• Edição 094
  • 20 de agosto de 2007

Notícias da Semana

Nova Marca da Faculdade de Medicina


Flávia Fontinhas

No ano de 1808, a Faculdade de Medicina da Universidade do Brasil, atual Universidade Federal do Rio de Janeiro, juntamente com a Faculdade de Medicina da Bahia, iniciaram o ensino superior no país. No próximo ano, a Faculdade de Medicina da UFRJ irá comemorar seu bicentenário, e de fato, será um evento de grande importância para toda a congregação da universidade.

Assim, antecipando as celebrações dos 200 anos, foi realizada nessa terça-feira, 14 de agosto, a sessão solene da congregação da Faculdade de Medicina, no Auditório Haley Pacheco, 8º andar do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF), presidida pela vice-reitora da Universidade, professora Sylvia Vargas.

A sessão solene contou com a participação do professor Marcus Dohmann, professor da Escola de Belas Artes da UFRJ, que apresentou a nova marca da Faculdade de Medicina. Segundo o professor, para que o símbolo fosse definido fez-se um levantamento que acabou esbarrando na velha dicotomia existente entre o “Bastão de Hermes” e o “Bastão de Escolápio”; a qual se configura na representação de um bastão tosco, com uma única serpente o envolvendo. E assim, foi feita uma releitura desse sinal.

Ao visar à modernidade, a nova marca símbolo da Faculdade de Medicina reporta-se às novas tecnologias existentes, sem perder, entretanto, o entendimento de que as tradições são também importantes. Uma vez que, “em uma reprodução cheia de detalhes, eles acabam se perdendo através de reproduções maiores ou mais rápidas”, explicou o professor.

O objetivo do projeto foi tentar eliminar ao máximo qualquer redundância visual. E veio da observação que a serpente, ao percorrer o bastão através de sua trajetória curva, deixa caracterizado um módulo, que é justamente sua passagem pelo bastão. Então, na nova marca optou-se por sintetizar ao máximo esse módulo, a fim de não representar uma figura que recorresse às questões anteriores.

Assim, chegou-se a uma figura, cuja essência de forma é profundamente abstrata (mas ainda lembrando uma serpente), que se envolve em uma espécie de bastão imaginário. Já em relação à parte escrita, deu-se preferência a uma tipografia mais moderna, que combinasse melhor com os objetivos do projeto, ou seja, que unisse a modernidade e a tradição.

Homenagem aos professores eméritos

“O título de Professor Emérito é privativo de professores titulares da UFRJ, cujos serviços de magistério tenham sido considerados de excepcional relevância. O adjetivo emérito qualifica seu portador como alguém em quem se comprovou grande competência e elevado saber, sendo necessária essa atribuição de valor.” Com essas palavras a professora Sylvia Vargas, antiga diretora da Faculdade de Medicina e atualmente Vice-reitora, iniciou seu discurso de homenagem aos professores eméritos da Faculdade de Medicina.

A professora disse, ainda, que o título de Professor Emérito é o maior reconhecimento acadêmico que uma universidade pode prestar a seus professores, e que através dele é possível o reconhecimento dos inestimáveis serviços prestados por eles; além de conferir-lhes a responsabilidade de continuar interferindo nas diretrizes da vida universitária, tanto quanto possível.

Durante a cerimônia prestou-se uma homenagem especial ao professor emérito mais antigo da congregação da Faculdade de Medicina, professor Clementino Fraga Filho.

A homenagem foi prestada, inicialmente, pelo professor emérito Estáquio Portela Nunes Filho, que começou sua fala dizendo que a tarefa que lhe cabia era “sumariamente fácil e extraordinariamente difícil”, uma vez que “as qualidades do professor Fraga são numerosas”. E afirmou que essa homenagem, que estava sendo prestada ao professor, “estava aquém de seus méritos, tendo em vista que ele não poderia ser exaltado apenas por palavras, uma vez que sua verdadeira exaltação se constituiu através de sua atividade como homem, professor e exemplo.”

Após essa homenagem, então, foram entregues as placas para os professores eméritos, de acordo com a ordem mais recente de concessão do título; nas quais estava escrito no último parágrafo: “para aqueles que sintetizam a imagem da nossa faculdade, e legaram às futuras gerações seus valores, princípios e virtudes.”

Assim, o professor Clementino Fraga Filho foi chamado para chancelar pela primeira vez a Nova Marca Símbolo, na Ata da Sessão Solene da Congregação da Faculdade de Medicina.

