatamente acessar o trabalhador dentro do local de trabalho e facilitar o cumprimento do esquema vacinal — disse Maira. A campanha tem sua importância reconhecida, como se vê nas palavras de Carla Gabriel, funcionária e aluna de mestrado da UFRJ: “Eu acho ótimo, muitas vezes é difícil você se afastar do local de trabalho por falta tempo ou por vontade mesmo e, aqui, a vacina está próxima da gente.”


UFRJ em alerta: Dengue, conheça e combata

Bruno Franco – Jornal da UFRJ

Na última terça-feira (15/4), foi realizado, no auditório Rodolpho Rocco, no Centro de Ciências da Saúde (CCS), o UFRJ em alerta, que reuniu especialistas da Universidade com o objetivo de ampliar o diálogo com a sociedade e prepará-la a uma rotina de prevenção e combate ao mosquito Aedes Aegypti, o principal vetor da dengue.

Sim, principal vetor, pois não é o único. Numa das muitas explicações que fugiram à mesmice do senso comum e da cobertura rápida e breve proporcionada pelos telejornais, o professor Mário Alberto da Silva Neto, do Instituto de Bioquímica Médica, indicou que o mosquito Aedes albopictus também transmite a doença, embora ele seja menos agressivo a humanos e seja encontrado com menos freqüência em meios urbanos.

Também estiveram presentes ao evento o professor Almir Fraga, decano do CCS, Roberto Leal, superintendente do CCS  Edimilson Migowsky, infectologista e chefe do setor de infectologia pediátrica do Instituto de Pediatria e Puericultura Martagão Gesteira (IPPMG). Roberto Medronho, chefe do departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina, Davis Ferreira, chefe do departamento de Virologia do Instituto de Microbiologia Professor Paulo de Góes (IMPPG) e o virologista Maulori Cabral, também professor do IMPPG.

Os sintomas da dengue incluem dor de cabeça, dores musculares, enjôo, vômito, falta de apetite, gosto ruim na boca, cansaço, depressão, sangramento e manchas vermelhas. A febre, sintoma que assusta muitas pessoas, não traduz a gravidade da infecção, ao contrário das dores no abdome (sinais de possível lesão hepática); vertigens e vômitos  indicam o agravamento do caso.

Além de transmitir dengue, o Aedes pode veicular mais de duzentas doenças, dentre as quais: febre amarela, encefalite viral, febre do oeste do Nilo e malária. Os mosquitos não nascem com esses vírus, mas de oito a doze dias após terem sido infectados tornam-se vetores dos mesmos.

Na avaliação de Mário da Silva Neto, a melhor forma de combate ao Aedes aegypti é não deixar a larva nascer. Inseticidas e repelentes não são tão eficientes. Os mosquitos adquiriram resistência a inseticidas como o DDT. “Nossa indústria farmacêutica não consegue acompanhar a adaptabilidade dos mosquitos”, lamenta Silva Neto.

O Brasil já foi atingido pelos tipos 1, 2 e 3 da dengue, e o tipo 4, já presente na Venezuela, chegará ao Rio de Janeiro. “É apenas uma questão de tempo”, prevê Davis Ferreira. Cada pessoa que tenha sofrido com a dengue, torna-se imune apenas ao tipo que foi contaminada, podendo sofrer contágio dos outros três tipos de vírus e apresentar uma infecção ainda mais agressiva. No entanto “mais de 50% dos infectados não manifestam a doença ou a têm de forma branda”, esclarece Ferreira.

De acordo com Medronho, mais de cem países já registraram casos de dengue. O que, em sua análise, tende a se agravar com o aquecimento global, a urbanização desordenada, as intensas trocas comerciais e viagens de turismo e o deficiente combate aos mosquitos.
Segundo o professor, a sociedade é vítima dessa situação. “A responsabilidade é dos entes públicos. A reação à reinfestação foi muita lenta. O número de casos notificados em janeiro foi vinte vezes superior ao esperado. Isso já compunha um quadro de epidemia, embora as autoridades o negassem”, critica Medronho.

O professor Malouri Cabral, que expôs a dramatização A fuga do Aegypti: em busca da água prometida, voltada à conscientização das crianças visando à erradicação educacional da doença, protestou contra o “desligamento” de pessoas que não foram afetadas direta ou indiretamente pela dengue. Para Cabral, “a vida humana não tem preço e qualquer gesto que possa salvar a vida de nossos pares é um gesto de cidadania”.