• Edição 112
  • 20 de dezembro de 2007

Argumento

Cuidados com a vida

Clarissa Lima

Preocupação com a vida é fundamental para se desenvolver qualquer tipo de trabalho. Por isso, é de extrema importância que se faça um controle rígido dos riscos que certas práticas representam para as pessoas. Neste contexto, discutir a biossegurança é primordial como relata o professor Tomaz Langenbach, do Instituto de Microbiologia Professor Paulo de Góes (IMPPG-UFRJ), que desenvolveu, com sua equipe, um relatório sobre a segurança dos funcionários e pesquisadores dos laboratórios do Centro de Ciências da Saúde (CCS).

Tomaz que é chefe do Laboratório de Toxicologia do IMPPG e esteve durante 8 anos na presidência da Comissão de Biossegurança da UFRJ, procurou mostrar como a biossegurança trabalha com a avaliação dos riscos que cada exercício profissional representa para a vida das pessoas.

- Nosso projeto, chamado Sábios, avaliou os aspectos de maior risco aqui do Centro. Percorremos todo o CCS e nos voltamos para certos aspectos que tinham necessidades mais evidentes – declara o professor.

De acordo com ele, quatro áreas em particular foram analisadas, visando a obter um registro de complicações generalizado. Não apenas os laboratórios foram visitados, como também foram inspecionados corredores e até mesmo a estrutura externa do prédio.

- Vimos a precariedade das instalações, contamos o número de capelas de laboratório e exaustores, muito importantes para expelir os gases com os quais trabalhamos, e evitar a contaminação. Também é necessário que haja filtragem, tratamento desses gases. Na frente do meu laboratório, por exemplo, tem uma árvore. O galho que está na frente do exaustor está completamente morto, enquanto o resto da árvore está bem. Isso ilustra o que eu digo – relata Tomaz.

Nos corredores, o grupo monitorou a quantidade de microorganismos presentes no ar e viu que, em alguns pontos do CCS, este número está além do permitido por lei para o bem da saúde humana. Eles também avaliaram a ventilação, e viram que o deslocamento do ar, importante na dissipação de certos gases que porventura escapem e na dispersão dos microorganismos, não é eficiente.

- Sugerimos a substituição dos vidros por basculantes, para permitir a circulação do vento. No subsolo, seria interessante instalar uma tubulação que fizesse introdução e sucção de ar, para renová-lo - demonstra o docente. De acordo com alguns professores o subsolo é foco de muitas preocupações, devido à falta de infra-estrutura necessária para comportar salas de aula e laboratórios.

Segundo Tomaz, dentro dos laboratórios, os riscos são ainda mais claros. O grupo fez uma medição das condições individuais de cada um deles, classificando-os em categorias de alto, médio e baixo risco.

- Nós nos concentramos principalmente nos laboratórios que apresentaram alto e médio risco. Como mexemos com produtos tóxicos, microorganismos patogênicos, doenças parasitárias e substâncias cancerígenas, é essencial que tenhamos equipamentos adequados, que possam garantir nossa segurança dentro do ambiente de trabalho. O risco é intrínseco ao laboratório, mas precisamos fazer com que ele seja o menor possível.

Eles também observaram o número de pessoas que utiliza estes espaços e detectaram pontos em que ocorre superpopulação. Langenbach diz que isto levou a um processo de “favelização” do CCS. Assim, muitos laboratórios expandiram-se descontroladamente, invadindo com seus equipamentos os corredores e gerando uma série de problemas. Por fim, eles tiveram uma preocupação integrada com a epidemiologia.

- Devido aos elementos com os quais trabalhamos, podemos nos tornar fonte de inúmeros problemas. Devemos tomar bastante cuidado com isso, sinaliza o professor.

Ele encerrou sua explanação relembrando que mitificar a ciência não é o melhor caminho. “Pode-se ver como o avanço tecnológico não trouxe apenas soluções, mas também muitos problemas. Nós trabalhamos visando ao progresso científico, mas ele tem suas conseqüências. Devemos sempre avaliar riscos e, apenas quando for preciso, assumi-los. Mas isso deve acontecer somente em favor de um bem maior.”