Em seu discurso de agradecimento, o professor Fraga ressaltou a importância do compromisso com a instituição, destacando todos os momentos difíceis que existiram, “mas que foram ultrapassados e vencidos, através do sentimento de dedicação e devoção à faculdade.” E afirmou, ainda, que “é importante que esse compromisso seja colocado acima de qualquer interesse pessoal. E que, através de esforço, vontade, estudo e dedicação é possível se alcançar qualquer meta”.

O professor Clementino Fraga Filho foi ainda homenageado pelo decano do Centro de Ciências da Saúde, professor Almir Fraga Valadares, a partir da leitura do parágrafo final do Discurso de Doutorado do ano de 1939, feito pelo próprio professor Fraga. No qual se lia: “A formação do médico exige o preparo técnico e a capacidade moral, inteligência dócil e esclarecida no estudo. A companhia dos livros lhe deve ser fiel, pela vida afora, da alvorada ao crepúsculo. Mas é de sua alma que se pedem os melhores dotes, que irão ser norma e guia das relações com os clientes e companheiros de ofício”.

Assim, o professor Almir concluiu dizendo que “esse é o professor Clementino Fraga filho, não apenas um exemplo a ser seguido, mas uma figura a ser admirada”.

A cerimônia terminou com um pronunciamento do diretor da Faculdade de Medicina, professor Antônio José Ledo da Cunha, no qual afirmou que “ao homenagear os professores eméritos, estamos fazendo uma celebração da nossa história”. Pois, segundo ele, seria impossível iluminar o presente e construir o futuro, sem freqüentar o passado.
         
E finalizou: “unindo 1808 a 2008, com a marca símbolo apresentada, confiando no nosso passado, nas nossas tradições, nos nossos médicos eméritos, enfim, na nossa história, teremos imensas possibilidades de construir um futuro mais digno, através da formação das futuras gerações.”


Em nona edição, Semana de Biomedicina reúne professores e estudantes


Marcello Henrique Corrêa

Foi aberta, nessa segunda-feira, dia 13, a Semana de Biomedicina. Em sua nona edição, o evento é organizado por alunos e sempre aborda os principais assuntos da ciência e da clínica. Para o primeiro dia, a professora adjunta da UFRJ, Regina Coeli, ministrou a palestra: “Terapia celular na cardiopatia chagásica experimental”.

A abertura contou com a presença do professor Roberto Lent, diretor do Instituto de Ciências, que elogiou a iniciativa dos estudantes e ressaltou a importância do evento para a formação dos futuros profissionais.

Primeiro dia: pesquisas sobre a cardiopatia chagásica

No Brasil estima-se que tenhamos de três a cinco milhões de pacientes com a doença de Chagas. Transmitida pelo mosquito popularmente conhecido como barbeiro, a doença se prolifera facilmente. Os sintomas são pouco característicos, o que dificulta o diagnóstico. Entretanto, após um período, quase 30% dos pacientes evoluem para um estado de cardiopatia.

Estima-se que, no Brasil, há mais de um milhão de pacientes com cardiopatia chagásica — estado para o qual não existe tratamento especifico, a não ser o transplante. A professora ressaltou as dificuldades desse tipo de tratamento: “Sabemos dos problemas da recepção, da própria doação desses órgãos, além do risco inerente da cirurgia do transplante.”

Nesse contexto de entraves e dificuldades, um tratamento alternativo vem se tornando cada vez mais necessário. A terapia celular, segundo a professora, surge como uma possibilidade real de tratamento. A célula tronco se apresenta como a opção ideal para o processo. “É uma célula indiferenciada, com capacidade de auto-renovação e de se transformar em uma célula especializada”, explica Regina.

Essas características podem ser encontradas em células oriundas de diversas partes do corpo. O tratamento combinado de células diferentes vem sendo experimentado, bem como a combinação entre células tronco e medicamentos. Em 2000, a literatura especializada sinalizou para o grupo de pesquisas de Regina Coeli uma direção a seguir: a célula da medula óssea. Os artigos publicados indicaram que este tipo de célula tem uma capacidade pluripotente, isto é, funciona no tratamento de qualquer tecido.

Os primeiros passos para a comprovação da eficácia do método de terapia celular devem passar pelos experimentos, primeiramente em animais. A professora relatou parte do trabalho do grupo, que envolveu infectar camundongos, auferir e analisar os dados dos animais e testar o tratamento. Os resultados foram, segundo Regina, surpreendentes. Em um dos casos, os dados demonstraram uma reversão nos sinais da doença.

