• Edição 078
  • 26 de abril de 2007

Saúde e Prevenção

Alerta de Dengue no Pan

Tainá Saramago

Os Jogos Pan Americanos de 2007 escondem por trás do clima de festa um risco real para população brasileira: um quarto tipo de Dengue. Com toda a movimentação de atletas e turistas, provenientes de países da América Latina que já possuem o sorotipo 4 circulando, como a Venezuela e a Guiana, o Brasil torna-se totalmente vulnerável à esse tipo do vírus.

Segundo o professor Roberto Medronho, coordenador didático do Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da UFRJ e Coordenador Adjunto do Programa de pós-graduação em Saúde Coletiva da UFRJ o Brasil conta com três tipos de dengue até agora (os tipos 1,2 e 3). Na década de 80, em Roraima, na cidade de Boa Vista, o tipo 4 da doença já circulou, porém felizmente, ele não se disseminou. Então, somente os habitantes de Roraima que foram infectados por esse vírus naquela época é que estão imunes ao tipo 4 da doença. O que significa que quase toda a população brasileira está vulnerável.

– Não é que o tipo 4 da dengue seja o mais perigoso ou o mais virulento, os mais perigosos costumam ser o 2 e o 3. O problema é que a maioria da população brasileira já foi contaminada com algum tipo de dengue. E se a pessoa já foi infectada antes, o risco de desenvolvimento de dengue hemorrágica numa segunda, terceira ou até quarta infecção é muito maior. Não existe um tipo de dengue que seja a hemorrágica, isso depende da virulência do tipo e de quantas vezes a pessoa já foi infectada. Tudo isso em função de reações imunológicas do próprio organismo, que podem tornar a doença mais grave. A pessoa só fica imune ao tipo de dengue que já teve e não a todos eles. Sem falar que, na maioria dos casos, a dengue ocorre com poucos sintomas ou até com nenhum sintoma, logo a maioria das pessoas já teve dengue e não sabe –, explica o professor.

Para o especialista, não há como barrar a entrada do vírus no país. O que deve ser feito é o combate ao vetor, que atualmente é ineficiente na imensa maioria dos Estados e municípios. Apenas Belo Horizonte, Manaus e Recife obtiveram êxito no combate ao mosquito aedes aegipty. “A dengue deveria ser tratada como prioridade, com o envolvimento total da população nesse combate”, afirma Medronho.

Durante o Pan, não haverá nenhuma epidemia de dengue tipo 4. Os casos de dengue aumentam no Verão, quando a temperatura é mais alta e ocorrem muitas chuvas. Como o Pan, será em Julho, no inverno, essa epidemia não aparecerá logo.

O turista ou atleta, possivelmente infectado, entra no Brasil. O mosquito aedes aegipty o pica e se contamina, e assim começa a disseminação do vírus. O mosquito pica uma outra pessoa que ficará infectada, um outro mosquito aedes aegipty que picar essa pessoa, também contrairá o vírus e assim sucessivamente. “E quando o verão chegar, se não houver um controle sério ao vetor, pode ocorrer uma epidemia explosiva de dengue no Brasil e com muitas chances das pessoas infectadas pelo tipo 4 desenvolverem a dengue hemorrágica”, afirma Medronho.

O que não pode ser esquecido, também, é a imagem no Brasil. “Se algum turista contrair algum tipo grave de dengue ou se algum atleta deixar de competir nesse Pan, porque foi infectado pela dengue, isso pode ter um reflexo muito ruim no pleito para a Copa do Mundo de Futebol de 2014. O Brasil pode perder a chance de sediar a Copa por causa da dengue”, conclui o especialista.