• Edição 110
  • 06 de dezembro de 2007

Por uma boa causa

Gravidez psicológica

Seiji Nomura

O “Por uma boa causa”, que em dezembro será mais curto, trata neste mês de doenças que simulam outras, apresentando grande parte de seus sintomas. Nessa edição, a enfermidade tratada é a pseudociese, ou a gravidez psicológica. Uma condição rara na qual uma mulher pode apresentar todas as características de uma gravidez real, exceto o próprio bebê.

Ivis de Oliveira, enfermeira de obstetrícia, professora titular de enfermagem obstétrica do Departamento de Enfermagem Materno-Infantil da Escola de Enfermagem Anna Nery da UFRJ e membro do Comitê Estadual de Controle e Prevenção de Morte Materna e Perinatal da Secretaria de Estado de Saúde e Defesa Civil do Rio de Janeiro, afirma que essa doença é decorrente de um trauma psicológico pelo qual a pessoa passou, cujos efeitos procura superar através da gravidez.

— Casos como a perda da família, não poder mais engravidar, a morte do marido com quem se queria ter um filho ou até mesmo casos em que já se tem filhos e família, mas que a pessoa se sente desfavorecida em alguma situação por não estar grávida, como no trabalho, são os mais comuns de pseudociese —, afirmou a professora.

De acordo com ela, para se identificar um caso de gravidez, são usados três tipos de exame. O clínico, o laboratorial e o ultrassom. Os dois primeiros podem acabar diagnosticando a paciente como uma grávida de fato, já que essa doença psicossomática faz com que a paciente tenha amenorréia, aumento dos seios, náuseas e até grande parte dos hormônios da gravidez. O ultrassom já garante certeza, “Se o bebê não estiver lá, já se sabe que se trata da gravidez psicológica, não da de fato”, disse a enfermeira.

Ainda assim, é possível diagnosticar o problema antes dessas fases. “Na avaliação clínica, somente a fase de confirmação, a de checar os batimentos cardíacos do feto, pode diferenciar com certeza uma pseudociese de uma gravidez real”, ressalta a doutora. Ela também lembra que na literatura, não há casos do hormônio Gonodotrófico coriônico tipo β (Beta HCG), o que também permite o diagnóstico laboratorial.

A especialista lembra que a pseudociese não é uma gravidez falsa, ou seja, a mulher não sabe que não está grávida. “Na cabeça dela ela se sente grávida, pensa como grávida. Deve ser cuidada não como alguém que está falsificando uma gravidez, mas como alguém que está com uma doença psicossomática”, alerta ela. “A paciente sempre precisa de muito cuidado e atenção. É muito importante que a família esteja presente ao tratamento”, continua a pesquisadora.

— Algumas vezes a enferma não é a única prejudicada; para a família pode ser uma grande decepção se estivesse esperando o novo membro. Também é preciso atenção se todos não estavam contentes com a gravidez. Se a família a tratar como uma louca, há o risco de que ela passe a ser uma, devido ao trauma –, ressalta Ivis.

— Outro grande perigo é se essa grávida seguir essa gestação toda, sem fazer trabalho de parto. Há algum tempo, uma mulher entrou na sala de parto e só identificaram que era uma pseudociese quando abriram o abdômen para fazer o parto à cesariana. É um perigo para a equipe porque pode ser um erro médico expor a paciente ao risco cirúrgico. — finaliza a professora.