• Edição 102
  • 11 de outubro de 2007

Por uma boa causa

Caminhos desconfortáveis

Flávia Fontinhas

A relação homem-animal pode ser considerada um binômio de longa data. Desde a Antigüidade os animais tiveram grande importância para a humanidade, fosse para servir de alimento, de ferramenta auxiliar no trabalho, ou, principalmente, de uma adorável companhia.

Mas, infelizmente, esses encantadores bichinhos também podem ser portadores de várias doenças que afetam o homem. Assim, para dar continuidade ao tema “Doenças transmitidas por animais”, a editoria Por uma boa causa dessa semana aborda os transtornos causados pela larva migrans.

– A larva migrans cutânea, popularmente conhecida como bicho geográfico, é uma doença causada pela penetração de um nematelminto na pele, que pode ser: o ancylostoma caninum, ancylostoma brasiliensis, astenoceplaloa ou gnathostoma spinigirum; sem conseguir atingir a circulação, ele fica retido entre a derme e a epiderme –, explica Sueli Carneiro, professora da Faculdade de Medicina e dermatologista do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho.

O contágio se dá através do contato da pele da pessoa com as fezes contaminadas do animal (gato ou cachorro); ao defecar na terra ou areia, os animais eliminam os ovos, posteriormente, transformados em larvas. No meio ambiente, os ovos desenvolvem-se rapidamente na areia úmida das praias, transformando-se em larvas infectantes. Elas penetram na pele do homem atraídas pelo calor, mas retidas na porta de entrada, isto é, logo abaixo da pele, pois não conseguem realizar todo o ciclo biológico. Na pele, cavam túneis de 2 a 5 centímetros por dia, mas podem chegar até 15 cm.

Quando a pessoa pisa ou senta em local infestado, as larvas tratam de furar a pele superficialmente, e começam a "caminhada" que abrirá verdadeiros túneis na pele da vítima. Os locais mais comumente atingidos são: pés, pernas, coxas, nádegas (sobretudo em crianças), mãos e antebraços.

– As ocorrências mais comuns são em geral em praias e parques. Por isso as crianças são geralmente as mais afetadas, embora possa ocorrer também em adultos, como em casos onde a pessoa dorme na praia, anda descalça na terra, nada em rios –, esclarece a professora.

Sintomas e diagnóstico

No local de penetração da larva, surge um ponto vermelho ou pequena bolha de curta duração. A seguir, com a movimentação do verme, surge, então, uma erupção linear, tortuosa e saliente, terminada por uma mancha onde se localiza o parasita.

– Por estar em pele humana, a larva não consegue se aprofundar para atingir o intestino (assim ocorreria no organismo do cão e do gato), e caminha sob a pele formando um túnel tortuoso e avermelhado. Assim, os principais sintomas da doença são: prurido (ou seja, coceira excessiva no local) e vermelhidão na área afetada. No exame físico, o médico vê umas linhazinhas na pele do paciente, elas representam o percurso da larva, podendo causar até vesículas e bolhas. Em crianças pequenas pode haver a ocorrência de pápula no início do processo. O diagnóstico é feito através da história do paciente e do exame físico –, afirma Sueli.

Tratamento e prevenção

– Às vezes a doença pode se tratar sozinha. Pode chegar um momento, após a larva andar bastante, que ela morra. Mas não dá pra ficar esperando acontecer, porque a sobrevida dela também é longa; além de coçar bastante. Então, o mais indicado a fazer é usar uma medicação tópica para nematelmintos (parasitas) ou comprimidos por via oral –, explica a professora.

– A melhor forma de prevenção é, portanto, não levar cachorros para locais como praias e parques, onde as pessoas freqüentam. Não só porque o cachorro pode ser agressivo como também pode ser contaminante da terra ou da areia. Além disso, é necessário ter o cuidado de não andar descalço ou não sentar sem roupa em locais desconhecidos –, conclui a médica.