• Edição 088
  • 5 de julho de 2007

Saúde e Prevenção

"Doença do gato" traz riscos à saúde

Mariana Mello

Quase sempre associada aos pombos, cachorros e gatos, a toxoplamose  – chamada também por “doença do gato” -  representa sérios riscos de infecção para mulheres grávidas. Ainda hoje a doença é pouco conhecida pela população. Afinal, no que consiste exatamente a toxoplasmose? Como ela é transmitida e, mais importante, como pode ser prevenida?

Essas questões, cruciais para a saúde pública, foram explicadas pelo professor Ricardo Pereira Igreja, do departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da UFRJ. Segundo o médico infectologista, a toxoplasmose é uma doença infecciosa causada pelo protozoário Toxoplasma gondii e tem características muito variáveis. Existem várias formas de transmissão e de manifestação, fato que muitas vezes dificulta sua prevenção e seu diagnóstico.

Primeiramente, é necessário explicar o papel dos animais no ciclo biológico do protozoário causador da toxoplasmose. Segundo Ricardo Igreja, os gatos são os hospedeiros definitivos do microorganismo, pois neles ocorre sua reprodução sexuada. Os oocistos eliminados pelas fezes do gato entram em contato com o solo e o contaminam. Essa é uma das formas de transmissão para a qual devemos ficar bem atentos: afinal, para corrermos risco de contaminação, basta dividir o mesmo espaço com os gatos.

Além dos gatos, toda a família dos felídeos é considerada transmissora do parasita Toxoplasma gondii, contudo os gatos se tornam foco da atenção humana por serem animais domésticos. Já dos cachorros não é preciso ter medo: eles são hospedeiros intermediários, assim como o homem – ou seja, não são eliminadores fecais e não transmitem a doença. Em se tratando dos pombos, a possibilidade de contágio é quase nula: mesmo os animais doentes eliminam o protozoário só pela secreção dos olhos. Apenas um contato muito próximo com a ave possibilitaria a transmissão.

Quanto aos suínos, bovinos e caprinos, é necessário ter cuidado. A carne crua, mal-cozida ou mal-passada desses animais abriga os cistos do toxoplasma. Além dessa forma de transmissão, a toxoplasmose também é contraída pela ingestão de água e alimentos, principalmente verduras, contaminados pelo microorganismo.

Os transplantes de órgãos e as transfusões sanguíneas, segundo o professor infectologista, também são uma maneira, ainda que remota, de transmitir a toxoplasmose. Mas a forma mais perigosa é a transmissão vertical – quando a mãe passa a doença para o feto ainda na gestação.

A toxoplasmose congênita pode trazer conseqüências bastante graves para a criança, que dependem da atuação de seus anticorpos na gravidez e da sua exposição aos toxoplasmas. Entre as possíveis seqüelas estão a catarata congênita, cegueira, calcificação cerebral ou mesmo manifestações de retardo mental.

De acordo com Igreja, a prevenção da toxoplasmose para indivíduos imunocompetentes – ou seja, aqueles que têm a saúde normal – consiste na preocupação com a higiene básica pessoal e com os alimentos: cozinhar bem as carnes, lavar bem as verduras, frutas e legumes, além de evitar o contato com fezes dos animas contaminados. Já os imunocomprometidos, que têm a saúde debilitada por alguma infecção, como por exemplo, os soropositivos ao vírus HIV, devem tomar mais cuidado. Nas fases de queda de imunidade, a incidência oportunística da toxoplasmose é alta.

A manifestação da infecção pode ser silenciosa, o que dificulta sua detecção. Em indivíduos saudáveis, muitas vezes ela é assintomática, mas também ocasiona febre e surgimento de gânglios e ínguas. Nesses pacientes, o tratamento é simples e quase sempre evolui favoravelmente.

Contudo, nos pacientes comprometidos um quadro latente pode ser reativado subitamente, tornando a infecção aguda e grave. Por isso, nesses indivíduos o tratamento da toxoplasmose é obrigatório e com duração indeterminado. “Em estágio muito avançado, a doença pode acarretar lesões no cérebro e até a morte”, conclui Ricardo.