• Edição 099
  • 20 de setembro de 2007

Notícias da Semana

I Encontro de Psicomotricidade


Marcello Henrique Corrêa

O clima no auditório Professor Rodolpho Paulo Rocco na manhã do dia 20 de setembro era de comemoração. O local recebeu o I Encontro de Psicomotricidade da Escola de Educação Física e Desportos (EEFD – UFRJ), organizado pelo projeto Brincante. O tema era “Olhares sobre o brincar”, o evento contou com mesas de debates e palestras sobre o assunto e apresentou ao público presente – no auditório lotado– o trabalho do projeto Brincante, existente desde 2005.

— Acho muito importante realizarmos um encontro sobre psicomotricidade; uma disciplina que entrou no currículo da graduação em 1992, e nos trouxe muitas experiências desde então —, afirmou Waldir Mendes Ramos, diretor da EEFD. Para o professor, o brincar é um tema bastante apropriado para a sociedade contemporânea. “O brincar, hoje, na sociedade capitalista, é apreciado sob perspectivas não imaginadas 40 anos atrás”, comparou o diretor.

Para Waldir Ramos, as crianças não brincam mais, é fundamental o profissional de Educação Física participar do processo de valorização do brincar, relacionando diversos saberes. “O brincar é uma atividade que transcende a Educação Física e passa por diversas áreas. Hoje o brincar está condicionado a certas situações que nós da Educação Física precisamos questionar e trazer para o nosso espaço de trabalho”, opinou o diretor.

O projeto Brincante começou no final de 2005, quando a professora Ruth Cohen percebeu a possibilidade de inclui-lo no setor de onco-hematologia do Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira (IPPMG). A professora e seu grupo observou os conflitos passados por crianças submetidas a tratamentos de quimioterapia. Os problemas são oriundos desde a perda da identificação estética até a exclusão do ambiente social; muitas vezes a criança precisa ser afastada da escola e dos amigos.

O grupo, então, passou a atuar nas salas de espera – o grande ambiente gerador de tensão para a criança. “Passamos a encontrar um espaço de fantasia nesse ambiente tão complicado. O projeto parte do princípio de que brincar pode ser coadjuvante na cura de uma enfermidade”, conta Andrea Tavares, participante do projeto Brincante. O trabalho ocorre com oficinas diversas, com jogos ou teatro, escolhidas livremente pela criança.

Construção de sujeitos

Os jogos e brincadeiras estão presentes na constituição de todas as civilizações. Assim como a construção da identidade das sociedades, o brincar também é fundamental na construção da subjetividade da criança. “O brincar é o que temos de mais primitivo na nossa relação com o outro e com o mundo. Dessa forma, a criança constrói sua subjetividade”, explicou Carlos Alberto Ferreira, assessor de pós-graduação em Psicomotricidade do Uni-IBMR.

Para o professor, é importante perceber essa construção de vínculo e subjetividade não só nas crianças, mas também nos idosos. O professor explica, brincar ajuda a vinculação do idoso, muitas vezes excluído das relações sociais, brincar ajudar a recriar espaços. “Quando o idoso começa a se reintegrar socialmente, a participar da vida social, todas as doenças desaparecem. O brincar acaba propiciando a saúde pelo estabelecimento desse vínculo”, explicou o professor.

Para as crianças, o brincar serve para criar fantasias auxiliares para vencer os problemas da infância; não são poucos.“Costumamos criar a idéia de na infância tudo ser perfeito. A criança precisa enfrentar uma série de negações, de ‘não-podes’, de frustrações”, afirmou o professor. “Para driblar esses problemas, a criação de fantasias torna-se essencial”, complementa, citando os personagens freqüentes na imaginação infantil, as princesas e os super-heróis. Baseado em todos esses benefícios e ainda devido a eles, o professor finalizou: “Criança saudável é criança que brinca.”


Mar adentro: a eutanásia e a finitude

Stéphanie Garcia Pires – AGN/Praia Vermelha

A Escola de Serviço Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro (ESS/UFRJ) promove o Ciclo de Cinema 4x4, organizado por Sára Nigri e Rosemere Maia, professoras da Pós-graduação em Cidadania, Cultura e Serviço Social. A iniciativa consiste na exibição de quatro filmes em quatro quartas-feiras, seguida de debates dos temas polêmicos abordados nas tramas. Esta semana, o longa-metragem selecionado foi “Mar Adentro”, produção espanhola com a direção de Alejandro Amenábar, para a discussão da prática de eutanásia e da finitude humana. Sérgio Gomes, mestre em Saúde Coletiva pelo Instituto de Medicina Social da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (IMS/UERJ), foi o debatedor convidado.

“Mar adentro” conta a trajetória de Ramon Sampedro — interpretado pelo ator Javier Bardem —, um homem tetraplégico que luta pelo direito de morrer com dignidade. Com o lema de que viver não deve ser uma obrigação, Ramon, com o auxílio de uma militante do Grupo de Apoio a Eutanásia e advogados, procura permissão jurídica para dar fim à própria vida, mas isto lhe é negado. A vontade do protagonista se torna pública, é divulgada pela mídia, e inicia na Espanha uma mobilização social para discutir a validez de seu apelo.

Após a exibição do filme, Sérgio assume o debate com o argumento de que antes de falar da morte, é preciso pensar o que é a vida. Seja em uma concepção biológica ou religiosa, a sociedade sofre na prisão do receio de perder um ente querido. Por isso, intensificou-se um medo da morte, um fator que angustia por ser incompreensível e por tirar dos homens o poder de serem mestres de si. “Enfrentar a morte é enfrentar o temor de deixar de existir, mas o efeito da morte não é para quem perde a vida e sim para aqueles que conviviam com aquele que não mais vive”, declara o debatedor.

Sérgio declara que pesquisas realizadas em diversas regiões do mundo revelam que quanto maior o nível de escolaridade da população, maior é a aceitação da prática da eutanásia. No Brasil, a resistência mais ampla ocorre no Norte e no Nordeste. Seguindo neste raciocínio, o especialista afirma que uma política da morte faz-se tão necessária quanto uma política da vida. Independente de paradigmas religiosos, quem convive em hospitais acaba admitindo que é imprescindível legislar pelo direito de quem sofre com uma “vida nula”, ou seja, pacientes com morte cerebral ou aqueles que preferem morrer por não considerarem digno o modo de viver imposto por uma doença.

— O problema maior que a questão da eutanásia enfrenta é o valor de sacro santidade que foi dado à vida por algumas organizações religiosas. São concepções que distanciam a morte de sua característica de ser natural. Morrer faz parte da nossa existência desde que nascemos. É a única certeza que os homens têm. Heidegger defende que morrer é libertar-se um pouco mais. Porém, predomina o pensamento de que a morte é o ponto final. Colocando-se no lugar de alguém que não aceita limitações de uma doença, Heidegger faz todo o sentido — explica Sérgio.

Durante o debate foi ainda explicitado um problema prático: a própria sociedade impõe obstáculos para pessoas que têm deficiências. As ruas, os meios de transportes, as instalações em áreas públicas de circulação, as instituições de ensino e trabalho, praticamente nada disso está adequado a viabilizar uma vida menos problemática e dificultada para quem sofre limitações físicas e/ou mentais.