• Edição 105
  • 01 de novembro de 2007

Saúde e Prevenção

Cuidados para salvar o coração

Marcello Henrique Corrêa

Em 2004, a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC/Funcor) divulgou uma pesquisa que relacionava a Doença Arterial Obstrutiva Periférica (DAOP) com outras complicações cardiovasculares mais graves, como acidente vascular cerebral e infarto. A pesquisa revelou que 60% das pessoas com DAOP têm chances de manifestar essas outras complicações. Por isso, estar atento aos pequenos sinais como dor nas pernas pode fazer a diferença.

Existem vários fatores que levam à doença arterial. Ela não é específica de uma determinada região e pode ocorrer em todo o organismo. A explicação é de André Luiz Fernandes, professor assistente da Faculdade de Medicina (FM/UFRJ). Segundo ele, alguns destes fatores causadores estão intimamente relacionados com a incidência da DAOP. “Os grandes fatores de risco são tabagismo, hipertensão e colesterol alto. Além disso, existem fatores considerados menos importantes, como diabetes e sedentarismo. O tabagismo está relacionado principalmente com a lesão das artérias das extremidades”, expõe o professor.

Segundo André, a doença obstrutiva realmente é um primeiro sinal para a existência de outras complicações. “A presença da DAOP exige que se investigue a presença de doença arterosclerótica nos órgãos vitais. Isso precisa ser avaliado”, afirma. Segundo o médico, se o paciente apresenta doenças periféricas, nada impede que apresente também doenças coronarianas. “Isso faz qualquer paciente de DAOP ser avaliado também como um potencial paciente de  doença obstrutiva em outras áreas”, completa.

A DAOP é evolutiva, pode se apresentar de forma mais leve ou mais agressiva. Segundo o médico, contudo, a maioria dos pacientes consegue conviver com a doença de maneira controlada. A outra parte, porém, representante de 20% dos enfermos, tende a piorar. A circulação do sangue fica ainda mais complicada, culminando na perda do membro danificado. “A tendência da doença é se agravar. O processo arterosclerótico se inicia e não pára sozinho”, explica o professor.

O principal sintoma da doença obstrutiva periférica é a dor nas pernas. Por isso, é comum confundir o problema com outro, completamente diferente – o reumatismo. André Luiz explica a diferença. “A dor do reumatismo não está diretamente relacionada com a deambulação, o ato de caminhar. O paciente pode senti-la mesmo parado. A dor causada pela DAOP, por outro lado, se inicia ou piora nos primeiros 50 metros de caminhada”. O professor ressalta que essa é uma visão clínica, mas que a diferença pode ser facilmente confirmada em exames.

A doença arterial tem prevalência em homens. Segundo o médico, isso ocorre devido ao tabagismo, mais comum entre o sexo masculino. Como a freqüência de tabagismo entre as mulheres tem aumentado, proporcionalmente o número de casos entre elas também cresce. Contudo, segundo André, a prevalência de homens ainda é grande, em torno de três para um.

Tratamento

O tratamento da doença arterial pode ser feito de duas formas: clínico-conservador ou cirúrgico. O primeiro consiste em controlar os fatores de risco, com uso de alguns medicamentos. Além disso, nesses casos, é comum o estímulo à caminhada. Segundo o professor, esse processo estimula o desenvolvimento no organismo de vasos colaterais, para tentar compensar a falta de sangue causada pela oclusão das artérias.

O tratamento cirúrgico, por outro lado, é indicado para os pacientes sem condições mínimas de realizar suas atividades de rotina, por causa da dor intensa. O médico explica que, nesses casos, a falta de sangue é tão grave, que mesmo sem andar a dor é muito grande. Entretanto, André ressalta, o mais comum é a doença ser controlada apenas com o tratamento clínico.

Para André Luiz Fernandes, a luta contra as doenças arteriais ainda enfrenta um grande problema em relação à falta de informação dos pacientes. “A população ainda é muito desinformada. Se observarmos um hospital do Rio de Janeiro de atendimento ao público, vamos perceber que muitos pacientes já chegam com lesões instaladas e graves”, opina o médico. Para ele, é fundamental o estímulo a campanhas contra o tabagismo e pelo controle de hipertensão e diabetes. “O resultado não é para daqui a seis meses. Se começarmos agora, teremos um resultado daqui a cinco ou dez anos. É uma questão de saúde pública, com resultado de longo prazo”, finaliza o professor.