• Edição 093
  • 09 de agosto de 2007

Microscópio

Patch Adams no Brasil: O amor é contagioso?


Julianna Sá

Os avanços tecnológicos vivenciados pelo estudo da medicina, no Brasil e em todo o mundo, alteraram profundamente a atuação dos profissionais da área, transformando a relação entre médico e paciente. Segundo o médico Hunter Adams, também conhecido como Patch Adams, personagem ficcional homônimo baseado no trabalho desenvolvido pelo norte americano, “o amor passou a não ter espaço na medicina”.  Sergio Zaidhaft, professor de psicologia médica da UFRJ e presidente da Comissão de Bioética do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF), compartilha tal opinião, destacando que o objeto de estudo e tratamento do médico não é somente uma doença, mas é, principalmente, o homem. O tema, que é discutido por toda a classe, evidencia-se com a vinda de Hunter Adams ao Brasil, onde realizará workshops e palestras inéditas no Rio de Janeiro, nos dias 1 e 2 de setembro, e em São Paulo, nos dias 3 e 4. Organizada pela COPATCH, comissão formada por estudantes de medicina da UFRJ, o evento traz de volta o pioneiro dessa prática médica ao Brasil, dois anos após sua primeira visita também organizada pelo grupo.

A atuação diferenciada dos profissionais da medicina, com a utilização de estratégias criativas e bem humoradas, ainda sofre certa recusa de muitos médicos. Acreditando que a cura e tratamento de doenças estão exclusivamente ligados ao conhecimento técnico-científico, e não ao tipo de contato estabelecido, é cada vez mais comum observar essa relação prejudicada.

― É possível que esse argumento seja válido, já que um remédio prescrito, uma cirurgia bem feita, entre outras intervenções, traz benefícios ao paciente independente da personalidade do médico ou da relação entre eles. Em muitas situações, é claro, uma fratura vai se consolidar, ou um apêndice vai ser retirado com sucesso, sem que haja necessidade de um contato aproximado entre médico e paciente ―, exemplifica Sérgio Zaidhaft.

Porém, o que acontece, em muitos casos, é o uso desse argumento para priorizar somente a qualidade de formação científica do médico, dispensando uma formação mais humanística. Outro argumento utilizado se baseia nos males que um envolvimento maior pode oferecer no atendimento ao paciente, prejudicando o tratamento. Contra tais fatores, o professor destaca:

― Um bom trabalho não precisa, necessariamente, se contrapor a uma postura médica de maior aproximação do paciente. É possível pensar que não é preciso dissociar essas duas áreas. Alguns médicos crêem que, ou você estabelece uma boa relação com o indivíduo, ou você é competente, porém isso opõe atitudes e ideologias que não são excludentes.

Para Zaidhaft, não há desvantagem em ser eficaz, unindo a isso uma atuação calorosa e respeitosa com o paciente, já que não há nada que inviabilize que tais habilidades sejam exercidas simultaneamente. Mais do que isso, a importância de se apontar para tal questão só é fundamental porque, se uma não elimina a outra, juntas é possível obter resultados bastante satisfatórios.  O professor ainda destaca que uma doença não tem sua origem, nem seu tratamento baseado somente em fatores orgânicos, tampouco simplesmente em questões psicológicas. Por isso utiliza-se o termo multifatorialismo para designar a maioria das causas de doenças e as implicações necessárias para que sejam sanadas e, por tal fato, promover uma separação entre as duas áreas pode ser arbitrário. 

― Patch Adams é essencial nesse processo que utiliza o contato e o riso porque, a rigor, se a medicina pudesse ser substituída somente por atenção e cuidado, não precisaria ninguém lembrar dessa questão. Entretanto, como a medicina radicalizou o seu processo de “cientificismo”, acabou esquecendo-se que o objeto de estudo dessa área é o homem. Esqueceu-se como é importante a confiança para tratar uma doença. Se o riso ou o afeto são capazes de curar, pode ser que sim, pode ser que não. Se curar, melhor, se não curar, que seja possível, então, proporcionar ao paciente tratado melhor qualidade de vida, confiança e auto-estima.

Por acreditar veementemente nessas questões discutidas, o médico-palhaço Patch Adams, que também fundou o Instituto Gesundheit!, tido como modelo de seu método de atuação, traz em sua nova visita ao país dois temas ainda não discutidos, apresentando-os de forma um pouco diferente de 2005. Desta vez, além de palestrar, Patch Adams vai oferecer um mini-curso — workshop — para promover suas idéias, permitindo aos participantes maior interação e aprendizado. “Qual a sua estratégia de amor?” e “Humor e Saúde” são os dois temas abordados.

Um dos organizadores, o estudante de medicina da USP Igor Padovesi, responsável, junto aos outros membros, pelo evento em São Paulo, já estagiou no Instituto Gesundheit! e declarou que “a experiência no Gesundheit dá a oportunidade de aprender um pouco mais sobre a filosofia defendida por Adams, tanto em relação ao cuidado com os pacientes, como em relação aos trabalhos humanitários e o ativismo político desenvolvidos pelo médico”. Essa filosofia, agora, torna-se o foco das atenções de estudantes, médicos e curiosos no evento que acontece no Clube Monte Líbano, Avenida Borges de Medeiros, 701, no Leblon — Rio de Janeiro —, e no Club Homs, localizado Avenida Paulista, 735 – São Paulo.