• Edição 109
  • 29 de novembro de 2007

Argumento

Políticas humanas no IPPMG

Stéphanie Garcia Pires – AgN/Praia Vermelha

A fim de valorizar o cuidado em todas as atividades exercidas no âmbito hospitalar, o Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira (IPPMG) da UFRJ investe em gente. Ao longo dos anos, tendo como diretriz a Política de Humanização do Ministério da Saúde, a equipe busca parceria com Organizações não-governamentais (ONG) e com outras iniciativas que visem tornar dinâmico o cotidiano das pessoas nos hospitais. Em entrevista ao Olhar Vital, Sonia Motta, coordenadora do Núcleo de Humanização do IPPMG, detalhou os objetivos e os projetos que integram o esforço da instituição em aprimorar as relações entre médicos, pacientes e seus familiares.

A Política Nacional de Humanização (PNH) despontou, em 2003, como prioridade da Agenda de Compromissos do Ministério da Saúde. A finalidade é qualificar os serviços prestados na rede pública de saúde, tornando-os também mais acessíveis. Três anos depois, a direção do IPPMG criou uma assessoria específica para a coordenação das ações previstas pelo PNH. Dentre as estratégias propostas para alcançar os objetivos desejados, Sonia destaca o trabalho com equipes multiprofissionais e a construção de redes solidárias e interativas, incluindo um pacto entre os diferentes níveis de gestão do Sistema Único de Saúde (SUS), nos âmbitos federal, estadual e municipal. A médica atenta para o empenho geral em identificar as necessidades, os desejos e os interesses dos diferentes sujeitos do campo da saúde.

Seguem a lógica da Política de Humanização, projetos como Doutores da Alegria, no qual “profissionais, através da arte do palhaço, nutrem essa forma de expressão para enriquecer a experiência humana”, define Sonia. Como sugere o próprio nome, o grupo leva alegria às crianças hospitalizadas, aos seus familiares e aos agentes de saúde. Há ainda o projeto Brincante, iniciativa da Escola de Educação Física e Desportos (EEFD) da UFRJ. “Semanalmente, graduandos da EEFD, sob a supervisão de dois de seus professores, organizam atividades lúdicas na sala de espera do ambulatório. Isso contribui para a socialização e o desenvolvimento psicomotor das crianças atendidas em regime ambulatorial no IPPMG”, explica a médica.

Incentivando a leitura, atua no hospital a Associação Viva e Deixe Viver, os Contadores de Histórias. A ONG busca envolver as crianças e adolescentes hospitalizados com entretenimento, cultura e informação educacional. No segundo semestre de 2007, 16 voluntários foram selecionados para garantir essas atividades no IPPMG. O projeto Biblioteca Viva em Hospitais é mais um exemplo.  A colaboração entre o Ministério da Saúde, a Fundação Abrinq pelos Direitos da Criança e o Citibank, “tem como proposta formar mediadores de leitura e instalar espaços com livros de literatura infantil e juvenil, permitindo a vitalidade da saúde psíquica dos jovens pacientes internados ou em atendimento ambulatorial”. Sonia destaca como benefício do empreendimento a possibilidade de “propiciar o alivio de tensões e as mudanças favoráveis no quadro psicológico das crianças, além de facilitar a integração entre elas, seus familiares e o corpo funcional do hospital através da mediação de leitura.” 

A coordenadora do Núcleo de Humanização do IPPMG comenta mais uma vitória da instituição. No dia 5 de dezembro de 2007 será inaugurada a Quimioteca. Idealizado em conjunto com a ONG Desiderata, o espaço será usado para uma maior dedicação a crianças e adolescentes com câncer, melhorando o atendimento durante o período do tratamento ambulatorial. A motivação principal é oferecer um ambiente diferenciado e acolhedor, utilizando o brincar como estratégia para ampliação do vínculo com a família e o jovem. Espera-se que a estratégia favoreça o desenvolvimento do paciente, trazendo como efeito maior adesão ao tratamento e melhor resposta à terapêutica. 

O apoio espiritual fica ao encargo do Serviço de Capelania, instituído no IPPMG há aproximadamente quatro anos. Respeitando as religiões e crenças individuais, são organizados grupos de reflexão focados em temáticas do cotidiano, tais como a ética, o estresse no trabalho e as relações familiares. No esforço para amplificar a estrutura de ajuda, o instituto uniu-se à Associação Saúde Criança Recomeçar, cuja metodologia de trabalho foi originada pela ONG Renascer. O auxílio direciona-se especialmente a famílias de risco de crianças e/ou adolescentes depois que eles recebem a alta hospitalar. A intenção principal é evitar novas internações dos pacientes, através de uma assistência continuada depois de concluído o tratamento desses jovens no IPPMG. 

Por fim, Sonia comenta o projeto Classe Escolar, em convênio com a Secretaria Municipal de Educação. A iniciativa tem como base impedir o prejuízo no percurso pedagógico de crianças em idade escolar que – por sofrerem de doenças mais complexas – precisem passar por longos períodos de internação. O IPPMG reservou uma sala onde duas professoras orientam diariamente os jovens pacientes em exercícios escolares. Crianças que por ventura não possam se locomover até a sala são visitadas em seus próprios leitos pelas educadoras. A médica sintetiza esse e os demais projetos como uma chance para que o IPPMG confira a seus pacientes e familiares uma rotina menos hospitalar e mais próxima das oportunidades de diversão e aprendizagem de que desfrutam as crianças saudáveis.