• Edição 118
  • 20 de março de 2008

Microscópio

Sexualidade na adolescência

Cinthia Pascueto – AgN/PV

No dia 4 de abril, o programa Papo Cabeça, da Maternidade-Escola da UFRJ, realiza o seminário de lançamento do livro Sexualidade no novo milênio, que reúne artigos de médicos, pesquisadores e especialistas na área. Além da coletânea, o evento conta com a discussão de três aspectos relacionados à sexualidade na adolescência: neurociência, gravidez e posicionamento religioso.

José Leonídio Pereira, professor adjunto da Faculdade de Medicina da UFRJ e coordenador do programa Papo Cabeça, conta que o Fórum ocorrido há dois anos integrou as comemorações em homenagem aos 100 anos da Maternidade-Escola, coincidente com o aniversário de dez anos do Papo Cabeça. “Toda a produção desse evento foi então organizada no livro Sexualidade no novo milênio, a serdistribuído às bibliotecas conveniadas a UFRJ”, disse o professor, que organiza a coletânea ao lado de Sílvia Rios, Cláudia Márcia Fanelli e Regina Celi Ribeiro, também coordenadoras do programa.

- O livro aborda a sexualidade em diversos aspectos, desde o social e o psicológico até a pesquisa. O debate, então, complementa a discussão proposta nos artigos, que conta com a participação dos especialistas da UFRJ, Maria Magdala Araújo, diretora da Escola de Serviço Social, Jorge Serapião, do Instituto de Ginecologia, e Laura Tavares, pró-reitora de Extensão -, descreve Leonídio, também integrante da mesa-redonda.

Para o coordenador, a importância desse evento está no envolvimento de três tópicos de discussão que aparentemente são independentes, mas que, em maior análise, se fundem. “À luz da neurociência, percebe-se que existem processos fisiológicos, pelos quais o adolescente precisa passar. É um cérebro que está se desfragmentando, está podando valores da infância e criando uma nova base”, analisa o especialista.

Nesse contexto, Leonídio cria um paralelo com questões sociais: “A menina que engravida hoje, aos 13 anos, não apresenta a mesma carga histórica de nossas avós, que engravidaram com a mesma idade. Aquele contexto social era patriarcal, de formação e concepção de família totalmente diferentes do atual, em que 70% das famílias brasileiras é monoparental. O momento social e a carga de informação diferentes influenciam enormemente um cérebro em formação”, explica.

Ao mesmo tempo, José Leonídio acredita que a religiosidade influencia a forma como o adolescente lida com sua sexualidade. “A atividade sexual faz parte do centro de recompensas do adolescente. Ao impedi-lo dessa compensação, esquece-se que se trata de um cérebro em formação, cujo pensamento racional ainda está em desenvolvimento”, defende o médico, que exemplifica: “Nos Estados Unidos o atual governo cortou os gastos, voltados a adolescentes, com programas de prevenção a doenças sexualmente transmissíveis e à gravidez precoce, em prol de um movimento religioso de manutenção da virgindade. O contexto em que se baseia, no entanto, é de um momento histórico, social, político e econômico diferente do atual”, argumenta o professor.

Papo Cabeça

O Papo Cabeça surgiu do projeto piloto Orientação à saúde reprodutora para o adolescente, com o objetivo de formar instrutores de saúde jovens nas escolas públicas, conforme explica o coordenador: “As estatísticas mostravam que 98% das adolescentes grávidas tinham filhos no SUS e estavam na 4ª e 5ª séries de escolas públicas municipais. Descobrimos, para realizar a nossa proposta de trabalho com esses adolescentes, que seria necessário sensibilizar primeiro a direção, a coordenação pedagógica da escola, depois os professores e os pais”, defende o professor, afirmando que a intervenção é feita a partir de uma filosofia construtivista: “Cada grupo de instrutores de saúde jovem participa de 8 a 12 reuniões, em cada uma delas um pedacinho do saber vai sendo construído”, esclarece.

O programa conta atualmente com a participação de outras instituições da UFRJ – como a Faculdade de Medicina, a Odontologia Social, a Escola de Química, a Escola de Serviço Social e o Instituto de Psicologia. Os projetos são: Saúde Cidadã (que discute sobre sexualidade e família), Interagir, (que lida com adolescentes com alguma deficiência física ou mental), Papo Cabeça na Praça (de produção e divulgação de recursos didáticos de baixo custo), Diversidade (trata da diversidade sexual nas escolas) e Boca a Boca (trabalha a questão da saúde e da sexualidade oral), que surgiram ao longo dos seus 12 anos de atuação.