• Edição 117
  • 13 de março de 2008

Notícias da Semana

Setenta anos de energia

Fundador do IBqM é homenageado em seu 70º aniversário

Marcello Henrique Corrêa

Não há lugar melhor para comemorar o aniversário do que entre os amigos. Parece que o professor Leopoldo de Meis, fundador do Instituto de Bioquímica Médica (IBqM), compartilha dessa idéia. Marcado por muita emoção, professores de diversos lugares do Brasil e do mundo marcaram presença na celebração dos 70 anos de De Meis. O evento, de título “A bioenergética e a energética de uma vida”, ocorreu no auditório Rodolpho Paulo Rocco, o “Quinhentão”, com previsão para durar dois dias.

Presentes na solenidade de abertura estavam Ângela Uller, pró-reitora de Pós-graduação e Pesquisa da UFRJ, representando o reitor Aloísio Teixeira, a decana em exercício do Centro de Ciências da Saúde, Maria Fernanda Quintela Nunes e Débora Foguel, diretora do IBqM. Além delas, compuseram a mesa Jerson Lima Silva, representando a Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ) e a Academia Brasileira de Ciências e Paulo Beirão, em nome da Sociedade Brasileira de Bioquímica e Biologia Molecular.

Professor, amigo e mestre: os quatro ensinamentos

O primeiro discurso foi também o mais emocionado. Débora Foguel assumiu o microfone, com a intenção de lembrar um pouco dos ensinamentos absorvidos de Leopoldo de Meis. “O primeiro ensinamento e talvez o mais importante e sublime foi o de nos conscientizar de que a receita para curar um sonho é permitir-se sonhar mais, sonhos mais ousados e mais ambiciosos”, começou a diretora, ressaltando a importância de ousar para progredir.

— Leopoldo nos ensinou que quando a gente anseia muito uma coisa porque é boa para nós, para a Instituição e para a sociedade, não devemos nos intimidar com os obstáculos que aparecem, impondo-nos limites —, lembrou Foguel. Ela se refere a projetos como o do Centro Nacional de Ressonância Magnética Nuclear, inaugurado no ano passado e considerado referência na América Latina.

O segundo ensinamento lembrado por Débora Foguel foi o de espírito de equipe, para ela, fundamental para o crescimento da Instituição. “As portas dos laboratórios não podem representar empecilhos para compartilharmos tudo que eles contêm, fazendo uso de tudo de forma conjunta, com responsabilidade”, afirmou.

— Todos sabemos que, infelizmente, os recursos para infra-estrutura têm sido escassos, mas o espírito de equipe sempre nos fez crescer, desenvolvendo em cada um o sentido do coletivo, tão forte que tem nos projetado como uma instituição renomada de pesquisa, ensino e extensão —, completou a professora.

O terceiro ensinamento é também a marca registrada de Leopoldo de Meis. A valorização dos jovens hoje se concretiza na forte presença dos alunos nas atividades  do Instituto, além dos cursos de férias, criados pelo aniversariante. “Ele, certamente, atrai como um ímã os jovens que, em seguida, os impulsiona para vôos mais altos. Praticamos já nos nossos laboratórios esse terceiro ensinamento, que reza sobre o cuidado e carinho que precisamos dispensar aos nossos jovens”, destacou Débora Foguel.

A própria estrutura do Instituto é preparada para os jovens, em um sistema de orientação em cascata, em que alunos mais graduados orientam os mais jovens. O modelo já demonstra seus resultados, na prática. “Esse modelo levou o aumento de trabalhos de iniciação científica do Instituto que, por sua vez, resultou no aumento de pós-graduandos. Nossos estudantes de pós-graduação são, desde cedo, treinados para lecionar na graduação e até mesmo nos cursos de férias”, informou a diretora.

O quarto ensinamento se refere ao compromisso da Universidade para com a sociedade. Débora vê os cursos de férias como o símbolo maior desse princípio passado pelo professor. “É preciso um enorme esforço e criatividade para resgatar essa juventude desacreditada da escola, da leitura, que tem aversão a Matemática e, sequer, sabe o que é Ciência. Leopoldo, há quase 25 anos, tomou para si a responsabilidade de tentar reverter esse quadro, mesmo que fosse com uma gota cristalina num mar de lama”, declarou, já entre lágrimas, Foguel.

Débora acredita que os cursos de férias representam uma marca da sabedoria de Leopoldo de Meis, abrindo as portas da Universidade para o ensino básico. “Aqui aprendi que com muito pouco esforço e recursos, muito se pode fazer para darmos a nossa pequena parcela de contribuição para tentar reduzir a vergonha que sentimos em relação à nossa educação básica”, contou.

Para a professora, sempre haverá espaço para expandir esse projeto. “Eu ainda tenho um sonho, transformar nossa UFRJ, durante as férias, num grande parque de cursos de férias com todas as unidades para, quem sabe um dia, chegarmos às cifras de 40 mil alunos e 80 mil professores atendidos”, revelou. “Como aprendemos no primeiro ensinamento do mestre, sonhos se curam com mais sonhos”, finalizou a professora.

Após a solenidade, Leopoldo de Meis foi presenteado com uma peça artesanal, de acordo com a personalidade artística e sensível, destacada por todos os presentes. O evento conta, ainda, com uma programação de discussões e conferências científicas, amanhã, 14 de março, no mesmo horário, com o tema “Uma trajetória e muitas histórias”. As palestras de amanhã também ocorrem no “Quinhentão”.


