• Edição 096
  • 30 de agosto de 2007

Notícias da Semana

Saúde da população negra é discutida em seminário


Marcello Henrique Corrêa

A busca pela igualdade de direitos no Brasil já é uma luta muito antiga. Com o objetivo de torná-la mais concreta, o Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF/UFRJ) realizou, nos dias 27 e 28 de agosto, o seminário “Saúde da População Negra”. O evento ocorreu no próprio hospital e reuniu professores e autoridades envolvidas, que debateram o assunto.

A mesa de abertura do seminário contou com a presença do diretor geral do HUCFF, Alexandre Cardoso, que recebeu representantes de diversos órgãos envolvidos. Cláudia Le Cocq, representante do Ministério da Saúde, parabenizou o HU pela iniciativa de realizar a atividade e ressaltou que o hospital é o primeiro, entre os universitários, a realizar essa campanha no Rio de Janeiro.

— É necessário termos uma atitude mais ativa, para conseguir algo efetivo. Já temos produzido muito, mas ainda falta militância, trabalho —, afirmou a professora Letícia Legay, diretora do Instituto de Estudos de Saúde Coletiva, também presente na mesa. Para a professora, a tão idealizada democracia racial ainda é muito virtual.

O diretor do HUCFF encerrou a mesa de abertura fazendo uma análise sobre o problema racial no Brasil. “Nesse hospital não se discrimina ninguém, nem pela cor dos olhos, pele, ou cabelo. Contudo, sabemos que não é essa exatamente a idéia que perpassa pela nossa sociedade”, afirmou o diretor, que ainda ressaltou problemas inerentes à população negra, em especial, que necessitam de cuidado mais atento: “a taxa de hipertensão arterial é muito maior na população negra, assim como a anemia falciforme”, citou.

Desigualdades raciais e saúde

“Há muito sabemos que saúde e doença, longe de serem fatalidade ou destino, são processos históricos e sociais determinados pelo modo como cada sociedade vive, organiza-se e produz”. Com essa citação publicada no portal Saúde Brasil, a doutora Jurema Werneck, do Conselho Nacional de Saúde, iniciou sua palestra, sobre desigualdades raciais.

A doutora apresentou dados que comprovam as desigualdades raciais no Brasil. Se a população negra fosse considerada como um país independente, por exemplo, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) obtido seria semelhante ao índice de um país como o El Salvador, na 105º lugar no ranking. Por outro lado, a população branca apresentaria um IDH alto, alcançando o 44º lugar — um padrão europeu, segundo a doutora.

O Rio de Janeiro apresenta, segundo os dados das pesquisas, os níveis de desigualdades mais críticos. Na cidade do Rio, a diferença da taxa de analfabetismo entre brancos e negros é de 114.3%. Os gráficos de rendimento apontam para a mesma tendência, segundo os dados do Observatório Afro-brasileiro. A doutora considera um erro analisar as desigualdades como resultado das diferenças na educação. Jurema lembrou que a política de educação universal já atua e, portanto, é necessário olhar para os outros fatores.

A existência do racismo estruturando as relações sociais causa um forte impacto na vida de todos. Na saúde, o racismo resulta na falta de acesso das minorias às políticas de saúde. “A dificuldade de deslocamento e a falta de serviços a disposição representam barreiras para essa população. Mesmo que se consiga vencer essas barreiras, o racismo presente no local de atendimento muitas vezes dificulta e até impede que a pessoa tenha um bom atendimento”, afirmou a médica. Jurema citou, ainda, uma pesquisa realizada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) para o município do Rio de Janeiro que revelou que as mulheres negras e solteiras recebem mais negações nas portas de maternidade do que as brancas.

— É preciso enfrentar o racismo. O enfrentamento ao racismo não é coisa nova. A modernidade brasileira e a hierarquização da sociedade brasileira foi feita com base no racismo —, afirmou a doutora. Jurema alertou a necessidade da presença de negros e negras nas universidades e nos cargos de direção. “É preciso resolver isso e é preciso que a UFRJ supere essa barreira”, afirmou Jurema.

A política nacional

Apesar de a luta não ser recente, a Política de Saúde Integral da População Negra foi criada em outubro de 2006. A implantação começou a se concretizar com a criação do comitê técnico, em 2004, conforme relatou Cláudia Le Cocq, representante do Ministério da Saúde (MS).

Os dados apresentados, mais uma vez, comprovam e evidenciam as desigualdades raciais. Levantamentos do MS apontam deficiências e desvantagens da população negra em diversos setores. Escolaridade, acesso à universidade e renda apresentam níveis expressivamente menores nos negros, e ainda menores nas mulheres negras.

Entre os objetivos da política estão ações junto às mulheres, crianças e, inclusive em comunidades afro-brasileiras, os quilombos. “Para que os objetivos sejam alcançados e esses dados mudem, é necessário que todas as esferas — federal, estadual e municipal — se responsabilizem, caracterizando uma política de transversalidade de setores”, finalizou Le Cocq.
 


Simpósio Meta Zero discute o combate à infecção hospitalar


Marcello Henrique Corrêa

O Hospital Clementino Fraga Filho (HUCFF/UFRJ) recebeu na última quinta-feira, 23 de agosto, o curso “Meta Zero em Infecções da Corrente Sangüínea”. O evento reuniu especialistas, profissionais e estudantes da área médica, que debateram e trocaram experiências do combate ao problema de infecção hospitalar.

A organização convidou profissionais de diversas especialidades e instituições, que trouxeram experiências e os resultados obtidos. Entre eles, o enfermeiro Luiz Célio, do Instituto Nacional do Câncer.

Curativos

O enfermeiro apresentou as vantagens do uso de curativos que permanecem mais tempo no paciente. Apesar de a troca ser inevitável, o enfermeiro informou os resultados de um estudo com curativos que não utilizam gaze e esparadrapo. “54% dos pacientes precisaram trocar apenas no 14° dia. Além de garantir o conforto do paciente e fixar melhor o cateter — evitando possíveis lesões — esses curativos também proporcionam um menor custo, já que são trocados menos vezes”, afirmou Luiz.

Contudo, não é apenas o tempo de troca que representa problemas na manipulação de curativos. Muitas vezes, segundo o enfermeiro, o paciente apresenta reações alérgicas ao curativo. Luiz afirma que a solução desse problema pode não ser a simples troca do tipo de curativo. “Existe uma tecnologia no mercado, que é o protetor dérmico. Trata-se de uma película que é aplicada antes do curativo, protegendo a epiderme do paciente”, explicou.

Um curativo, segundo afirmou o enfermeiro, deve ter como requisitos básicos: ter impermeabilidade e porosidade adequadas; proporcionar conforto ao paciente e propiciar barreiras antimicrobianas. “Além disso, deve desempenhar funções, a proteção do cateter contra danos externos, proporcionar conforto e segurança para o paciente e a equipe médica”, finalizou.