• Edição 093
  • 09 de agosto de 2007

Notícias da Semana

O caminho para um mundo melhor


Flávia Fontinhas

A fim de comemorar os 70 anos da inserção da Escola de Enfermagem Anna Nery (EEAN) na UFRJ e dar as boas-vindas aos novos alunos, a professora Maria Magdala Araújo Silva, assistente social e atual diretora da Escola de Serviço Social (ESS/UFRJ) proferiu a aula inaugural, nessa quarta-feira, dia 8 de agosto, no Auditório Rodolpho Paulo Rocco (Quinhentão). A convidada ministrou uma palestra sobre o tema: “Por que humanizar? O que dificulta o cuidado humanizado na assistência à saúde?”.

A professora iniciou sua fala com uma frase da socióloga Maria Cecília Minayo: “Na área da saúde o mito do desenvolvimento que alimenta a indústria e a tecnologia médicas é um dos grandes responsáveis pelo descalabro do ponto de vista humanista do sistema de saúde. Sua razão técnica está totalmente desarticulada das muitas razões sócio-históricas e culturais abafadas pelo poder biomédico fragmentário.” (Minayo, 1991), demonstrando a necessidade de criação de vínculos entre os profissionais de saúde e a população.

Magdala destacou o processo de humanização que vem ocorrendo no SUS: “Humaniza SUS”, política nacional de humanização da atenção e gestão, em todas as suas esferas. E, assim, explicou a diferença entre uma dimensão cuidadora irrelevante e complementar, e a ética do cuidado. Além disso, destacou quais são as estratégias atuais de intervenção relacionadas ao projeto de humanização dos serviços do SUS, sendo os principais: Universalidade do acesso; Assistência integral; Eqüidade; Participação na dinâmica social das famílias; Valorização da dimensão subjetiva e social dos cidadãos; Fortalecimento do trabalho de equipe e interdisciplinar; e apoio à construção de redes cooperativas e solidárias.

Uma das principais questões levantadas pela professora foi em relação à igualdade entre homens e mulheres na vida familiar e na área da saúde, baseando-se na proposta feita pela ONU de “promover a igualdade de gênero em todas as esferas da vida familiar e em comunidade, e encorajar e habilitar os homens a que se responsabilizem por seus comportamentos sexuais e reprodutivos, e pelo papel social e familiar que desempenham.” (Programa de Ação das Nações Unidas da CIPD, Cairo, 1994, Parágrafo 4.25).

Assim, deu ênfase a programas voltados para a efetivação dos direitos reprodutivos numa perspectiva de gênero, como: Programa DSTS/AIDS, Programa de assistência integral à saúde da mulher – PAISM, Programa de saúde do adolescente – PROSSAD, Programa de saúde da família – PSF, entre outros.

Em diversos pontos de sua palestra, Magdala citou dois grandes pensadores que muito contribuíram na luta por um mundo mais humanizado: Jean Piaget e Paulo Freire. Pensadores que, segundo ela, sempre destacaram a importância do reconhecimento do cidadão enquanto ser que tem seus porquês e suas premissas. E a necessidade de uma maior aproximação e conhecimento desse indivíduo, através de discussões em grupos, visando construir uma consciência maior sobre essa população, e permitindo, também, que as pessoas aprendam mais, e sejam capazes de mudar seus hábitos do dia-a-dia mais facilmente.

E, assim, colocou como indispensável que as pessoas não estejam tão frias e acostumadas com essa sociedade atual, que comecem a achar normal ver uma criança pedindo dinheiro na rua, ou um homem morrendo de frio na calçada, sem um agasalho. “Pois essa não é uma situação natural, mas sim uma ação política, que exige de todas as pessoas compromisso e responsabilidade”, finalizou a professora.


O Homem Elefante e o preconceito social


Stéphanie Garcia Pires - Agência UFRJ de Notícias - Praia Vermelha

O primeiro filme do projeto “A saúde, a educação e o diferente”, sob a coordenação de Elizabeth Castro, do Forum de Ciência e Cultura da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) foi exibido ontem, 7 de agosto, no Salão Moniz de Aragão. “O homem elefante” foi um dos primeiros filmes do diretor David Lynch a fazer grande sucesso. Baseia-se na história real de um paciente na Inglaterra, Joseph Carey Merrick que sofria da chamada Síndrome de Proteu.

Esta doença é caracterizada por provocar, entre outras coisas, gigantismo parcial das mãos e dos pés, tumores subcutâneos, macrocefalia e diversas anomalias cranianas e viscerais. A aparência deformada de Joseph, retratado no filme no personagem Jonh Merrick, o condenou à exclusão social, sendo agredido e humilhado em um “circo de aberrações”. Apenas quando começou a ser tratado pelo médico-cirurgião Frederick Treves, o “homem elefante” começa a ser respeitado como um ser humano e revela uma personalidade educada, com uma inteligência provada acima da média.

Após a exibição do filme, Elizabeth abriu um debate com a psicanalista convidada Margarida Cavalcanti. Junto com a platéia presente, refletiram a questão da aparência física, o peso social que isso tem na aceitação dos indivíduos na sociedade. A maneira como a mídia, ao proliferar a imagem de corpos sempre belos, influencia a satisfação das pessoas consigo mesmas, incentivando uma busca crescente pela perfeição. Mulheres em dietas constantes, homens consumindo anabolizantes em excesso.

Foi comentada a responsabilidade midiática na formação de opiniões, seu poder de moldar, em maior ou menor grau, o desejo humano. Os impactos que novos cosméticos e métodos de intervenção – como as cirurgias plásticas e as aplicações de botóx – exercem na população, podendo criar um ciclo vicioso que altera o patamar de aceitação da própria imagem.

– A mulher aplica botóx e se acostuma com a pele repuxada, lisa. E as rugas naturais, as marcas mesmo sutis do envelhecimento vão se tornando cada vez mais repugnantes aos olhos dela. Não é difícil que ela se torne escrava da aparência – explica Margarida.