• Edição 114
  • 31 de janeiro de 2008

Argumento

Pesquisador uruguaio apresenta estudo controverso

Marcello Henrique Corrêa

Recentemente, São Paulo recebeu os resultados dos estudos do pesquisador Luis Seguessa. Em uma conferência no hotel Grand Hyatt, o estudioso uruguaio reuniu representantes da imprensa e artistas para divulgar as conclusões alcançadas depois de 20 anos de trabalho, segundo sua assessoria de imprensa. O conteúdo da pesquisa, no entanto, se agradou às celebridades presentes no hotel, não teve muita repercussão na comunidade científica.

Entre os principais pontos da conferência estava o alarmante anúncio de uma possível falta de oxigênio no planeta dentro de pouco tempo, segundo os estudos de Seguessa. Para Alex Enrich Prast, professor adjunto do Departamento de Ecologia do Instituto de Biologia da UFRJ, as informações trazidas por Luis Seguessa não procedem e não têm comprovação científica. “Existem pesquisadores sérios, no mundo todo, que trabalham com esse assunto e não há nenhum indicativo claro de que esteja havendo uma diminuição das concentrações de oxigênio”, afirma.

Para Seguessa, os motores de combustão interna (MCI), encontrados em automóveis, são os grandes vilões do suposto fim do oxigênio na Terra. O uruguaio classifica o processo como “seqüestro de oxigênio”. Enrich Prast explica, no entanto, que não há razão para acreditar nessas previsões. “A questão do motor de combustão interna apresentada por Seguessa não tem fundamento. Para entender: o Brasil é responsável por parte da emissão de CO2. Isso vem principalmente do desmatamento da Amazônia. Isso quer dizer que as emissões feitas por carros ou outras fontes, apesar de não deixarem de ser importantes, não são tão significativas”, esclarece o professor.

Alex Enrich Prast, baseando-se nas taxas de carbono emitidas nos últimos anos, explica que o oxigênio não pode estar em níveis críticos. “Consideremos que está havendo um aumento de cerca de 100 partes por milhão (ppm) das concentrações de CO2 na atmosfera, da Revolução Industrial até agora. Guardadas as variações possíveis, para cada átomo de carbono liberado, há uma molécula de oxigênio consumida”, afirma. “Se 21% da atmosfera é oxigênio e em termos de CO2 temos algo em torno de 0,05%, chega-se a conclusão de que o aumento de CO2 não influencia significativamente nos 21% de oxigênio”, completa.

Seguessa e a Bíblia

Luis Seguessa é conhecido também pela pesquisa das escrituras. Segundo ele, as passagens bíblicas e apocalípticas são a “ponte entre Deus e o Homem”. “Eu não posso comentar a esse respeito, pois não sou especialista no assunto. Falo aqui como pesquisador de mudanças climáticas, assim como há outros mais competentes do que eu, na própria Universidade”, comenta o professor.

— Conheço alguns críticos das mudanças climáticas, que apresentam diversos pontos de vista, muitas vezes divergentes dos meus. Essas pessoas, contudo, têm opiniões baseadas em fatos e em números. São pesquisadores com os quais posso até não concordar, mas entendo seus argumentos e os respeito — ressaltou Enrich Prast. “Entretanto, essa pessoa é simplesmente um alarmista. Nada disso faz sentido e nem tem embasamento teórico”, conclui o professor.