• Edição 086
  • 21 de junho de 2007

Microscópio

A Neurociência hoje

Cinthia Pascueto

A Neurociência tem mostrado sua importância no meio científico atual, ao estabelecer uma aproximação entre a psiquiatria e a neurologia, permitindo que se conheça melhor o funcionamento do cérebro dos pontos de vista biológico e neurológico. Esse fato ampliou o número de campos de investigação científica relacionadas ao cérebro. Segundo o psiquiatra Paulo Mattos, professor adjunto da Faculdade de Medicina da UFRJ, esta ainda é uma área de atualização relativamente nova. “O cérebro é muito difícil de ser investigado em relação a outros órgãos por uma razão simples, ele está dentro de uma caixa óssea que o torna de difícil acesso ao estudo”.

O professor destaca que o curso de Neuropsicologia mais antigo do Brasil, inaugurado em 1995, é o do Centro de Estudos de Neuropsicologia Aplicada (CNA), “algo inédito no país, que até mesmo o Conselho Nacional de Psicologia desconhecia na época. A neurociência é responsável pela avaliação das funções mentais através de testes de tarefas especificas que dão um resultado quantitativo, é uma pena porém que o Rio de Janeiro não oferece a mesma estrutura financeira para pesquisas que outros estados, como São Paulo e Rio Grande do Sul, por exemplo”, lamentou o psiquiatra.

Para dar mais abrangência ao tema, o Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IPUB/UFRJ), organizou o Simpósio de Neurociências, coordenado pelo psiquiatra Paulo Mattos e pelas psicólogas Angela Alfano e Catia Araújo do CNA. O evento acontece no dia 30 de junho, no Forum de Ciência e Cultura da UFRJ e se propõe a discutir as funções cerebrais de acordo com as variadas maneiras de entender e investigar este órgão vital.

O simpósio possui um caráter multidisciplinar, envolvendo profissionais de áreas médicas consideradas distintas. Apesar de ter como público alvo médicos, cientistas, psicólogos e estudantes da área da saúde, o coordenador do evento defende a participação de outras categorias profissionais, como fonoaudiólogos, lingüistas e até mesmo do campo das exatas. “Quando visitamos um Centro de Pesquisa, raramente encontramos apenas uma categoria profissional trabalhando. È muito comum o envolvimento de pessoas de áreas às vezes muito distantes num mesmo projeto. Na UFRJ, por exemplo, existem pesquisas que são feitas com engenheiros, psicólogos e matemáticos, em programas como inteligência artificial”, compara o professor.

De acordo com Mattos, a atualização em aspectos biológicos das doenças psicológicas é um tema inovador frente às dificuldades encontradas no estudo do cérebro. “Este é um órgão com muitas regiões minúsculas, além de estar envolvido por uma carapaça óssea. Não tem como fazer uma abertura na caixa craniana ou usar uma sonda para estudar o cérebro sem provocar uma lesão no indivíduo. Apenas recentemente, com as técnicas de tomografia computadorizada, ressonância magnética e espectroscopia que se tornou possível saber o que acontece nessa região e desenvolver estudos com base nos novos métodos de investigação.”,disse o especialista.

Ele explica ainda que hoje já existem inovações como análise de imagens cerebrais para, por exemplo, averiguar se uma testemunha está falando a verdade ou não. “Este é um mecanismo empregado pela justiça que, antes eram feitos com aparelhos que mediam a tensão na pele. Em outras circunstâncias você pode avaliar a capacidade de um indivíduo para tomar determinada decisão, os motivos biológicos que levam as pessoas a optar por uma escolha ao invés de outra, e um mundo de coisas muito interessantes. Principalmente as relacionadas às emoções, porque hoje já temos meios de visualizar o comportamento cerebral nessas manifestações”, afirma Mattos.

O professor conclui fazendo um apanhado do que vai ser abordado no Simpósio de Neurociências. “Vamos discorrer sobre comportamento humano, sob a ótica de tudo aquilo que acontece no cérebro, de acordo com vários pontos de vista de neurofisiologia, neuroimagem, psiquiatria, e isso permite um conceito diferente do que tínhamos até pouco tempo. Antigamente, como não era possível investigar o cérebro em profundidade em relação a esses segmentos, eram as teorias psicológicas, filosóficas e antropológicas que cooperavam para sua definição. Faltava, contudo, a contribuição da biologia e da fisiologia. É essa nova participação que será discutida no Simpósio”, define o psiquiatra.