• Edição 105
  • 01 de novembro de 2007

Ciência e Vida

Pesquisa com biofármacos é referência na UFRJ

Priscila Biancovilli

A produção científica brasileira é bastante ampla e diversificada. O desenvolvimento de um país se relaciona diretamente com o montante recursos investidos nesta área. Uma pesquisa da UFRJ voltada para o desenvolvimento de biofármacos está entre as seis finalistas do prêmio Santander Banespa de Ciência e Inovação. Participaram deste concurso pesquisadores de todas as universidades brasileiras. O grande vencedor receberá um prêmio de 50 mil reais, a ser investido na pesquisa.

A professora Leda Castilho, da COPPE (Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa em Engenharia) é coordenadora do estudo. Além de atuar no programa de Engenharia Química, Leda também é docente permanente do Programa de Pós-graduação em Bioquímica, do Instituto de Química, e docente colaboradora do programa de Ciências Morfológicas do CCS.

Definição

De maneira simplificada, biofármacos são proteínas recombinantes de uso terapêutico, obtidas pela modificação genética celular. Em boa parte dos casos trata-se de proteínas complexas, a maioria delas produzida em células animais. Os biofármacos mais simples podem ser obtidos através de microrganismos –, explica a professora.

Sempre derivados de proteínas humanas, modificam-se em células de animais – usam-se hamsters, por exemplo – para que eles passem a produzir este material. Em seguida, existe o processo de produção em maior escala e purificação, para finalmente possibilitar o uso como medicamento. “Os fatores de coagulação sanguínea, por exemplo, são proteínas produzidas por seres humanos saudáveis. Se uma pessoa de deficiência genética não consegue produzir estes fatores, é considerada hemofílica. Isto significa que possui um distúrbio na coagulação do sangue, e seu corpo não consegue controlar sangramentos. Então, o biofármaco repõe esta proteína faltosa e, assim, auxilia no tratamento da doença”, esclarece Leda.

O início

A linha de pesquisa em biofármacos na UFRJ teve início em 2003, quando foi criado o Laboratório de Engenharia de Cultivos Celulares da COPPE. Três são as três linhas de pesquisa de desenvolvidas na Universidade: as de produção das proteínas fator-8, fator-9 e GCSF. “Trabalhamos com uma linha bem nova, a clonagem de expressão e, em seguida, produção e purificação do fator-8 de coagulação sanguínea, uma proteína usada no tratamento da hemofilia A. O fator-9, por sua vez, age em benefício dos portadores da hemofilia B. A outra linha de pesquisa engloba a proteína GCSF, que estimula a produção de glóbulos brancos e atua no tratamento de uma doença chamada neutropenia (baixa ou nenhuma produção de glóbulos brancos pelo organismo)”, explica a professora. Um paciente com este problema corre sérios riscos de infecções por bactérias e fungos, e o GCSF compensa esta deficiência.

A pesquisa envolve alunos de graduação, mestrado, doutorado e pós-doutorado, e se caracteriza por ser multidisciplinar. Embora o programa esteja localizado na COPPE, o laboratório conta também com profissionais da química industrial, médicos, farmacêuticos, biólogos e microbiologistas, entre outros.

Fase atual

A UFRJ não produz biofármacos em escala industrial. A tecnologia desenvolvida na universidade será implementada no Brasil e em outras partes do mundo.

– Atualmente, temos alunos trabalhando em diversas fases: na clonagem e expressão dos genes, no cultivo das células em biorreatores (para que elas possam se proliferar e sintetizar a proteína recombinante), além da equipe que trabalha com purificação –, explica a professora. Nestes trabalhos, diversos conhecimentos serão conjugados para desenvolver uma tecnologia completa, desde o início da criação do medicamento até sua produção industrial.

A pesquisadora espera ter resultados suficientes para, em cerca de três anos, desenvolver a tecnologia de produção do biofármaco. “Entretanto, qualquer produto farmacêutico deve passar por uma etapa de testes clínicos, antes de ser produzido em larga escala. Geralmente, leva-se de três a cinco anos para concluir esta etapa”, afirma Leda. Desta forma, estima-se que os biofármacos desenvolvidos na UFRJ ainda levem cerca de 6 a 8 anos para chegar às prateleiras.

Promessas dos biofármacos

Esta é uma área que se desenvolve a passos largos. Já existem no mercado cerca de dez biofármacos produzidos a partir dos anticorpos monoclonais, voltados para o tratamento de dez diferentes tipos de câncer. “Existem inúmeros tipos de tumores, por isso os anticorpos ainda não podem curar todas as manifestações cancerígenas”, esclarece Leda.

No Brasil, os biofármacos são importados em sua totalidade, encarecendo os produtos e dificultando o acesso da população. “O desenvolvimento de tecnologias mais eficientes e a custos mais baixos permitirá reduzir as taxas de internação e mortalidade no Brasil, melhorar a qualidade de vida de pacientes, gerar divisas através da substituição da importação ou através da exportação de produtos e possibilitar o desenvolvimento de tecnologias que, hoje em dia, ainda não se encontram propriamente desenvolvidas em âmbito mundial”, conclui Leda.