• Edição 102
  • 11 de outubro de 2007

Argumento

Déficit de atenção e hiperatividade: questão de educação?


Monique Pereira da Agência UFRJ de Notícias – Praia Vermelha

O Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade – TDAH trata-se de um distúrbio neurobiológico com causas genéticas, surge na infância e geralmente acompanha o portador ao longo da vida. A doença se caracteriza por sintomas de desatenção, inquietude e impulsividade.

Existem inúmeros estudos em todo o mundo — inclusive no Brasil — que demonstram haver prevalência do TDAH semelhante em diferentes regiões; indica que o transtorno pode originar-se de práticas e costumes culturais. No entanto, pesquisas já confirmaram que, biologicamente, o TDAH pode estar ligado à hereditariedade e a uma má gestação do feto.

Atualmente, uma grande questão envolve a doença, o crescimento vertiginoso do número de crianças diagnosticadas com o transtorno. A opinião pública procura uma justificativa para tal resultado no interesse comercial de laboratórios farmacêuticos; em uma espécie de “Teoria da Conspiração” poderiam agir conjuntamente com a medicina vigente na popularização do suposto “modismo” TDAH.

Contudo, segundo o doutor Paulo Mattos, presidente da Associação Brasileira do Déficit de Atenção – ABDA e professor da Faculdade de Medicina da UFRJ, o Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade existe desde o século XIX, entretanto era denominado Disfunção Cerebral Mínima – DCM. O médico afirmou, enquanto a depressão é a doença mental mais comum em adultos, o TDAH é a mais comum na infância, atingindo a probabilidade de um caso a cada 20 crianças.

Paulo Mattos realizou recentemente uma pesquisa em que comparava uma planilha da quantidade de fármacos consumidos pelos portadores do transtorno e o número estimado de indivíduos com TDAH atualmente: “A vendagem de medicamentos para esse fim não correspondem nem a 5% do número de casos contabilizados”, declarou o doutor.

Para o especialista, ocorreu uma divulgação do transtorno de forma massiva através da mídia, isto causou a falsa sensação de a doença não existir anteriormente: “A única mudança real é, hoje em dia, a medicina possuir melhores condições e exames mais detalhados facilitadores na formulação do diagnóstico”, observou Mattos.

A confirmação do TDAH no indivíduo, segundo o psiquiatra, consiste apenas em uma inversão da nomenclatura de um problema previamente constatado na criança: “Antes a criança era rotulada de ‘peste’ em seu meio de convívio”, declarou. Logo, a medicina contemporânea apenas estipulou termos científicos para o termo já comum, familiar e pejorativo com a criança.

Mas o doutor admitiu, a área da saúde nunca estará isenta de erros médicos. Segundo Paulo Mattos, muitos profissionais se equivocam quanto ao diagnóstico ou receitam medicamentos desnecessários para certa doença, porém, “jamais o erro médico justifica o surgimento de um novo transtorno, como a grande mídia tem produzido”, alertou. O psiquiatra também lembrou, o interesse da indústria farmacêutica é presente, mas não há possibilidade de estabelecer um novo consumo de remédios através da disseminação informativa do TDAH.