• Edição 074
  • 29 de março de 2007

Ciência e Vida

Fendas lábio-palatais: um problema com cura gratuita e de qualidade


Priscila Biancovilli

A fenda lábio-palatal é um problema congênito, em que a criança nasce com uma má-formação na face. Estas deformidades se caracterizam por uma abertura nos lábios, no palato (céu da boca), ou as duas ao mesmo tempo. As causas do problema ainda não são claras, mas alguns fatores podem contribuir para seu desenvolvimento, como infecções durante a gravidez, intoxicações medicamentosas e principalmente fatores hereditários.

No Brasil, cerca de cinco mil crianças por ano nascem com fenda lábio-palatal. Em média, um em cada cinco bebês nascidos vivos apresentam esta deformação. Os portadores de fendas lábio-palatais são os popularmente conhecidos como fanhos, por terem dificuldades de articular a voz.

Para tratar o caso, o cirurgião plástico Diogo Franco, do Serviço de Cirurgia Plástica do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF), idealizou Projeto Fendas, que promove atendimento gratuito aos portadores desta má-formação. Devido a uma parceria com a Colgate Palmolive, o número de cirurgias de correção de fendas lábio-palatais, dentro do projeto, deverá passar de 80 para 160 por mês.

O cirurgião plástico afirma que “a doação foi completa. Recebemos o consultório totalmente equipado, e a idéia é realmente dobrarmos nossa capacidade de atendimento, o que será bastante positivo”.

O objetivo do Projeto Fendas é oferecer um serviço gratuito e de qualidade à população carente, portadora desta má-formação. Dentro do Hospital Universitário, a cirurgia de correção da fenda é gratuita. Pessoas de qualquer idade podem se submeter a operação. “Geralmente, os pacientes mais comuns são crianças de três meses a um ano e meio de idade. Porém, pode acontecer de uma pessoa adulta, que more longe da zona urbana e não tenha tido condições de realizar a cirurgia quando jovem, também opere. Não há limite de idade”, explica Diogo.

Geralmente, o prazo de espera de um paciente preparado varia entre um a dois meses. Ou seja, a partir do momento que todos os exames pré-operatórios estiverem prontos, este é o tempo que o paciente levará para ser operado. “Comparando com a média do sistema de saúde pública no Brasil, é um período de espera pequeno”, afirma o cirurgião.

O projeto não se limita apenas a realizar a cirurgia. Existe um acompanhamento antes e depois do processo cirúrgico. Geralmente, as crianças que nascem com este problema são encaminhadas pela pediatria do Hospital, ou por indicação de familiares de outros pacientes. Depois, a criança é submetida a diversos exames laboratoriais, que prepararão para a cirurgia. Quando o paciente é finalmente operado, o projeto continua acompanhando a pessoa por longos anos, até que haja o desenvolvimento facial total. Se o paciente é bebê, as chances de uma correção satisfatória da deformidade são maiores.

Em 2005, Diogo foi premiado pela Smile Train, uma ONG sediada em Nova York. O prêmio se deveu à iniciativa do trabalho do Projeto Fendas e também pela Operação Sorriso. “Dentro desta operação, visitei vários lugares do Brasil e também fui ao Marrocos. Em uma semana de atividades intensivas em cada lugar, a equipe de cirurgiões opera em média cinco a seis crianças com fendas lábio-palatais, por dia. Semanalmente, isso dá 130 crianças por semana”, explica o médico.

Atualmente, existem mais de mil pacientes cadastrados no Projeto Fendas no HUCFF. Porém, o desconhecimento deste serviço faz com que muitas pessoas com esse problema jamais saibam que a cirurgia pode ser feita com qualidade e gratuitamente.

Para mais informações sobre o projeto, visite o site http://www.projetofendas.hucff.ufrj.br/