• Edição 092
  • 02 de agosto de 2007

Notícias da Semana

O aquecimento global na história do capital


Stéphanie Garcia Pires – Agência UFRJ de Notícias - Praia Vermelha

Integrando o projeto “Ciência às Seis e Meia” organizado pela Casa da Ciência da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), foi abordada nessa quarta-feira, 1 de agosto, a palestra “Conseqüências econômicas, políticas e sociais das transformações do meio ambiente no século XXI”, por Sérgio Besserman Vianna, economista e professor na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ).

Sérgio comentou o relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças do Clima (IPCC) liberado este ano, no qual foi constatada a grande contribuição do homem para o aquecimento global. Para tanto, avaliou as alterações climáticas da Terra contextualizadas na história do capital, nos padrões de consumo e nos modelos de produção atuais. E afirmou que a economia, a sociabilidade, a política e mesmo o pensamento devem mudar radicalmente, e que as ações humanas nunca foram tão decisivas para o futuro como agora.

O professor explicou o mecanismo do efeito estufa, um fenômeno natural que garante a retenção de calor suficiente para a existência da vida no planeta, mas que se tornou um problema principalmente a partir da Revolução Industrial. Este processo foi intensificando a concentração de gases na atmosfera e quebrou com o equilíbrio do aquecimento da Terra. Os processos produtivos vigentes na economia são responsáveis pela emissão excessiva de gás carbônico, metano e óxido nitroso, seja a partir da produção e uso de combustíveis fósseis, na destruição de matéria orgânica, por exemplo, com a queima de vegetações, ou na concentração de aterros sanitários.

Foi a partir de 1970, segundo o economista, que as alterações climáticas começaram a se intensificar. Além de uma explosão demográfica, o capitalismo, com o seu padrão de produção e consumo, aumentou o impacto ambiental causado por esta população crescente. Quanto maior o consumismo, maior o gasto de energia, maior a emissão de gases e maior a temperatura global.

A principal observação de Sérgio foi para a responsabilidade de todos os países em criar planos de alteração do estilo de vida em geral. É preciso mudar a política, a economia, os hábitos da população e o pensamento efetivamente e agora. Faz-se necessária uma conscientização de que a natureza que está sendo destruída é aquele da qual o homem depende inteiramente para sobreviver. Humanismo e ambientalismo devem ser processos de atuação conjunta.

O economista apontou ainda três cenários previstos pelos cientistas do IPCC. O mais radical indica uma elevação da temperatura média da Terra em 1,1°C em 100 anos, considerando o fim da intervenção do homem, ou seja, sua extinção. Manter os padrões vigentes de produção e consumo significa um aquecimento médio de 6,4°C no mesmo intervalo de tempo, um cenário de conseqüências arrasadoras para a população global. E, apontado como situação mais provável, considerando uma mudança imediata para ações de desenvolvimento sustentável e mais ecologicamente corretas, o planeta sofreria um aumento médio de 3°C.

Nesse último cenário, as conseqüências seriam graves, porém, passíveis de soluções, prejudicando principalmente as populações mais pobres. Isso envolveria a expansão das áreas desertificadas, a aceleração da perda das florestas, a diminuição da produtividade, impactos na saúde humana, o agravamento da crise na biodiversidade, da crise dos recursos hídricos, e a ocorrência de eventos climáticos extremos. A elevação média do nível do mar, prevista para ser de 20 a 60 cm — ou ainda, se considerado o derretimento dos mantos de gelo na Groenlândia e na Antártica, de 20 cm a 1,4 m — será um fator importante, haja vista que grande parte da população vive em áreas costeiras.

Para evitar o pior, Sérgio diz ser imprescindível mudar a matriz energética e reduzir outros constituintes de caráter ecológico-destrutivos do capitalismo. Principalmente, essa mudança deve ser global. Os países precisam saber abrir mão da corrida desenfreada pelo desenvolvimento e encontrar alternativas sustentáveis, que preservem a natureza em que todos os homens convivem.