• Edição 089
  • 12 de julho de 2007

Microscópio

Uma revolução átomo por átomo

Philippe Noguchi – Agência UFRJ de Notícias – Centro de Tecnologia

Durante décadas ou até séculos, toda a tecnologia desenvolvida pela humanidade foi concebida em escala macroscópica. Essa tecnologia foi sofisticando-se com o tempo, permitindo que as máquinas, ferramentas e dispositivos ficassem cada vez menores e com maior precisão. Os que viveram as últimas décadas do século XX puderam presenciar o alvorecer de uma revolução tecnológica, com o surgimento da microtecnologia. A aplicação da eletrônica em escala microscópica possibilitou o surgimento dos circuitos integrados, os chips, configurando uma completa transformação do mundo, em termos de praticidade e de velocidade de processamento; uma verdadeira guinada para a informática e o desenvolvimento das telecomunicações.

No entanto, uma revolução ainda maior vem acontecendo hoje, discreta e silenciosamente. Com o desenvolvimento das técnicas laboratoriais, o homem alcançou o poder de manipulação de materiais em nível atômico, caracterizando o nascimento da nanotecnologia. Essa tecnologia compreende o controle, processamento e fabricação de estruturas e dispositivos em escala nanoscópica, ou seja, numa escala 1 bilhão de vezes menor que o metro.

O assunto é certamente de grande relevância para debates entre a comunidade científica e será tema da 2° Escola de Nanociência e Nanotecnologia da UFRJ, a ser realizada entre os dias 30 de julho e 3 de agosto, no auditório da COPPE, no Centro de Tecnologia. A Escola é coordenada pelo professor Sérgio Camargo, membro do departamento de Engenharia Metalúrgica e de Materiais da COPPE e da Escola Politécnica.

Uma nova fronteira para a ciência

O professor afirma que o controle de materiais a nível nanoscópico, ou seja, de um pequeno número de átomos, já foi alcançado. A vantagem em tal conquista está, segundo ele, no comportamento que esse conjunto de átomos adquire quando manipulado nesta escala, possibilitando a obtenção de propriedades, efeitos e fenômenos impossíveis em escalas maiores como a microscópica ou macroscópica. No entanto, o professor afirma que a diferença mais essencial da nanotecnologia é a sua aplicabilidade em todas as áreas.

- O que a microtecnologia fez transformou a cara do mundo, mas foi uma aplicação limitada, que abrangia somente a informática, as telecomunicações e o processamento de dados. A nanotecnologia, por sua vez, também pode ser aplicada nas áreas médica, biológica, física, de alimentos, nas engenharias, além da área de fármacos - cuja aplicação é imensa.

Possibilidades da nova tecnologia

Uma das possibilidades mais fantásticas da nanotecnologia reside nos denominados “medicamentos inteligentes”. Considera-se no meio científico, a possibilidade de se construir cápsulas muito pequenas para conter o medicamento, capazes de liberar a droga de acordo com sua interação com o meio. Essa tecnologia seria válida para doenças que requerem uma utilização contínua do medicamento por parte do paciente.

- Pode-se imaginar um medicamento que, por meio desta cápsula minúscula, somente liberasse insulina quando a pessoa precisasse. O grande problema do diabetes está justamente no inconveniente de verificar os níveis de insulina a todo momento. Esse dispositivo traria, além de muita comodidade, uma segurança sem precedentes para os doentes. O mesmo conceito poderia ser aplicado às vitaminas, eventualmente -, afirmou Sérgio.

O professor acredita, entretanto, que a melhor aplicação da nanotecnologia está na engenharia de materiais. Explica que é possível aplicar essa tecnologia diretamente na concepção da estrutura do material. Átomo por átomo, é possível construir sua estrutura a fim de atribuir-lhe as propriedades desejadas, como determinado grau de condutibilidade térmica/elétrica, elasticidade, entre outros. Sérgio afirma que a nanotecnologia não se resume a criar novos materiais, como também aprimorar os convencionais. Garante que hoje em dia já são realizados muitos estudos em relação ao concreto e asfalto, por exemplo, a fim de torná-los mais econômicos, resistentes. Essas transformações significariam uma economia incontável para o país em obras públicas.

A 2° Escola de Nanociência e Nanotecnologia, se propõe a discutir esse assunto de forma aprofundada e didática. Tem por principal objetivo divulgar e disseminar a nanotecnologia dentro da universidade, a fim de agregar o maior número possível de pessoas das mais diversas áreas de atuação e identificar interesses em comum, sempre destacando seu caráter multi e interdisciplinar. 

- Não temos a pretensão de cobrir toda a nanotecnologia, pois realmente é um tema muito abrangente. Nosso propósito é atrair a atenção dos estudantes para o assunto, incentivar a pesquisa, incentivar parcerias e trabalhos conjuntos -, finaliza Sérgio.