• Edição 088
  • 5 de julho de 2007

Microscópio

A pressa é inimiga da elocução

Cinthia Pascueto

Os distúrbios da fala podem trazer incômodo e constrangimento a quem os apresenta. Transtornos como gagueira, taquilalia e taquifemia prejudicam a fluência e conseqüentemente a comunicação e a inteligibilidade do discurso, sendo necessárias sessões de fonoaudiologia para tratá-los. Estes assuntos vão ser abordados no I Fórum Científico do Instituto Brasileiro de Fonoaudiologia (IBF), realizado em parceria com a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), no dia 17 de agosto, no auditório matriz do Centro Auditivo Telex, em Botafogo.

Leila Nagib explica que o Fórum Científico conta com a participação de especialistas de diversos estados. “Iremos tratar da visão da neurociência para os transtornos da fala, sobre as particularidades da gagueira, da taquilalia e da taquifemia, criando parâmetros de comparação entre eles. Por exemplo, podemos citar a aceleração do ritmo e a taxa de locução - que é diferenciada em relação a pessoas que não tem o transtorno - como pontos de semelhança. É necessário, portanto, definir e discriminar um e outro para poder dar o diagnóstico”, revela a professora, que completa: “o evento é dirigido tanto para profissionais quanto para pessoas com esses distúrbios ou que tenham interesse pela área. Nele, iremos desmistificar todas as questões pré-concebidas que as pessoas têm sobre a Fluência”.

Entre os assuntos a serem questionados durante o evento está a chamada "Fala rápida", expressão popular para os distúrbios de taquilalia e taquifemia, muitas vezes confundida com a gagueira. Essa confusão se dá na medida em que há o acréscimo da taxa de elocução (velocidade de fala), aumentando também o número de hesitações ou disfluências no discurso. Segundo Leila Nagib, professora da Faculdade de Fonoaudióloga da UFRJ o taquifêmico não se dá conta de sua locução acelerada, por isso não sofre com seu processo de fluência. “Já a gagueira é uma fala que apresenta bloqueios e repetições provocando muito sofrimento à pessoa. Assim, é muito comum que o gago procure por si mesmo um tratamento fonoaudiológico, enquanto pessoas com taquifemia ou taquilalia procuram esses serviços por sugestão de terceiros”, acrescenta.

Existem diferenças básicas também entre taquilalia e taquifemia. A primeira apresenta uma taxa elevada de articulação, suficientemente intensa para prejudicar a inteligibilidade da mensagem. Não ocorre aumento significativo no número de disfluências comuns ou gaguejadas. Também não estão presentes outras alterações de linguagem, como dificuldades sintáticas ou de macroestruturas textuais, conhecidas como discurso confuso, como acontece na taquifemia. “A taquilalia é a fala acelerada somente. Porém, se for diagnosticado essas outras alterações no paciente, o quadro será então de taquifemia” aponta a fonoaudióloga.

A taquifemia além de apresentar uma fala acelerada, é caracterizada também por supressão de sílabas e até mesmo de palavras, podendo manifestar esses traços na escrita. Segundo Leila, o radical grego “taqui”, que significa aceleração, rapidez, geralmente descreve o comportamento do paciente taquifêmico. “Essas alterações, chamadas omissões fonológicas, podem revelar um comportamento no dia-a-dia mais acelerado. Além de tudo, o taquifêmico também transfere essa característica para a escrita, o que torna a letra e o texto também incompreensíveis”, evidencia a professora.

Segundo a fonoaudióloga, a taquifemia tem sido uma característica notada também em crianças, o que não era muito comum até pouco tempo. Acredita-se que essa ocorrência é devida à maior divulgação de transtornos de comportamento, principalmente, do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH). “Atualmente os estudos desse transtorno apresentam a taquifemia como uma peculiaridade do déficit da atenção, que já pode ser detectado na infância. Isso explica porque temos hoje um público de crianças taquifêmicas por conta desse encaminhamento do TDAH”, pondera a especialista.

Para o diagnóstico da taquifemia, avalia-se a fluência da fala em si, a existência de alterações fonéticas, distorções ou substituições na articulação, o processo de respiração junto à fala, alteração de deglutição e da linguagem. A professora conta que o tratamento é realizado com exercícios locutórios, para que ele passe a falar dentro de um padrão de locução normal, e que, dessa forma, as pessoas possam compreendê-lo. “Para isso, é necessário um acompanhamento freqüente de fonoaudiologia, com sessões de uma a duas vezes por semana. É oportuno acrescentar que existe uma clínica, do curso de fonoaudiologia da UFRJ, onde os alunos do último período atendem sob a minha supervisão e a da professora Juliana Pereira. Temos tanto atendimentos em grupo para taquifêmicos, gagos, crianças, adolescentes e adultos, quanto individuais. Esse serviço é oferecido às terças-feiras, de 8 às 17h, no Instituto de Neurologia Deolindo Couto (INDC), no campus da Praia Vermelha”, recomenda.

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