• Edição 108
  • 22 de novembro de 2007

Faces e Interfaces

Falta de libido tem solução

Marcello Henrique Corrêa e Priscila Biancovilli

Falta de apetite sexual é coisa séria. Muitas vezes, o problema pode causar incômodas preocupações para quem sofre e para o parceiro. Envelhecimento e alterações hormonais são apontados pelos pacientes como os principais suspeitos. Além destes, causas psicológicas são frequentemente relacionadas e outros suspeitos, como baixa auto-estima, excesso de trabalho e mais.

Entretanto, algumas possíveis causas podem passar despercebidas e afastar ainda mais a solução para o casal. O cuidado na ingestão de alimentos, medicamentos ou no uso de cosméticos pode fazer a diferença nesses casos. Segundo especialistas, essas substâncias podem estar relacionadas à falta de libido.

Para esclarecer detalhes, o Olhar Vital ouviu dois professores da área, que explicaram como essas alterações ocorrem, relatando os principais fatores e possíveis soluções para o problema.

 

Miguel Lemos

Professor de farmacologia da Faculdade de Farmácia da UFRJ

“Tanto em homens quanto em mulheres, os problemas sexuais são causados por diversos motivos. Uma pesquisa sobre disfunção erétil mostrou que, no Brasil, o percentual de homens com este problema só tende a aumentar. Por exemplo, em 1995, 10,5% dos homens apresentavam este problema. Em 2025, a previsão é que este número suba para 26,1%. Na Europa, para se ter uma idéia, 30% dos homens eram afetados pela disfunção erétil em 1995. Para daqui a 20 anos, espera-se que 42,8% sofram com isto: praticamente a metade dos homens europeus.

Falando em homens, alguns fatores de risco para a disfunção erétil são doenças, envelhecimento (em que há o declínio nas funções fisiológicas), ingestão excessiva de álcool, drogas como maconha, anfetaminas (medicamentos para emagrecer) e opiáceos (analgésicos à base de morfina).

A hipertensão arterial, aterosclerose, diabetes e obesidade são fatores de risco gravíssimos para o homem. Quem sofre com pressão alta há muitos anos e demora a buscar ajuda médica provavelmente terá problemas na ereção. Isto porque, com o tempo, os vasos do corpo inteiro ficam mais duros e entupidos, tanto pelo envelhecimento quanto pela formação de placas (ateromas). Se o homem passa a tomar medicamentos para hipertensão após esta alteração morfológica, o sangue (com menor pressão) não conseguirá atingir os vasos do pênis.

Curiosamente, um outro fator que pode causar disfunção erétil é o ciclismo. Homens que o praticam intensamente podem sofrer uma compressão de alguns nervos na região dos testículos e pênis. Porém, este efeito é mais comum em atletas, não em ciclistas moderados (cerca de uma hora por dia). Nesta situação, os benefícios cardiovasculares superam qualquer outro efeito negativo.

Em relação aos medicamentos, alguns realmente causam disfunção erétil, como anti-hipertensivos, diuréticos (do grupo dos tiazídicos, furosemida e espironolactona), finasterida (usado no tratamento de queda de cabelo e tumores de próstata), hipoglicemiantes orais (para diabetes), clofibrato (para diminuir o colesterol), fenotiazínicos e butirosenonas (para tratar esquizofrenia), antidepressivos em geral, cimetidina (anti-ácido) e metoclopramida. Os anabolizantes hormonais à base de testosterona, usados para aumentar o volume dos músculos, também provocam este problema. Apesar de no início aumentarem a libido, quando o efeito do anabolizante cessa o que resta é seu efeito colateral: a disfunção.

É muito difícil avaliar problemas sexuais em mulheres, simplesmente porque eles não são visíveis, como acontece com os homens. Porém, existem algumas causas para a frigidez sexual. Uma das mais importantes é a disfunção endócrina. Além disso, outras causas também são decisivas, como diabetes, tumores de hipófise, hipotireoidismo, climatério, tabagismo e depressão. Na maior parte dos casos, os problemas são relacionados a fatores psicológicos e sociais, como estresse e desgaste do interesse sexual, pela rotina ou por dificuldades com o parceiro.

