• Edição 118
  • 20 de março de 2008

Faces e Interfaces

Chocolate, até onde se pode ir nesta Páscoa?

Priscila Biancovilli

Às vésperas da Páscoa, muitas pessoas esperam ansiosas a chegada do “coelhinho” e, principalmente, seus míticos ovos de chocolate. Em especial, neste período, explode a necessidade de consumir este doce irresistível, mas que pode se converter em um enorme peso na consciência (e na barriga), caso seja excessivo.

O consumo de chocolate está relacionado à promoção de sensações de prazer e bem-estar, ingredientes em sua composição ajudam a produzir alguns neurotransmissores, como a serotonina (que ajuda a diminuir sensações de depressão e ansiedade) e feniletilamina (que provoca emoções similares às de quando estamos apaixonados). Tanta felicidade gerada por uma barrinha explica o porquê de existirem um sem-número de chocólatras neste mundo, sejam eles assumidos ou não.

O chocolate contém, além disso, cálcio, magnésio, fósforo, ferro e as vitaminas A, B, C e D. Ou seja, falamos sobre um alimento altamente nutritivo. Ao mesmo tempo, ele também é rico em gorduras e açúcares, que levam ao aumento de peso e do colesterol, que pode levar à formação de placas de gordura nas artérias coronarianas.

Um relatório apresentado recentemente pela Associação de Cardiologia dos Estados Unidos revelou que o chocolate ajuda a reduzir os riscos de ataque cardíaco e, também, diminui a tendência de coagulação das plaquetas e obstrução dos vasos capilares.

A fim de analisar prós e contras de tão discutido doce convidamos os professores Cláudio Benchimol, cardiologista do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF), e José Egídio de Oliveira, chefe do Serviço de Nutrologia do mesmo hospital.

 

Cláudio Benchimol

Cardiologista do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho

“A literatura médica afirma que os chocolates meio-amargos e amargos são os mais saudáveis. Isto porque eles apresentam uma quantidade bem menor de gorduras saturadas, e, além disso, contém mais antioxidantes – substâncias que retardam o envelhecimento do organismo, combatendo os radicais livres.

O chocolate mais comum, que compõe a imensa parte dos ovos de páscoa comercializados em lojas de departamentos e supermercados, é feito de chocolate ao leite, bastante rico em leites, gorduras e manteigas. As gorduras saturadas são traiçoeiras: pouco a pouco, vão se acumulando na parede das artérias e produzem aterosclerose. Estes depósitos podem acontecer em qualquer parte do corpo: braços, pernas, mãos... Porém, quando ocorrem no coração são muito mais perigosos; podem levar a uma parada cardíaca e até mesmo à morte.

Alguns fatores de risco podem contribuir para a manifestação deste tipo de problema. A herança genética é o principal deles. Se sua família tem um histórico de hipertensão, colesterol e triglicerídeos altos, ou diabetes, você deve tomar muito cuidado com o excesso de chocolates ou qualquer outro alimento gorduroso. Outros fatores são fumo, estresse e sedentarismo. Todos sabem que a falta de uma atividade física regular, associada ao fumo e a uma rotina de trabalho pesada podem desencadear diversas doenças, entre elas as do coração. No entanto, muitas pessoas acabam por não fazer nada para controlar estes fatores. Não buscam a prática de um exercício físico, nem tentam parar de fumar, nem procuram formas de amenizar o estresse da vida cotidiana.

Não posso sugerir uma quantidade adequada de chocolate a ser consumida durante a Páscoa, porque o ideal varia bastante de pessoa para pessoa, considerando-se seus hábitos de vida e histórico familiar. Entretanto, nada em excesso é saudável. Cabe a cada um medir a quantidade de chocolate que julga ideal e parar ao perceber que está exagerando. Recomendo, também, dar preferência a chocolate meio-amargo ou amargo.”

José Egídio de Oliveira

Chefe do Serviço de Nutrologia do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho

“O chocolate é um alimento nutritivo e de alto valor calórico, por isso o ganho de peso pode advir de seu uso abusivo. Tem bastante concentração de gordura e carboidratos, deste modo, as conseqüências de seu consumo em excesso podem ser a elevação do triglicérides, colesterol e glicose no sangue, além do diabetes. Caso haja herança familiar, o risco se torna ainda maior. No entanto, o uso comedido, controlado, não vai expor as pessoas a nenhum destes problemas.

Caso se consuma o chocolate com moderação, podem-se aproveitar muito mais seus efeitos benéficos. Ele contém vitaminas do complexo B, cálcio, magnésio e ferro, entre outros nutrientes. Além disso, o alimento também pode ajudar na proteção cardiovascular, especialmente quando falamos do chocolate meio-amargo ou amargo, pois eles são ricos em ácido gálico e flavonóides, substâncias cardioprotetoras.

O cacau também teria certas propriedades oxidantes, mas nada foi provado cientificamente. Existem apenas indícios.

Os antioxidantes são extremamente importantes para a saúde do organismo, pois impedem a inflamação dos vasos sanguíneos, o início da aterosclerose (formação de placas de gordura na parede destes vasos).

Agora, nesta Páscoa, e em qualquer época do ano, o que as pessoas devem fazer é controlar o consumo de chocolate. Não precisa cortar completamente para manter a saúde, até porque, como já vimos, é possível aproveitar o lado positivo deste alimento. Em geral as pessoas já comem acima do que devem e é difícil manter a moderação. Não posso especificar uma quantidade ideal de chocolate. Cabe a cada um, com seu bom-senso, perceber quando está exagerando.”