• Edição 103
  • 18 de outubro de 2007

Argumento

Recém-nascidos egressos de UTI na convivência familiar


Seiji Nomura

A gestação e o nascimento de uma criança são geralmente acontecimentos de grande alegria na vida dos pais. Porém, algumas vezes acontecem complicações no processo e o bebê nasce prematuramente, com certas deficiências respiratórias ou circulatórias. Quando isso acontece, o recém-nascido é levado a uma unidade especial de tratamento equipada com incubadoras e tecnologia avançada — a UTI neonatal.

Apesar de todo esse suporte, o processo de recuperação da saúde do bebê, além de algumas vezes não ter sucesso, é extremamente estressante para os pais, funcionários e principalmente para o próprio recém-nascido. Mesmo após a saída da UTI neonatal, a criança e os pais passam por diversas dificuldades e mudanças em sua rotina.

Ivone Evangelista Cabral, professora da Escola de Enfermagem Anna Nery da UFRJ, pesquisadora do CNPQ, e coordenadora da Comissão de Publicação, Divulgação e Comunicação Social da Sociedade Brasileira de Enfermeiros Pediatras SOBEP, desenvolve pesquisas sobre as dificuldades pelas quais passam as crianças egressas de UTI neonatal inseridas no cenário familiar. Nesse campo ainda pouco estudado, a professora levanta questões muito importantes, as possíveis conseqüências negativas do ambiente da UTI sobre esses bebês depois tornadas problemas com que a família deve lidar. “O ambiente da UTI é muito estressante para o bebê — luz ligada o tempo todo, muito ruído, temperatura artificialmente mais baixa, entre outros fatores. Mesmo com a tecnologia avançada, o bebê ainda fica exposto a esses fatores” afirma a professora.

De acordo com a pesquisadora, o ambiente pode causar diversos problemas ao bebê, desde a dificuldade de diferenciar dia e noite devida a luzes sempre acesas, complicações no aparelho auditivo decorrente do excesso de ruído e até mesmo a cegueira pela exposição prolongada a terapia com oxigênio nas incubadoras. Os pais devem estar preparados para lidar com as complicações que podem advir desse processo traumático.

Mesmo se a criança não apresentar essas seqüelas, a família deve se acostumar com aparelhos médicos e cuidados especiais em sua casa, ainda por certo período. Entre os cuidados indicados por Ivone Cabral, estão: prestar atenção no posicionamento do bebê quando colocá-lo para dormir, monitorar a respiração, seguir à risca o horário e a dosagem dos remédios e evitar sufocamento com a alimentação. Afinal, o bebê ainda se encontra em um estágio relativamente frágil.

O fato de o recém nascido não estar completamente restabelecido causa mais estresse aos pais. “Há sempre o risco de o bebê voltar à UTI, se apresentar, por exemplo, bronco-respiração”, exemplifica a pesquisadora. Um dos papéis do enfermeiro está justamente em ensinar aos pais a lidar com essa demanda de cuidado extraordinário.

É importante também ressaltar, os avanços na própria UTI neonatal têm reduzido parte dos problemas de convivência familiar após e durante a internação. “Hoje em dia, a família tem presença muito maior na UTI, ajuda a criar vínculos afetivos entre a criança e seus familiares mais cedo.” Conforme o bebê se recupera, é possível os familiares manterem contato físico, é possível até mesmo a amamentação, extremamente saudável para minimizar o trauma da terapia intensiva, conclui a pesquisadora.