• Edição 079
  • 03 de maio de 2007

Argumento

A gordura trans e o alerta para gestantes

Mariana Borgerth, da Agência UFRJ de Notícias - Praia Vermelha

Biscoitos doces, salgadinhos de pacote, margarina, batata e outros alimentos fritos. Todas essas guloseimas são ricas no mais novo vilão da nutrição: a gordura trans, que passou a ser utilizada pela indústria alimentícia a partir da década de 80 para dar mais gosto, tornar mais crocante e até mesmo para aumentar o prazo de validade de alguns alimentos.
Hoje, se sabe que o consumo de gordura trans é prejudicial à saúde de qualquer indivíduo já que possui um efeito mais danoso do que o conhecido colesterol ao aumentar o índice de LDL, conhecido como a gordura ruim do sangue que conseqüentemente aumenta o risco de complicações cardíacas. Essa situação se torna ainda mais preocupante quando se trata de gestantes.
Tanto o organismo da mãe como o do bebê precisam de gordura, mas o consumo tem que ser feito de forma controlada. No caso da formação dos bebês, a gordura é usada, por exemplo, no desenvolvimento cerebral. Nesse sentido é durante o último trimestre que acontece o amadurecimento das conexões nervosas da criança, processo que continua mesmo depois do nascimento.

Porém a doutora Neuza Sampaio, nutricionista da Maternidade Escola da UFRJ, alerta que o consumo muito grande da gordura pode chegar a comprometer, por exemplo, a memória e a visão do bebê. Isso é o que já foi comprovado, segundo a doutora Neuza em pesquisas realizadas com animais. “As possíveis conseqüências de uma alimentação irregular são notáveis durante o desenvolvimento da criança, como por exemplo na fase escolar. Basta pensar nos números de repetências e desistências que existem nas escolas. Não necessariamente é uma simples dificuldade, as origens do problema podem estar nas primeiras etapas da vida”, afirmou a doutora.

A doutora Neuza Sampaio alerta para a importância de se ter atenção na escolha dos alimentos, na forma como são preparados e nas quantidades ingeridas porque esses hábitos exercem uma influência direta sobre a saúde. “Ao elaborarmos um cardápio devemos variar as cores, as texturas e os sabores, pois desta forma todos os nutrientes tendem a ser consumidos e o cardápio fica mais agradável visualmente e saboroso”, afirmou a doutora.

Na maioria dos casos não existe uma dieta especial para as gestantes. A nutricionista explica que a orientação que as mulheres recebem é fazer uma alimentação variada à base de vitaminas, minerais, proteínas, gorduras, fibras, água e carboidratos. Tudo na medida certa para fornecer à mãe e ao bebê quantidades adequadas e balanceadas de nutrientes. Segundo a doutora Neuza, o acompanhamento e a orientação que se dá às gestantes é feita de forma individual e tem como ponto de partida o peso, a altura e o período da gestação.

A maior dificuldade para algumas mulheres é passar a ter o hábito de comer frutas e verduras. “Existem pessoas que adoram, mas algumas não gostam muito do plano alimentar em um primeiro momento, mas depois de conversar e de passarem a se sentir melhor, se adaptam à nova rotina.” A especialista lembra que os hábitos adquiridos nesse momento devem ser seguidos também depois do nascimento da criança.

Durante o período de aleitamento, a alimentação do bebê deve ser feita apenas com o leite materno, que é considerado uma vacina natural, com elementos fundamentais para um bom desenvolvimento. A doutora Neuza lembra que é importante que a mãe continue tendo cuidado com a alimentação já que tudo o que for ingerido pela mãe será transmitido para a criança através da amamentação.

Durante todo esse período além da gordura é recomendável um controle do consumo de açúcar, carnes salgadas e produtos enlatados. “O que acontece muitas vezes é que a gestante se acostuma com a dieta e mesmo depois desse período, sente-se mais disposta e segue com os hábitos que foram adquiridos”.

A nutricionista conversa com as gestantes para que elas privilegiem a famosa “comida de casa” e para evitar o consumo de produtos industrializados, já que esses possuem uma concentração de gorduras trans. Porém o uso de óleo na comida não é proibido. O que se recomenda é que sejam usados óleos como o de oliva, girassol ou canola por serem mais saudáveis.

A equipe de nutrição da Maternidade Escola está aberta para receber a comunidade e dar orientação às gestantes sobre como encontrar esse equilíbrio entre gostos pessoais, hábitos alimentares, trabalho e saúde. O que a doutora Neuza sempre enfatiza é que o principal é fazer refeições variadas, com pequenos intervalos e não deixar de fazer o acompanhamento.