• Edição 102
  • 11 de outubro de 2007

Ciência e Vida

Esponjas ajudam a monitorar melhor impactos ambientais

Marcello Henrique Corrêa

A Ilha Grande, cenário paradisíaco muito procurado por turistas, pode se tornar também ambiente de pesquisas e estudos reveladores. Cristiano Coutinho, professor do departamento de Histologia e Embriologia, do Instituto de Ciências Biomédicas da UFRJ, e seu grupo têm usado esta baía em estudos sobre o monitoramento das águas para análise de impactos ambientais sobre a fauna e a flora de alguns locais da ilha.

— Esse projeto consiste em tentar usar as esponjas como sentinelas em um ambiente que está sofrendo impacto ambiental — explica o professor. A pesquisa, que analisa principalmente os efeitos da exploração de petróleo na região, no momento ainda sobrevive em parcerias com outras universidades e, principalmente, recursos do próprio professor.

A proposta do estudo de Coutinho consiste no uso de esponjas para monitoramento de impactos nas águas de locais explorados pelo homem. “O uso de esponjas para esse fim não é rotina”, relata o professor, contando com a alta sensibilidade e a capacidade de filtração das esponjas para um biomonitoramento mais eficaz.

Métodos mais corriqueiros para esse tipo de análise já existem, mas segundo Cristiano, não são tão eficazes. “Existe, por exemplo, a análise de peixes para monitorar impactos. Mas, ao contrário das esponjas, o peixe se movimenta, nadando de um lado para outro. Por isso, fica difícil estabelecer relações precisas entre as reações do animal e os impactos ambientais”, explica o professor.

Além de peixes, é comum também analisarem comportamentos de comunidades inteiras, o que Coutinho também considera impreciso. “Vários aspectos podem gerar alterações em comunidades, como, por exemplo, aquecimento global e mudanças climáticas em geral”, completa. Outros animais filtradores também já são usados no biomonitoramento, como mexilhões e ostras. Contudo, segundo Coutinho nenhum deles se aproxima da capacidade de filtração das esponjas, calculada em 100 mililitros por hora/grama. Isso significa que aproximadamente um grama do animal poderia, em 24 horas, filtrar toda a água, por exemplo, de um dos aquários presentes no laboratório.

— Não podemos tentar usar uma nova tecnologia de um dia para o outro. Antes de ir pra campo efetivamente, há um estudo muito sério de validação dessa metodologia —, conta o professor, referindo-se à fase de laboratório da pesquisa. Na verdade, esse estágio ocorre simultaneamente com estudos preliminares na própria baía. “A idéia é reproduzir em cada aquário um ambiente parecido com o estudado na Ilha Grande”, explica Coutinho.

O projeto, como ressalta o professor, não leva em consideração toda a baía; a ampliação demandaria, segundo ele, uma estrutura muito mais complexa. Atualmente, o grupo atua em três pontos específicos da região: um considerado o menos impactado; outro, considerado moderadamente impactado; e um terceiro, o mais danificado de todos, com a presença mais intensa de barcos. Em laboratório, esses ambientes serão reproduzidos, auxiliando nas análises.

Parcerias

A pesquisa é composta por duas partes principais: a experimental, feita por um biólogo, e a de análise de resíduos, realizada por um químico. Cristiano é responsável pela primeira. A segunda, por outro lado, já ultrapassa os portões da UFRJ. O projeto conta com o auxílio de um doutorando da Universidade Federal Fluminense para verificar a presença de íons perigosos, os chamados metais pesados. Entre outras utilidades, essa análise mais detalhada permite identificar, por exemplo, a procedência de um resíduo da exploração de petróleo e apontar exatamente o navio causador do problema.

Ciência e empresas

A relação com indústrias e empresas constitui uma das partes mais difíceis do projeto. “O grande problema é convencer as empresas de que é melhor usar uma metodologia mais sensível, porque isso pode ser considerado um problema para suas atividades”, comenta Coutinho. “Devido a maior sensibilidade do método, o que a empresa considerava limpo, passa a não ser mais”, completa.

Se por um lado isso significa preocupações precoces para as empresas, por outro, representa ganho de tempo na preservação do meio ambiente. “Depois que os animais estão mortos, não adianta analisar e dizer que está poluído”, afirma o professor.

Cristiano Coutinho deixa claro, o objetivo do monitoramento não é impedir o trabalho das empresas petrolíferas ou de qualquer outra área. “Toda indústria tem um impacto; queremos que essa atividade não prejudique o ambiente”, explica o pesquisador. “A exploração deve continuar. Não vamos parar o desenvolvimento, mas ele deve ser feito de uma maneira sustentável, harmoniosa”, finaliza.