• Edição 110
  • 06 de dezembro de 2007

Ciência e Vida

Pesquisa em imunoterapia

Laboratório da Microbiologia estuda novas possibilidades para vacinas contra urticária papular

Clarissa Lima

O “Ciência e Vida” desta semana apresenta um pouco da pesquisa do Laboratório de Imunoquímica, do Departamento de Imunologia do Instituto de Microbiologia Professor Paulo de Góes (IMPPG). Maria Helena da Silva, docente responsável pelo projeto, informa: “Não nos prestamos a uma linha de pesquisa determinada, única. Aqui, é possível desenvolver trabalhos em diversas áreas. Um rapaz há pouco tempo estava pesquisando a área de Veterinária, mas também já houve Farmácia e outras especialidades. Em geral, o que nos une é a técnica utilizada, de imunologia aplicada a antígenos e anticorpos.”

Devido a esta característica, há alguns anos, o farmacêutico Ruppert Ludwig Hanhstadt surgiu com uma nova proposta: “Ele já havia iniciado em São Paulo uma parceria com um médico do Hospital do Servidor Público. Lá, eles aplicaram vacinas contra a chamada urticária papular em crianças. Aqui, conhecemos e avaliamos o método que Ruppert utilizou para desenvolver a vacina”, explica a professora.

Urticária papular

Este termo refere-se a reações de hipersensibilidade que algumas pessoas sofrem, principalmente crianças, ao serem picadas por mosquitos. Maria Helena conta que, “quando um mosquito nos morde, ele injeta sua saliva em nossa pele. E, com o passar do tempo, as pessoas vão adquirindo certa tolerância a essas mordidas”.

Contudo, esta capacidade varia de pessoa para pessoa. Assim, alguns podem ser afetados por mais tempo pelo incômodo das reações alérgicas do que outros. “É normal que se formem manchas avermelhadas com centro esbranquiçado no local da picada. Elas costumam coçar muito, o que pode levar a infecções secundárias que tornam o problema ainda mais desconfortável”, analisa a docente.

Por isso, o farmacêutico se interessou por esta questão e passou a estudar mais profundamente formas de combater a urticária. De acordo com Maria Helena, ele fez extratos de corpo total de mosquitos da espécie Culex quinquefasciatus e, após diluição, centrifugação e outras técnicas, foi capaz de criar um composto que poderia induzir esta tolerância aos mosquitos. “Com a autorização dos pais das crianças, então, o médico que o acompanhava aplicou gotas desta mistura sob a língua das crianças, apresentando resultados positivos”.

O laboratório e suas pesquisas atuais

Devido aos aspectos favoráveis que sua pesquisa assumiu, Ruppert considerou seu trabalho concluído. Ele fez análises no Laboratório e deixou uma cópia de sua dissertação lá. Apresentando este texto, a docente comentou: “Como sua área é a Farmácia, o estudante ficou satisfeito com seu trabalho e não quis continuar a pesquisa. Mas nós, atualmente, estamos estendendo o conhecimento que ele nos deixou.”

Hoje, o que se estuda no Laboratório de Imunoquímica são formas de decompor esta mistura para verificar seu princípio ativo. Segundo a responsável, sua finalidade não é, primordialmente, a criação de uma vacina mais eficaz, mas sim descobrir quais os componentes constituintes produzem estes efeitos nas pessoas.

“Há algum tempo atrás, falava-se em alergia a poeira. Depois, soube-se que o problema na realidade era causado por ácaros. Hoje, já é do nosso conhecimento que as reações são causadas por uma proteína existente nas fezes dos ácaros. Nossa proposta em relação a esta vacina desenvolvida por Ruppert atua neste mesmo sentido: desmembrar todos os componentes constitutivos da saliva dos mosquitos e descobrir os efeitos de cada uma em particular, ao invés de unir a todas contra uma mesma gama de sinais”, explicita a professora.

Por fim, Maria Helena encerra salientando a importância da união de ensino, pesquisa e extensão para criar soluções e pesquisas pertinentes na Universidade. “A Universidade, a princípio, era o lugar do aprendizado. Depois, viu-se que o professor deveria ter conhecimento de causa para ensinar, o que levou o docente a ser também pesquisador. Agora, a extensão é uma forma de levar este conhecimento adquirido também para a sociedade. Por isso, enfatizo o aprendizado que deve ocorrer na pesquisa em laboratório.”