• Edição 086
  • 21 de junho de 2007

Notícias da Semana

Conhecimento em via de mão dupla entre Maré e UFRJ

Mariana Mello

O projeto do Núcleo Interdisciplinar de Ações para a Cidadania (NIAC), elaborado pela Pró-reitoria de Extensão, foi implantado ontem, dia 20 de junho, e suas atividades se iniciam daqui a cinco dias. A cerimônia de inauguração, que aconteceu no prédio da PR-5, anexo à Prefeitura Universitária, campus do Fundão, contou com a presença do reitor da UFRJ, Aloísio Teixeira, que considera a iniciativa uma grande troca de experiência entre a universidade e as comunidades carentes próximas a ela, mais especificamente a comunidade da Maré.

– Esta experiência é uma via de mão dupla: o conhecimento que nós geramos é transmitido à comunidade, mas ela tem muito mais coisas a nos ensinar. Nosso saber é apenas um dentre as diversas formas existentes. Sempre fomos muito fechados e vaidosos em relação às nossas conquistas – fossem elas da ciência, do ensino ou da tecnologia – como se vivêssemos em uma torre de marfim, não dando a devida importância à comunidade que nos cerca – explicou o reitor.

O conhecimento ao qual se refere o reitor, que será passado à comunidade pelo NIAC, é transdisciplinar, resultado da integração de quatro centros da UFRJ: a Faculdade de Arquitetura, a Escola de Serviço Social, o Instituto de Psicologia e a Faculdade Nacional de Direito (com convênio com a OAB). O projeto, apoiado pela Petrobrás, conta com escritórios-modelo das diferentes áreas, que atenderão às pessoas de comunidades pobres em torno no campus da Ilha do Fundão. Os setores são distintos: a ESS, por exemplo, pretende concentrar suas atenções nos egressos do sistema penitenciário, enquanto a FAU visa atender, ao menos no início, demandas coletivas e tentar solucionar a questão da melhoria do espaço público, dando subsídios às reivindicações dos moradores da Maré.

Além disso, o NIAC também estruturou o Laboratório de Inclusão Digital, que objetiva, segundo os idealizadores, promover a capacitação dos jovens carentes para utilizarem recursos de informática, fazendo com que surjam novas oportunidades e que sejam absorvidos pelo mercado de trabalho cada vez mais exigente. A coordenadora Eblin Farage assegurou que os alunos receberão apostilas e, ao final do curso, um diploma de conclusão concedido pela UFRJ:

– O laboratório de inclusão digital atenderá, inicialmente, os funcionários terceirizados do Cenpes e os moradores da Comunidade da Maré, que serão avisados pelas instituições comunitárias parceiras sobre as inscrições. O curso está previsto para o início de julho e os alunos lidarão com o pacote básico (Windows, Word, Excel, Powerpoint e Internet). No fim do curso, receberão um diploma concedido pela UFRJ. Também haverá um horário para que moradores da comunidade que já conhecem informática usem os equipamentos para fins de pesquisa, acompanhados de monitores. Ainda pretendemos montar estruturar cursos de informática para portadores de necessidades especiais e para terceira idade.

Ao lado do reitor, que classificou o NIAC como “o mais significativo e simbólico evento da primeira gestão” – que acaba em duas semanas, esteve presente a pró-reitora de extensão da UFRJ, a professora Laura Tavares. Ela enfatizou o caráter de permanência do projeto:

– Além de fazer um enorme esforço para integrar os projetos de extensão da universidade, também não podemos deixar de articulá-los à sociedade civil e às entidades governamentais. Assim estamos criando uma rede de políticas públicas permanente. Este não é apenas mais um projeto, mas sim o começo de uma tentativa de que a universidade cumpra seu papel social – disse Laura. Para ela, essas atividades da extensão resumem a atual política da UFRJ, que tenta construir uma nova identidade, e permite o enriquecimento da formação dos alunos.

Presença igualmente importante foi Marcos Silva, professor da FND e coordenador do NIAC. Ele afirmou que é necessário não rotular o projeto como assistencialista, mas sim classificá-lo como uma iniciativa pedagógica de formação diferenciada e, representando toda a equipe que organizou e trabalhou para que o NIAC se concretizasse, confessou estar muito feliz. “É o início de um trabalho duradouro, intenso e muito proveitoso”, acrescentou.

Estiveram presentes ainda o presidente da seção do Rio de Janeiro da Ordem de Advogados do Brasil, Wadih Damous, e o gerente de comunicação do Centro de Pesquisas da Petrobras (Cenpes), João Norberto Noschang. Damous disse estar honrado de celebrar o convênio com a UFRJ e lembrou que essa era uma de suas promessas de campanha durantes as eleições da entidade. “Para nós, isso simboliza o que é a OAB: não somos uma entidade meramente corporativa, que só representa os advogados. Temos nossa história e tradições, somos parte da sociedade civil”. Wadih ainda garantiu que a advocacia é um exercício profissional útil à cidadania e que a entidade pôs à disposição do NIAC “o que tem de melhor, tanto em termos humanos, com profissionais capacitados, e materiais”.

Representando o governo estadual, compareceu à abertura do NIAC o ouvidor da Secretaria Estadual de Assistência Social e Direitos Humanos, Marco Antonio Fonseca da Costa, que congratulou a iniciativa e prometeu estabelecer novas parcerias e reuniões de trabalho que dêem continuidade aos projetos sociais.