• Edição 119
  • 27 de março de 2008

Por uma boa causa

Retinopatia Diabética: cuidados evitam complicações graves

Priscila Biancovilli

O diabetes é uma doença recorrente na população brasileira e na do mundo inteiro; manifesta-se sob duas formas principais. O tipo 1 é característico de um problema no sistema imunológico, em que as defesas do corpo atacam as células do pâncreas responsáveis pela produção de insulina. Pode ser causada por fatores genéticos ou do ambiente externo e corresponde a cerca de 10% dos casos de diabetes na população. Já o tipo 2 geralmente acomete pessoas com excesso de peso, em especial que já tiveram outros casos de diabetes na família. Caracteriza-se por uma resistência natural do organismo à insulina, seguida por defeitos na secreção desta substância. Se não controlado, o diabetes pode provocar uma série de complicações, doenças cardiovasculares e do sistema nervoso periférico, além de nefropatia (diminuição do funcionamento dos rins). Um outro problema recorrente derivado do diabetes é a retinopatia, mal que afeta a parte posterior dos olhos (retina). Se não tratada corretamente, pode levar à perda total da visão.

- A retinopatia diabética é caracterizada pelo acometimento dos olhos em sua camada nervosa, a retina -, explica Eduardo Damasceno, oftalmologista do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho. São lesões causadas por alterações vasculares, que provocam pequenos sangramentos e a perda progressiva da visão.

Segundo o oftalmologista, os sintomas da retinopatia diabética são de aparecimento insidioso, da mesma forma que a instalação do diabetes. “As pequenas hemorragias inicialmente não acarretam grande perda da visão. Com o decorrer da doença, sangramentos maiores no olho (hemorragias) levam a uma piora do quadro ocular. Nos estágios finais da doença se desenvolve o descolamento da retina, muitas vezes com comprometimento irreversível da visão”, esclarece o especialista.

Os portadores de diabetes apresentam um risco 25 vezes maior de desenvolver a cegueira, se comparados às pessoas sem a doença. De acordo com o Conselho Brasileiro de Oftalmologia, a retinopatia diabética afeta cerca de 75% das pessoas que possuem o diabetes há mais de 20 anos.

Existem dois tipos de retinopatia: a exsudativa e a proliferativa. A primeira ocorre quando as hemorragias afetam a mácula, parte do olho responsável pela visão central. Já a segunda acontece a partir da progressão da doença, em que há o desenvolvimento de novos pequenos vasos no olho. Estas novas estruturas podem causar danos graves à visão e até mesmo o descolamento de retina, que leva o paciente à cegueira.

Tratamento

- A retinopatia diabética não causa cegueira em todos os casos. Evidentemente, nos estágios iniciais, mais brandos, o tratamento e a prevenção evitam maiores complicações tardias. Deve-se ter em mente que falamos de uma doença crônica, cujo principal objetivo médico é a prevenção. Por isso, é recomendado que todo o paciente diabético faça exame periódico de fundo-de-olho, para detecção precoce de qualquer comprometimento pela retinopatia -, esclarece Eduardo.

Formas leves de retinopatia diabética podem ser acompanhadas com exames periódicos, desde que haja rigoroso controle da glicemia (nível de açúcar no sangue). Formas moderadas ou pouco intensas da doença devem ser tratadas com aplicações de raio laser (fotocoagulação a laser). Por fim, as manifestações mais graves ou muito intensas devem ser indicadas para tratamento com cirurgia (denominada de vitrectomia), porém com resultado e prognóstico variável.

Para se consultar no Hospital Universitário Clementino Fraga Filho da UFRJ, “é recomendável que o paciente diabético mantenha seu controle de açúcares (medido pelo exame de glicemia em jejum), e peça ao seu médico o exame  de fundo-de-olho. Caso  haja suspeita de retinopatia diabética, deve-se procurar o setor de triagem do HUCFF”,  aconselha o doutor. Em um segundo momento, o paciente será encaminhado ao ambulatório de oftalmologia, onde acontecerá uma checagem da condição visual e da retina. Havendo confirmação de qualquer sinal de lesão pela retinopatia diabética, este paciente será encaminhado ao setor específico (setor de retina e vítreo) para o início de seu tratamento ou acompanhamento médico com exames mais apurados.