• Edição 085
  • 14 de junho de 2007

Saúde em Foco

Grupo monta 'manual de instruções' do DNA

Estudo analisa 1% do genoma humano para ver como material genético funcioa. Surpresas incluem fato de que todas as 'letras' químicas parecem ter função.

Um grupo internacional de cientistas conseguiu decodificar de forma precisa o funcionamento de 1% do genoma humano, no que seria "o projeto de maior envergadura desse tipo" depois do seqüenciamento do DNA do homem.

Um total de 35 grupos de trabalho de 80 organizações de todo o mundo tomou parte no estudo, no marco do Projeto Encode ("Enciclopédia de Elementos de DNA").
Os grupos contribuíram com 200 séries de dados, e foram selecionadas 44 regiões distintas (partes dos cromossomos) do DNA humano, o que compreende, aproximadamente, 1% de toda a seqüência.

O cientista espanhol Roderic Guigó, membro do Centro de Regulação Genômica (CRG) e um dos responsáveis pelo trabalho, explicou que o projeto, aliado a outros 28 estudos da revista especializada "Genome Research", tornou possível enxergar "com a maior nitidez conseguida até o momento" uma porção substancial do genoma humano.

Segundo ele, antes da realização da pesquisa, já haviam sido analisados, em detalhes, alguns genes concretos, vinculados a certas doenças. "Mas nunca uma extensão tão considerável do genoma", afirmou.

Nesse 1% do código genético humano, no qual a maioria das regiões foi selecionada ao acaso (embora uma pequena parte seja correspondente a genes vinculados a doenças), foram identificados cerca de 470 genes. O trabalho foi centrado na elaboração do mapa concreto de onde estão os genes e que forma têm, "porque contam com muitas formas alternativas".

"Um mesmo gene pode dar origem a proteínas distintas, dependendo de como sejam combinadas as diferentes regiões", detalhou o cientista. A idéia é localizar as regiões funcionais do genoma humano, "as partes com influência na determinação das características biológicas dos seres vivos".

"Os cientistas não sabem muito bem como ler essas instruções, e quais regiões do genoma são as que realmente codificam as instruções. Com esse trabalho, tentamos entender como é, em detalhes, pelo menos 1% do genoma humano", disse.

Os resultados do trabalho revelaram surpresas, segundo Guigó. Uma delas seria que "a maior parte do genoma tem atividade". Isso elimina a idéia de que uma grande parte do DNA seria "inútil", sem função alguma. (O termo para designar essa área excedente do genoma é "DNA-lixo", hoje considerada uma expressão errônea pelos cientistas.) "Descobrimos que muitas regiões do genoma são mais ativas do que pensávamos, embora suas funções sejam desconhecidas", afirmou.

Outra das surpresas que o estudo revelou foi a comprovação de que "essas regiões" do genoma que foram analisadas estão intensamente interconectadas. Segundo Guigó, os estudiosos pensavam que os genes se relacionavam "como as contas de um colar", com as fronteiras entre eles sendo definidas e delimitadas. Dessa vez, no entanto, os cientistas perceberam que, às vezes, é difícil distinguir alguns genes de outros, porque eles se sobrepõem e podem, inclusive, formar conjuntos.

Portal G1
http://g1.globo.com/Noticias/Ciencia/0,,MUL51720-5603-71,00.html
13/06/2007 - 17h04