• Edição 118
  • 20 de março de 2008

Por uma boa causa

Ceratocone: problema pode levar à perfuração da córnea

Priscila Biancovilli

Uma doença de causa desconhecida, atinge uma a cada mil pessoas no mundo, surge geralmente durante a adolescência, sem aviso prévio e sem que nenhuma medida de prevenção tenha se revelado eficaz até hoje. O ceratocone, uma doença não-inflamatória degenerativa que provoca o afinamento da córnea, a camada mais externa do olho (junto com o cristalino, a córnea ajuda a focar a luz através da pupila para a retina). Esta estrutura adquire, então, um formato de cone.

- O ceratocone surge geralmente entre os 15 e 25 anos de idade, pode progredir por até 15 anos. Ou seja, é normal até, aproximadamente os 40 anos, a doença continuar evoluindo. A doença nasce com a pessoa e não apresenta nenhum sintoma enquanto bebê, por exemplo, mas está programada para se desenvolver -, afirma Ricardo Lamy, médico do Serviço de Oftalmologia do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho.

O afinamento da córnea pode evoluir de forma mais agressiva, levando o paciente a necessitar de um transplante em 20% a 30% dos casos. Isso acontece porque em algumas situações a córnea fica tão fina que pode até perfurar. Se nada for feito, este problema pode levar à cegueira completa.

Sintomas e diagnóstico

O sintoma mais comum do início do ceratocone é o embaçamento progressivo da visão. “Este problema pode ser confundido com várias outras alterações no olho, como astigmatismo, por exemplo. É comum também o paciente apresentar muita coceira nos olhos”, explica o oftalmologista.

Qualquer sintoma estranho deve ser levado para o médico. O diagnóstico do ceratocone é feito através do exame de topografia corneana. “Nos estágios iniciais a doença pode ser corrigida apenas com um óculos. Depois passam a ser necessárias novas técnicas, como a lente corretiva dura ou o anel intracorneano”, afirma Lamy.

Tratamento

"O uso de lentes de contato duras ajuda a regularizar a superfície da córnea e, com isso, melhora a visão. "A lente de contato rígida pode ser incômoda, mas é uma boa opção para os casos onde os óculos não são mais capazes de fornecer boa visão.", esclarece Lamy. Outra forma de tratamento é o anel intracorneano ou anel de Ferrara. “Introduzimos dois segmentos de anel (semicírculos) em cada lado da córnea, e a esticamos”, continua. Nenhum desses tratamentos, porém, interrompe a evolução da doença; apenas ajudam a melhorar a visão.

No entanto, há, aproximadamente, dez anos uma nova técnica surgida na Alemanha vem obtendo sucesso no controle da progressão da doença. Em alguns casos, chega até ao ponto de melhorar um pouco a visão do paciente. Trata-se do Cross Linking, um tratamento realizado com luz ultravioleta e um colírio à base de riboflavina. “Esta técnica aumenta o número de ligações entre as fibras de colágeno da córnea, enrijecendo-a novamente.

Cross Linking e o Hospital Universitário

O Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF-UFRJ) foi o primeiro do Brasil a oferecer o Cross Linking. De outubro de 2007 a março de 2008, cinqüenta pacientes conseguiram este tratamento, de forma gratuita. Além disso, o HUCFF está montando um banco de dados de futuros interessados em tratar-se com esta técnica, já que recentemente os tratamentos precisaram ser interrompidos. “Na verdade, o aparelho do Cross Linking não é propriedade do Hospital, foi um empréstimo. Precisamos devolvê-lo agora em março, pois o HUCFF não dispôs de verba para adquiri-lo”, lamenta Ricardo.

Os exames pré-operatórios, requeridos para este tipo de tratamento, foram realizados através de uma associação entre o HUCFF e o Hospital de Olhos em Niterói. Juntas, estas duas instituições vêm desenvolvendo alguns projetos sociais. “Somos muito gratos a eles. Todos os 100 exames que realizamos neste período foram gratuitos”, comemora o especialista e ao mesmo tempo acrescenta que existe a expectativa de o aparelho de Cross Linking voltar para nosso Hospital. “Por isso, os interessados devem enviar um e-mail para lamy@ufrj.br e se cadastrar no banco de dados”, finaliza Ricardo.