• Edição 119
  • 27 de março de 2008

Saúde e Prevenção

Cafeína: um risco durante a gravidez?

Seiji Nomura

Um grupo de cientistas da Divisão de Pesquisa da Kaiser Permanente, da Califórnia, conduziu um estudo sobre a influência da cafeína no aborto espontâneo. De acordo com a pesquisa do grupo, o consumo de cerca de 200mg de cafeína por dia (algo em torno de duas xícaras de café) pode levar a um risco duas vezes maior. O estudo “Maternal caffeine consumption during pregnancy and the risk of miscarriage: a prospective cohort study” foi recebido com controvérsia na comunidade científica.

— A princípio, não há estudo que comprove a necessidade de uma restrição tão forte do consumo de cafeína para gestantes —, afirma a nutricionista Alice Helena Pacheco, mestre em Nutrição Humana pela UFRJ e uma das participantes de uma pesquisa coordenada pelo professor Gilberto Kac, similar à realizada pelos cientistas americanos.

A já doutoranda lembra que, mesmo assim, é preciso cuidado. “A literatura médica e meu estudo indicam que o consumo perigoso é de cerca de 300mg da substância. Embora esse consumo seja raro no Brasil, já que geralmente consumimos café mais fraco, é preciso ser cuidadoso, pois a partir desse ponto, é possível causar um nascimento prematuro ou até um aborto espontâneo”, declara.

Alice Pacheco ressalta, uma das razões pelas quais as propriedades da cafeína podem ser tão danosas à saúde do feto é ele só ter as enzimas necessárias para sua metabolização a partir do 8º mês de vida. “É por isso que ele sofre bem mais os efeitos desse consumo. A mãe metaboliza boa parte do que ingere, mas uma parte da substância acaba passando pela placenta”, explica.

— Nosso estudo foi feito com gestantes de baixa renda, parte do grupo atendido no posto de saúde da Ilha do Governador. Seu consumo é mais atrelado ao café, guaranás naturais e refrigerantes, sobretudo os baeados em cola. Em nossa pesquisa, apenas 8,3% das mulheres estava consumindo mais que as 300 mg e cerca de 1,2%, acima de 500 mg. Diversos fatores influenciam no teor do produto, como o tipo de coleta, a forma como se prepara, o plantio. Trabalhamos com médias de diversos tipos de café e preparações -, esclarece a pesquisadora.

Ela indica que o efeito mutagênico da cafeína foi comprovado apenas em ratos. Quanto às propriedades vasoconstritoras da substância, a especialista disse não ter comprovado uma influência tão determinante. A FDA (Food and Drugs Administration) não tem limites rígidos para o consumo de cafeína durante a gravidez. “Não há razões para proibir seu consumo na gravidez. E na verdade, a própria mulher tende a sentir aversão à cafeína em seus primeiros meses”, evidencia a pesquisadora.

— É preciso sempre atentar para a alimentação da gestante e supri-la em seus nutrientes necessários. Devemos tomar cuidado não só com a cafeína, mas com o consumo de outras substâncias prejudiciais, como o álcool, fumo e demais drogas lícitas e ilícitas. Toda mulher em idade fértil, não só gestante, deve ser cautelosa com essas substâncias -, concluiu a nutricionista.