Alguns medicamentos podem provocar frigidez na mulher, como antidepressivos, anti-hipertensivos, remédios para diabetes, ansiolíticos (calmantes), hipoglicemiantes e anticoncepcionais. Sobre este último, o curioso é que estes medicamentos diminuem a produção de hormônios como progesterona, estrogênio, LH e FSH (responsáveis pelo desejo sexual), mas a mulher, sentindo-se mais protegida e liberada, relata um aumento na libido. Ou seja, apesar de no caso das mulheres ser mais complicado avaliar disfunções sexuais, já existe conhecimento sobre alguns fatores determinantes.”

Mirian Ribeiro Leite Moura

Professora do Departamento de Produtos Naturais e Alimentos da Faculdade de Farmácia da UFRJ

“É sabido que alguns medicamentos interferem bastante na libido, não só da mulher, como também do homem. Como exemplo temos os medicamentos utilizados contra diabetes. Além desses, remédios para hipertensão também são apontados como responsáveis.

“Quando falamos em alimentos, no sentido de aumentar a libido, imaginamos alimentos com valor calórico elevado, que fornecem muita energia ao indivíduo. Não acredito que alimentos com algum princípio específico aumentem a libido. Existe, na verdade, um conjunto. A junção de fatores como a tranqüilidade, alimentação adequada e uma dieta com alimentos ricos em substâncias que possam ativar neurotransmissores é saudável nesse sentido. Como exemplo, fala-se muito no chocolate, alguns frutos secos, como castanha-do-pará, nozes, avelãs. Estes são alimentos energéticos com minerais e substâncias que ativam os neurotransmissores. E isto, em conjunto com uma vida tranqüila no lar, ou no trabalho, pode, de fato, favorecer a libido.

“Por outro lado, um indivíduo que não come adequadamente pode ter seu apetite sexual afetado. O ideal é se realizar, no mínimo, três refeições. Então, se um indivíduo não ingere quantidades de proteínas, minerais e vitaminas adequadas, a ponto de não satisfazer suas necessidades nutricionais, o desempenho do organismo fica afetado. Se o indivíduo tem uma alimentação adequada, porém, obviamente, isso não vai interferir de forma negativa.

“Entretanto, se a pessoa só bebe refrigerante e só come salgadinhos, devido à rotina diária corrida, é provável que ele se afete também. Não se trata de alterações hormonais. A proteína, nesse caso, é um fator muito importante. A falta dessa estrutura, para o caso de atividades que a exigem, acarreta uma série de distúrbios. A atividade sexual é uma delas. Se um indivíduo só come carboidrato, isso vai comprometer uma série de funções do organismo. O indivíduo pode não estar com fome, pois de certa maneira ele foi saciado, mas, na verdade, ele não está adequadamente nutrido.

“Tem sido propagado que a contaminação ambiental, seja no solo ou na água, de certa forma, é levada para os alimentos. O de fato observado em alguns trabalhos é que agrotóxicos prejudicam a saúde de várias formas. Nesse caso, na questão de inibição dos hormônios sexuais. Além de inibir os hormônios sexuais, muitos desses poluentes funcionam como estrogênio, o que afeta muito mais o homem do que a mulher. Um dos efeitos disso é a diminuição dos espermatozóides. Há um estudo que realizou a contagem de espermatozóides no homem, ao longo dos anos. Desde a década de 1950, houve uma redução do número de espermatozóide, devido à contaminação ambiental.

“Não é o alimento, o medicamento ou o cosmético que se relaciona com esses problemas. Acredito que há um conjunto de fatores. Hoje, os homens e mulheres estão muito mais estressados, devido à sobrecarga no trabalho. Isso, para mim, está muito relacionado à perda da libido. Hoje, tanto homens quanto mulheres, estão muito ocupados. Por isso, sobra pouco tempo para o prazer, não só no sexo, mas também nas pequenas coisas da vida. Acho que é um conjunto.