Apesar de não comprovarem a eficácia do tratamento em humanos a professora é otimista: “É claro que quanto isso pode ser garantido na clínica, quando falamos de paciente, não sabemos, mas as evidências fazem com que a gente passe da bancada para o leito do doente”.

Em 2006, os primeiros experimentos em pacientes foram divulgados e publicados. Um grupo de 28 pacientes foi submetido ao tratamento e acompanhado por dois meses. A conclusão das experiências é de que o tratamento é seguro, factível e potencialmente eficaz.  No contexto de pesquisas na área clínica, o Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF) está envolvido e contribui para os estudos sobre o assunto. O Programa de Terapia Celular — o PROTECEL — produz estudos que apontam para a direção certa, como considera a professora. “Estamos no caminho certo”, concluiu Regina.

Segundo dia: estímulos, atenção e emoção: compreendendo o cérebro

No cotidiano, um indivíduo está constantemente sob efeito de estímulos visuais que, apesar de rápidos e passageiros, provocam forte influência em sua maneira de agir e de se comportar.

O segundo dia da IX Semana de Biomedicina abriu espaço para o assunto e convidou a professora Mirtes Garcia Pereira, da Universidade Federal Fluminense (UFF) para falar a respeito. O tema da palestra foi: “Interação entre atenção e emoção no cérebro”.

A observação e exame dos detalhes de gestos como uma piscadela revelam que uma imagem negativa pode ativar ou intensificar a ativação do sistema defensivo. Os voluntários para as experiências dessa pesquisa foram submetidos à seguinte situação: enquanto observavam uma imagem (positiva, negativa ou neutra) ouviam, em um fone, um som brusco, o que causava o ato de piscar.

Os resultados demonstram que a piscada durante a exibição da imagem negativa apresentava uma amplitude expressivamente maior. “Quando é mostrada uma imagem positiva, é causada uma inibição do sistema de defesa. Por outro lado, quando a imagem negativa é exibida, uma pré-ativação do sistema defensivo é causada. Com isso, as repostas são facilitadas”, explicou a professora.

Influência no comportamento

As conclusões de que os estímulos visuais alteram os reflexos defensivos são claras. Contudo, qual é a capacidade das imagens de alterar o comportamento? O método de pesquisa do grupo do LABNEC — Laboratório de Neurofisiologia do Comportamento — da UFF, para isso, se baseou na avaliação de execução de tarefas pelos voluntários. Foram apresentadas, em um computador, figuras agradáveis, desagradáveis e neutras. Logo após, foi solicitado aos voluntários que clicassem em um ponto na tela.

Os dados da pesquisa apontam que a resposta da ação do individuo quando o voluntário está observando estímulos negativos é mais lenta. Mirtes explica que isso pode ser devido a uma paralisação provocada pela ativação do sistema de defesa, “assim como uma presa ‘congela’ ao perceber a presença do predador”, compara a professora. Esses dados permitem uma conclusão muito evidente de que os estímulos negativos podem gerar prejuízos ao desempenho humano.

Essa interferência no comportamento, contudo, não é invariável. Ao deslocar a demanda de atenção para uma tarefa muito difícil, por exemplo, o estímulo negativo deixa de exercer o prejuízo sobre o reflexo do voluntário. Segundo a professora, o foco da atenção para uma atividade muito complexa causa uma espécie de “cegueira” e, com isso, os estímulos negativos passam despercebidos.

Além disso, as características de cada voluntário também devem ser levadas em conta. Para isso, foram atribuídos valores de “afeto positivo” e “afeto negativo”. Essas medidas ajudam a diferenciar o impacto de indivíduo para indivíduo. Os valores de afeto positivo ou negativo são determinados por meio da identificação do voluntário com situações e sentimentos bons, como alegria, ou maus, como tristeza ou raiva.

Os grupos que apresentam alto afeto positivo reduzem, por exemplo, a resposta de sudorese, sinal de estresse, quando são convencidos de que uma imagem desagradável que estão observando é ficcional. Esse tipo de regulação emocional já não é tão bem-sucedido nos outros grupos, verificando a diferenciação de pessoa para pessoa nos reflexos dos estímulos.

A Semana de Biomedicina termina na próxima sexta-feira, dia 17, encerrando a nona edição do encontro. Além das palestras e mini-cursos oferecidos, uma mesa redonda  com o tema “Dez anos de Dolly” reúne para debates especialistas de diversas universidades.