Formatura da primeira turma de educação a distância na UFRJ

Priscila Biancovilli

Aos olhos dos desavisados, aquela parecia uma cerimônia de graduação como qualquer outra. Mas não era. No último dia 11 de março, diversas autoridades da UFRJ participaram da colação de grau da primeira turma de educação a distância da universidade. Os formandos, que acabaram de conquistar o diploma de licenciatura em Ciências Biológicas – exatamente o mesmo de um aluno presencial – simbolizam uma transição. Pela primeira vez a idéia de um projeto de educação a distância armazenou fôlego suficiente para ser implementado, e, mais importante, deu certo.

O evento, que aconteceu no auditório Rodolpho Paulo Rocco, do Centro de Ciências da Saúde (CCS), contou com a presença do reitor Aloísio Teixeira, do secretário de Educação à Distância do MEC, Carlos Eduardo Bielschowsky, da pró-reitora de graduação, Belkis Valdman, da decana em exercício do CCS, Maria Fernanda Quintela, da vice-diretora do Instituto de Biologia, Irene Garay, da presidente do Consórcio CEDERJ, Masako Masuda, e do coordenador da licenciatura em Ciências Biológicas, Ricardo Iglesias.

Em um discurso visivelmente emocionado, Ricardo Iglesias pincelou algumas reflexões sobre o mundo em que vivemos atualmente, de predação e competição. “O sistema econômico construído por Adam Smith tinha a competição como algo fundamental. Se o governo promover a competição através da mão invisível da justiça, haverá o progresso. Charles Darwin também criou uma teoria – da evolução das espécies – válida até hoje. Um dos pilares desta doutrina é a exclusão competitiva, em que os melhores sobrevivem. A Educação a distância tem um histórico de descrédito. Mas isso estava relacionado à má qualidade das instituições que ofereciam estes cursos. Um dia, um grupo de professores teve a idéia de criar um projeto desse, mas com profissionais de alta qualidade. Hoje, todas as universidades públicas oferecem estes cursos, através de um consórcio (CEDERJ). Sem competição ou predação pelos melhores professores. Trata-se de uma união. Tenho certeza que os alunos que formamos hoje na educação a distância têm o mesmo nível dos alunos que fizeram o curso presencial”, afirma o professor.

Em seguida, foi a vez da professora Irene Garay se manifestar. “Esta reunião faz parte de um dos processos mais felizes da minha vida profissional. Todos os biólogos têm uma função: trazer um pouco mais de vida a todos ao seu redor. Espero que vocês desempenhem isso muito bem. A UFRJ sempre será a casa de vocês”.

Maria Fernanda Quintela discursou de forma otimista, afirmando que o Centro de Ciências da Saúde geralmente se posiciona como uma vanguarda da UFRJ. “Apesar de nosso centro ser às vezes considerado conservador, estamos à frente de muitas mudanças importantes, tanto no ensino, quanto na pesquisa e extensão. No início, questionei como um curso que exige tanta prática pudesse ser oferecido a distância. Entretanto, ao longo do tempo, e após muita luta, o processo foi aprovado no Conselho de Centro. Podemos partir para outras unidades, se assim julgarmos necessário. Para finalizar, só tenho que parabenizar e agradecer a oportunidade de integração e de fazer coisas novas nesta universidade”.

A presidente da Fundação CECIERJ Consórcio CEDERJ (Fundação Centro de Ciências e Educação Superior a Distância do Estado do Rio de Janeiro), Masako Masuda, também proferiu suas palavras. “Este é um momento muito significativo para mim e para vários colegas. A oferta deste curso contou com a colaboração de várias unidades do CCS e de fora dela, como por exemplo, o Instituto de Física, e também com outras universidades públicas do Estado. Esta atitude permite a gênese de uma nova atuação da universidade, frente às necessidades da sociedade. Tenho muita convicção de que vocês, formandos, estão muito bem preparados para a missão de vocês: melhorar a educação no país”.

Para finalizar o discurso das autoridades, o secretário Carlos Eduardo iniciou sua fala com uma homenagem ao professor Darcy Ribeiro, que propôs a idéia da educação a distância. “Ele foi um dos maiores pensadores da universidade aberta no Brasil. Eu tinha muitas dúvidas sobre a eficiência deste sistema de educação a distância, mas sempre acreditei. Para se ter uma idéia, as notas dos alunos a distância no ENADE, dentro desta área, são maiores que a dos presenciais. O aluno constrói sua autonomia, e chega ao final com a capacidade de mudar nossa realidade perversa. Hoje, aqui, se constrói uma história”.

O consórcio CEDERJ foi criado em 1999, através de uma união entre o governo do Estado do Rio de Janeiro e as seis universidades públicas sediadas nesse Estado. Entre seus objetivos está aumentar a oferta de vagas em cursos de graduação e pós-graduação no Rio de Janeiro, contribuir para a interiorização do ensino superior público e de qualidade, e facilitar o acesso à educação daqueles que não podem estudar nos horários tradicionais. Atualmente, a UFRJ oferece nesta modalidade a Licenciatura em Ciências Biológicas e em Física.