• Edição 113
  • 17 de janeiro de 2008

Microscópio

Trabalho sobre crianças infectadas por HIV ganha espaço em Congresso

Michaell Grillo - AgN/PV

A partir do próximo dia 25, a cidade de São Paulo será palco de um grande evento da área de odontologia que ocorre no Pavilhão de Exposições do Anhembi (av. Olavo Fontoura, s/n, Santana), em São Paulo. Trata-se da 26ª edição do Congresso Internacional de Odontologia de São Paulo (CIOSP), que promete reunir mais de 60 mil pessoas, entre congressistas de vários países, cirurgiões dentistas, estudantes de odontologia e outros.

O encontro se estende por mais quatro dias e não se limita a uma série de palestras. Conta também com um projeto social direcionado aos idosos, intitulado “Odontologia Comunidade”, formado por uma equipe qualificada preparada para falar sobre higiene e doenças bucais, além transporte, alimentação e outros aspectos sociais.

O evento tem entre seus principais objetivos fazer com que os participantes consigam aplicar rapidamente, em seus consultórios, o que for apreendido no CIOSP, e proporcionar uma atualização do conhecimento científico dos que trabalham na área odontológica. Essa na verdade é a temática central da 26° edição: aliar a experiência de tais profissionais a aprimoramento da técnica.

A representante da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Ivete Pomarico Ribeiro de Souza, professora titular da instituição e especializada em odontopediatria, terá a missão de apresentar o tema “Abordagem odontológica da criança infectada pelo HIV”. Na ocasião a professora lança um livro (pela Editora Santos), em parceria com Glória Fernanda Castro, professora adjunta de odontopediatria, também da UFRJ. A apresentação está inserida no módulo “Como ficar mais esperto em odontologia”.

O tema em questão é um resumo do livro, relata a experiência dos profissionais de odontopediatria da UFRJ junto ao Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira (IPPMG) de atendimento a crianças infectadas pelo HIV. A publicação mostra, ainda, todos os procedimentos junto a esses pacientes que resultaram num declínio das manifestações bucais, decorrente da modificação de terapias. Na verdade o Instituto apresenta um dos serviços mais ativos do Brasil no que tange ao atendimento a crianças soropositivas. Desde 1993, Ivete Pomarico e sua equipe integram esse grupo multidisciplinar.

- Nós atuamos no próprio ambulatório, no dia da consulta médica da criança. Enquanto ela aguarda o atendimento, ou até mesmo, depois dele, dependendo do fluxo de pacientes, a criança é atendida pelo dentista, que fornece a ela e ao responsável, informações sobre a prevenção de cáries. E quando há necessidade, ainda aplicamos flúor, ressalta Pomarico.

Como característica dessa condição de infecção pelo HIV, a criança apresenta manifestações bucais, sejam elas em tecidos moles, ou um índice de cáries maior do que é observado em outras crianças, sem a doença. Daí, a importância de manter o dentista junto a esses pacientes, para que assim, elas possam realizar os exames clínicos a cada três meses, na intenção de conferir esse índice de cáries.

O livro e por conseqüência, o trabalho a ser apresentado no CIOSP, também realiza uma abordagem psicológica dessas crianças, já que desde pequenas, têm que aprender a conviver com o preconceito que o portador do HIV sofre na sociedade. A professora Ivete Pomarico chega a revelar que assim que começou a trabalhar com esses pequenos pacientes, as pessoas tinham receio de atendê-las, com medo de contrair a AIDS. “No início dos anos 90, os infectados pelo vírus em questão eram vistos como seres de outro mundo”.

O trabalho também consiste em propor um protocolo de atendimento a esses pacientes: “Esse protocolo, que não existe em nenhum lugar, será proposto por nós, no Congresso, e esperamos que seja adotado. O Ministério da Saúde divulga, demasiadamente, todos os programas de AIDS, mas não divulga nenhum tipo de protocolo de atendimento odontológico. Então, é extremamente importante que essa sistemática de atendimento seja implementada em todos os serviços que atendem crianças infectadas”, relata com entusiasmo, Ivete Pomarico.

Esta é a primeira publicação, direcionada especificamente a crianças infectadas pelo HIV, “o que propicia explorar os detalhes acerca do assunto, fato ausente de outras publicações, por falta de espaço ou por falta de conhecimento”, finaliza a professora.