• Edição 081
  • 17 de maio de 2007

Por uma boa causa

Antraz: arma de destruição em massa mais eficiente que se conhece


Tainá Saramago

E para dar continuidade a série de doenças de notificação compulsória, o Olhar Vital traz uma das doenças mais temidas atualmente. O personagem principal das guerras biológicas, o Carbúnculo, popularmente chamado de Antraz.

O Carbúnculo hemático, antraz ou ainda antrax é uma doença infecciosa aguda provocada pela bactéria Bacillus anthracis e a sua forma pulmonar é altamente letal. O Antraz é uma doença comum dos animais herbívoros, quer dos selvagens quer dos domésticos, mas também pode afetar os seres humanos que sejam expostos a animais infectados, tecidos de animais infectados ou elevadas concentrações de esporos de carbúnculo. Um esporo pode durar séculos no solo e a partir dele ocorrer a regeneração da bactéria.

Existem três tipos de Antraz. A infecção gastrointestinal por carbúnculo provoca sérias conseqüências como, vômitos sanguíneos e diarréia. Se não for tratada leva à morte em cerca de 25% a 60% dos casos. A infecção cutânea provoca um conjunto de abscessos negros asquerosos, normalmente concentrados num ponto negro que se forma uma semana ou duas após a exposição. Diferente de outras lesões a forma cutânea do anthrax não causa dor. Essa infecção é a menos mortal de todas, se não for tratada, leva a morte em 20% dos casos. Se for tratada, quase nunca chega ao óbito. A infecção pulmonar provoca, nos primeiros dias, sintomas semelhantes aos da gripe, seguidos de problemas respiratórios graves, por vezes fatais. A bactéria produz uma toxina que causa edema pulmonar. Se não for tratada, a infecção por inalação é a mais mortal, com uma taxa de mortalidade de aproximadamente 100%.

Segundo o professor Fernando Portela, Chefe do Setor de Epidemiologia, do Instituto de Microbiologia da UFRJ, prevenir o Antraz é muito difícil. “O que existe é um antibiótico que foi o primeiro testado especificamente no tratamento do Carbúnculo. É a ciprofloxacina, conhecida aqui como Cipro. Esse antibiótico foi muito utilizado na Guerra do Golfo. A vacina contra a doença existe, chama-se Biothrax. Ela foi testada nos EUA, porém só é utilizada em pessoas que ocupam cargos de risco real de contaminação. Ela é muito cara para ser distribuída para população. E as máscaras que as pessoas viram os americanos utilizando para se prevenir só são eficazes se possuírem filtros do tipo EPA”, explica o professor.

Se algum diagnóstico ou apenas a suspeita de um caso de Antraz foi encontrado. O médico é obrigado por lei a notificar a Vigilância Sanitária, para que a mesma possa isolar o foco da doença e evitar um grande estrago. E ao contrário do que a maioria das pessoas pensa o Carbúnculo não é uma doença que ocorre apenas em guerras biológicas ou em ataques de bioterrorismo. Existem casos esporádicos de contaminação no Brasil e na América Latina sem a ligação com ataques.

Guerra Biológica e Bioterrorismo

Segundo o professor, o esporo do Antraz é uma forma de resistência que é muito fácil de ser produzida, de ser armazenada em temperatura ambiente e não precisa de laboratórios sofisticados para ser preparado e armazenado. Por isso ele é tão utilizado nas Guerras Biológicas e no Bioterrorismo.

Ele começou a ser utilizado como arma biológica pelos russos e americanos. Os EUA são os que possuem a melhor técnica para ataques biológicos. “Essa técnica consiste em misturar uma substância química para que o esporo se transforme num pó bem fino, que se lançado no ar, fica muito tempo em suspensão e as pessoas acabam o respirando. Gerando a doença Pulmonar, quase 100% letal. O maior segredo do preparado militar é o pó, pois é preciso que cada esporo fique isolado um do outro para aumentar a eficiência da infecção. Na forma natural os esporos se juntam, formando grupos e essa apresentação não é muito eficiente para a infecção”, afirma o especialista.

Outra vantagem da utilização do Carbúnculo militarmente é que ele não é contagioso, infectando apenas os lugares escolhidos. Segundo o professor, todos os estrategistas militares do mundo são unânimes em afirmar que essa é a arma de destruição em massa mais eficiente que se conhece.

- Cinqüenta quilos desse pó contaminado jogado de um aviãozinho com um pulverizador num raio de dois quilômetros numa cidade, tem o mesmo poder de destruição de uma bomba atômica do tamanho da que foi jogado em Hiroshima. Esse dado foi referendado por experimentos simulados da Organização Mundial de Saúde -, conclui Portela.